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Top 10 :: Negros no Oscar

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A polêmica nas indicações ao Oscar este ano não foi pouca e ainda não terminou. Também pudera. Usando a hashtag #OscarSoWhite nas redes sociais, milhares protestaram pela ausência de negros entre os nominados. E havia, sim, muitos bons papeis que poderiam ter sido contemplados. Nomes como Spike Lee, Will Smith, entre outros, já anunciaram seu boicote à cerimônia deste ano. A presidente da Academia se mostrou bem insatisfeita. Até o presidente dos EUA Barack Obama entrou na briga. Muita água ainda vai rolar sobre este assunto, então a equipe do Papo de Cinema aproveita para lembrar dez atores e e atrizes negros que já venceram o Oscar. No total foram 15 estatuetas para as categorias de atuação, o que chega a ser uma vergonha para uma festa que já tem mais de 80 edições. Confira a nossa lista!

Hattie McDaniel, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por …E O Vento Levou (1939)
Numa época em que aos negros não era permitido nem mesmo frequentar os mesmos lugares que os brancos – e estamos falando dos Estados Unidos, a tal proclamada “terra da liberdade” – Hattie McDaniel surpreendeu a todos ao se tornar a primeira pessoa de cor a ganhar um Oscar em uma categoria de atuação, por seu excepcional trabalho como Coadjuvante no clássico E O Vento Levou. E veja bem, ele concorria não apenas com estrelas consagradas como Edna May Oliver e Geraldine Fitzgerald, mas também com Olivia de Havilland, presente no mesmo filme (e vencedora em duas outras ocasiões)! Ainda que os vencedores daquele ano tivessem sido anunciados antes da cerimônia, foi um choque para a sociedade conservadora da época assistir ao discurso de McDaniel com sua estatueta nas mãos em pleno salão do Hotel Ambassador, em Los Angeles – estabelecimento, aliás, que proibia a entrada de negros, e que concedeu essa ‘exceção’ apenas após intervenção do produtor David O. Selznick. Pouco mudou para a vida da atriz após o prêmio, pois seguiu aparecendo nas telas apenas como escrava ou empregada, mas foi o início de uma pequena mudança que hoje, quase um século depois, segue sendo travada! – por Robledo Milani

Sidney Poitier, premiado como Melhor Ator por Uma Voz nas Sombras (1963)
Sidney Poitier foi o primeiro negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, colocando assim seu nome na história, não só na da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O papel que lhe garantiu tamanho êxito foi o de Homer, o protagonista de Uma Voz nas Sombras (1963), filme dirigido por Ralph Nelson, operário em deslocamento, então desempregado, que por um lance do destino se envolve na construção da nova capela de uma localidade interiorana. A vitória de Poitier veio ao encontro dos debates acalorados por direitos civis e igualdade racial que tomavam na época a sociedade norte-americana. Em agosto de 1963, ou seja, meses antes da entrega dos Oscar, Martin Luther King fez seu famoso discurso em Washington, diante de mais de 300 mil pessoas. O prêmio de Poitier, além de coroar um trabalho excepcional, totalmente digno da láurea, ampliou ainda mais a necessidade de que certas feridas estadunidenses fossem cutucadas para não mais cicatrizarem por si, deixando sequelas aos humilhados e segregados ao longo das décadas anteriores. Nas poucas palavras ditas no discurso, Poitier agradeceu ao diretor Ralph Nelson e ao roteirista James Poe. Ele não empunhou no palco o estandarte da luta, nem precisava, pois seu êxito se tornou, por si, bandeira e panfleto da força da raça negra. Poitier foi o único negro a vencer o Oscar até 1982, quando Louis Gossett Jr. venceu como Melhor Ator Coadjuvante em A Força do Destino (1982). Neste período de duas décadas, houve apenas sete indicações para atores negros. – por Marcelo Müller

Whoopi Goldberg, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990)
Whoopi Goldberg já não era uma atriz iniciante quando recebeu seu Oscar por este trabalho. Pelo contrário. Cinco antes já havia sido lembrada pela Academia com uma indicação como Melhor Atriz pelo sensível A Cor Púrpura (1985), projeto que lançou seu nome no mundo das artes e entretenimento. Porém, se naquela produção seu papel era mais denso, aqui os louros vieram pelo seu excelente timing cômico aliado à doçura que seu personagem, a falsa vidente Mae Brown, trazem à telona. É justamente pelas gags de Goldberg que o filme (já com um roteiro bem afinado para o que poderia ser uma simples comédia romântica) ganhou ainda mais fãs. Suas possessões, de início totalmente fakes passando por transformações que assustam a própria Mae, fizeram a atuação da intérprete ser elevada à mais alta potência. Assim, garantiu a estatueta daquele ano e dando início a outro aspecto que dominaria os anos 1990 e início dos anos 2000: a comédia com atores negros. Por sinal, outro papel cômico também garantiria mais um Oscar para um ator negro ainda nos anos 1990. No caso, Cuba Gooding Jr. como Melhor Ator Coadjuvante por Jerry Maguire: A Grande Virada (1996). – por Matheus Bonez

