Não tem para mais ninguém. Nos 88 anos da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, estas dez produções foram as que mais subiram ao palco para buscar sua estatueta dourada. Algumas, como O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), O Último Imperador (1987) e Gigi (1958), ainda são lembradas pela invencibilidade, faturando todos os Oscar aos quais foram indicados. Em 2016, temos apenas duas produções que podem igualar os recordes destes filmes listados aqui: O Regresso, com 12 indicações; e Mad Max: Estrada da Fúria, com 10. Não é impossível, mas ambos os concorrentes terão de converter a maioria de suas indicações em prêmios para conquistar este prestigioso lugar. Enquanto o Oscar não chega, vamos relembrar os 10 campeões de vitórias. Confira!
10. Sindicato de Ladrões (On the Waterfront, 1954)
Vencedor de 8 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 12 prêmios
Que Elia Kazan era um gênio, não há o que negar. Seus textos recheados de camadas sobre política já geraram muita polêmica na época em que estava vivo. Chega a ser engraçado que, justamente na época em que foi acusado de traição por parte de seus colegas (ele teria “ajudado” no macarthismo, a perseguição norte americana aos comunistas), seu filme que mais falaria sobre o assunto acabou vencendo os principais prêmios da Academia naquele ano. Das doze indicações, ganhou oito. Na verdade, poderia ter levado apenas dez, pois três destas nominações estavam na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. O longa se tornaria um clássico absoluto, inaugurando uma nova fase em Hollywood nos anos 1950, quando o flerte com o neorrealismo italiano criaria obras mais naturalistas e menos com aquele ar glamourizado que fez sucesso por tanto tempo. Além de tudo, traz um Marlon Brando totalmente enérgico e entregue no papel do ex-pugilista Terry Malllow e critica abertamente a máfia dos sindicatos que permeava a realidade da época. Com um final avassalador, este é um dos títulos obrigatórios na filmografia de qualquer cinéfilo que se preze ou de apenas quem gosta do bom cinema. – por Matheus Bonez
9. Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964)
Vencedor de 8 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 12 prêmios
Há uma história curiosa envolvendo os bastidores dessa bem-sucedida adaptação do musical da Broadway, inspirada no conto do Pigmalião, de Bernard Shaw, e comandada pelo renomado George Cukor. Se nos palcos a protagonista era interpretada por uma novata Julie Andrews, ao se levar para às telas a mesma história o estúdio decidiu investir num nome mais consagrado, chamando a aristocrática Audrey Hepburn para o papel principal. A estrela de A Princesa e o Plebeu (1953) já tinha um Oscar no currículo e seu talento era reconhecido internacionalmente, porém muitos estranharam sua escalação, uma vez que sua voz não era o maior dos seus tributos. Tanto que, nos números musicais, ela teve que ser dublada pela cantora Marni Nixon. Como resultado, o filme acabou recebendo impressionantes 12 indicações ao Oscar, mas foi ignorado na principal: Melhor Atriz. E quem acabou levando esse prêmio? A própria Julie Andrews, por sua estreia em Mary Poppins (1964). Para amenizar a situação, Rex Harrison, ao ser chamado para pegar a sua estatueta de Melhor Ator, discursou agradecendo “às duas belas damas de sua vida, Andrews e Hepburn”. Um cavalheiro, como se pode perceber! – por Robledo Milani
8. A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953)
Vencedor de 8 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 13 prêmios
Baseado no livro de James Jones, este longa de Fred Zinnemann relata o cotidiano de uma base militar norte-americana no Havaí às vésperas do ataque japonês a Pearl Harbor. A trama foca nos conflitos de três militares: o soldado Prewitt (Montgomery Clift) que sofre represálias por não querer participar da equipe de boxe e se apaixona pela prostituta Lorene (Donna Reed), o Sargento Warden (Burt Lancaster) que mantém um caso com Karen (Deborah Kerr), esposa de seu superior, e o soldado de origem italiana Angelo Maggio (Frank Sinatra) que vive em atrito com o Sargento ‘Fatso’ (Ernest Borgnine). Filmando com a classe e o rigor habituais, Zinnemann conduz esta teia de personagens por uma narrativa que coloca as ameaças da guerra como pano de fundo para um aprofundamento nas relações humanas. Apresentando ótimas atuações de todo o elenco e cenas icônicas, como o beijo à beira-mar entre Lancaster e Kerr, o filme conquistou a Academia, levando oito estatuetas, incluindo a de Melhor Filme, além de outras cinco indicações. Curiosidade: os boatos envolvendo a escalação de Sinatra – que reergueu sua carreira conquistando o Oscar de Coadjuvante – e sua ligação com a máfia serviram de inspiração para uma cena de O Poderoso