Denzel Washington, premiado como Melhor Ator Coadjuvante por Tempo de Glória (1989) e Melhor Ator por Dia de Treinamento (2001)
O ator Denzel Washington já acumulava quatro indicações ao Oscar, tendo levado a estatueta em uma das ocasiões – como coadjuvante por Tempo de Glória (1989) – quando aceitou interpretar o Detetive Alonzo Harris neste longa do cineasta Antoine Fuqua. Um papel que não só marcaria sua carreira, como também a história do Oscar, já que ao levar o prêmio na categoria principal, Washington se tornaria apenas o segundo ator negro a conseguir tal feito, 38 anos após Sidney Poitier ser premiado por Uma Voz Nas Sombras (1963). Além disso, Washington permanece até hoje como o único ator a levar o Oscar por um longa também dirigido por um negro. Por todos estes motivos, o trabalho dele tornou-se emblemático, transformando a trama sobre um experiente e corrupto policial que treina um novato ingênuo (interpretado por Ethan Hawke, também indicado ao Oscar como coadjuvante) em algo maior. Fuqua dirige seu drama policial com extrema competência, mas o longa provavelmente não se destacaria de outras produções similares não fosse a atuação memorável de Washington, que domina a cena do início ao fim, construindo uma figura ao mesmo tempo ameaçadora e cativante. E por sua capacidade de transmitir tal dualidade, o ator foi justamente recompensado. – por Leonardo Ribeiro

Halle Berry, premiada como Melhor Atriz por A Última Ceia (2001)
Foi preciso virar o século para que outro tabu fosse desfeito na maior festa do cinema mundial: o reconhecimento de uma intérprete negra como Melhor Atriz do ano. A responsável pelo feito foi a divina Halle Berry, mulher sinuosa, de contornos delicados, lábios finos e cabelos lisos, cuja filmografia apresenta poucos trabalhos ligados à questão racial. A Última Ceia, no entanto, filme que lhe proporcionou esse feito, é uma exceção, e a questão de sua cor está diretamente ligada ao drama vivido Leticia Musgrove, sua personagem. Com determinação e fragilidade equilibrado na ponta da faca, a estrela revelou ser capaz de muito mais do que uma presença inebriante nas telas, mostrando um talento que poucos suspeitavam até então. Fazendo dobradinha com Denzel Washington – que no mesmo ano foi premiado como Melhor Ator, por Dia de Treinamento (2001) – Berry fez história com um desempenho digno do prêmio e da atenção que passou a receber a partir desta conquista. Pena que seus trabalhos posteriores não estiveram à altura do novo status. Ou teria sido falta de melhores oportunidades? Hollywood, afinal, sabe dar, mas também é mestre em tirar o que muitos davam por certo. – por Robledo Milani

Jamie Foxx, premiado como Melhor Ator por Ray (2004)
A atuação de Jamie Foxx em Ray é uma daquelas em que vemos um ator fazer mais do que um interpretar uma figura real. Foxx parece ter sido possuído pelo próprio Ray Charles, tamanha a fidelidade com a qual o ator encarnou o músico, desde sua postura em cena até seus trejeitos e modo de falar, o que pode entrar na conta não só do talento do intérprete, mas também do fato de que o próprio Ray Charles o auxiliou durante as filmagens. A presença do ator na tela é tão forte que inevitavelmente traz riqueza em meio as irregularidades da cinebiografia dirigida por Taylor Rackford, sendo o elemento mais lembrado do filme, até por ter rendido a Foxx o Oscar de Melhor Ator, algo que ocorreu na mesma edição em que ele foi indicado na categoria de coadjuvante por seu ótimo trabalho em Colateral (2004). Assim, Foxx acabou provando de vez que seu talento poderia ir muito além das comédias que vinha fazendo, se colocando como um dos atores negros de maior destaque na indústria, posição que ele mantém com destreza. – por Thomás Boeira

Morgan Freeman, premiado como Melhor Ator Coadjuvante por Menina de Ouro (2004)
Morgan Freeman já havia beliscado o Oscar em três ocasiões, primeiro, por seu papel em Armação Perigosa (1987), segundo, pela atuação em Conduzindo Miss Daisy (1989) e, por fim, por seu aplaudido trabalho em Um Sonho de Liberdade (1994). Mas foi apenas em 2005, um ano depois do sucesso de Menina de Ouro (2004), que ele viu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas render-se ao seu talento já plenamente consagrado pelo público nos anos de serviços prestados nas telonas. Novamente colaborando com Clint Eastwood – com quem trabalhara em Os Imperdoáveis (1992) – Freeman interpreta um ex-lutador de boxe que cuida do ginásio do personagem de Eastwood, de quem talvez seja o único amigo. O ator nascido em Memphis, Tennessee, no dia 1 de junho de 1937, subiu ao palco do então Kodak Theatre, no dia 27 de fevereiro de 2005, para receber a estatueta tão cobiçada, dizendo, suscintamente, porém com emoção: “Quero agradecer a todos que tiveram alguma coisa a ver com a realização deste filme, mas especialmente a Clint Eastwood, por dar-me a oportunidade de trabalhar com ele novamente e trabalhar com Hilary Swank. Essa foi uma tarefa realizada com amor. Obrigado à academia. E (olhando para cima) muito obrigado a você.“ – por Marcelo Müller

Jennifer Hudson, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006)
Foram dois Oscar para atores negros no mesmo ano em 2006. Um deles foi para Jennifer Hudson, cantora recém saída do reality show American Idol (onde não venceu) e catapultada à atriz de grande porte com este musical onde contracenou com a já consagrada performer Beyoncé Knowles, Jamie Foxx e Eddie Murphy (indicado como Melhor Ator Coadjuvante também por este trabalho). A atriz se destaca em sua estreia nas telonas não apenas pelo vozeirão de arrepiar qualquer coluna ou os embates que sua personagem tem com os outros colegas de cena. Ela também quebrou outro estereotipo que sofre preconceito em Hollywood, o dos mais gordinhos. Com 10kg a mais para interpretar o papel de Effie White, Hudson dá um show na telona, mostrando que talento vai muito além da cor da pele ou do peso na balança. Uma pena que seu currículo como atriz tenha sido escasso desde então, com pequenas aparições em filmes não tão louváveis. O que mostra, mais uma vez, que negros não tem as mesmas chances de bons papeis como os colegas de cor branca. Atualmente ela se dedica muito mais à cena musical do que os sets de filmagem, mas seu talento permanece intacto para uma próxima grande oportunidade que possa (e deveria) ocorrer. – por Matheus Bonez

Forest Whitaker, premiado como Melhor Ator por O Último Rei da Escócia (2006)
Há muito o trabalho de Forest Whitaker enquanto ator vem sendo observado com bons olhos por parte da crítica e academia. O sucesso enquanto ator vinha desde Picardias Estudantis (1982) passando por Pesadelo Americano (2005), mas a academia viu com olhos mais atentos a performance de Whitaker como o presidente de Uganda Idi Amin neste trabalho. O personagem surge como uma personalidade magnética que convence o Dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy) a trabalhar exclusivamente com ele, no regime de seu país. Aos poucos, se demonstra que todo o carisma envolvendo a figura de autoridade é apenas um verniz, para prática nefastas e tirânicas. Whitaker conseguiu o prêmio por uma performance que foge em absoluto do estereótipo normalmente premiável, de negro submisso, escravo ou subserviente, mas ataca em outra frente, associada também a papéis raciais, onde o sujeito negro é cruel e violento. Ao menos, como Idi Amin, o ator consegue representar um negro em posição de destaque, sem a submissão normalmente amputada a sua raça, normalmente subjugada por colonizadores caucasianos, inclusive os hoje ligados ao comando dos grandes estúdios de cinema dos Estados Unidos. – por Filipe Pereira

Lupita Nyong’o, premiada como Melhor Atriz Coadjuvante por 12 Anos de Escravidão (2013)
O tempo de tela de Lupita Nyong’o é reduzido, porém, de suma importância, pois se o Solomon Northup de Chiwetel Ejiofor nos desconforta por ser o homem livre levado de volta ao estado de animal, surrado, abusado e mantido em cativeiro, a Patsey de Nyong’o é ainda mais trágica por ser a mulher escrava que jamais conheceu – ou conhecerá – outra realidade. E ver Northup ter de abandoná-la em certo ponto, impotente para lhe trazer a liberdade que seria seu direito, é revoltante, ainda mais do que a sequência que traz Edwin (Michael Fassbender) descontando o seu ciúmes em chicotadas que dilaceram as costas de Patsey. Porque a crueldade sistemática do ser humano já nos é um conceito familiar, mas a falta de esperança em se livrar dela nos é um ideia desesperadora, e essa ideia que Lupita representa, que impõe no choro de sua personagem que suplica perdão por querer apenas se sentir limpa, uma vez que já tenha abandonado qualquer outro objetivo. Não é por acaso então que diversos prêmios indicaram e elegeram Nyong’o a Melhor Atriz Coadjuvante daquele ano, ainda que seja sintomático que para uma atriz negra e desconhecida como ela ser premiada ainda precise ser pelo papel de uma escrava. – por Yuri Correa

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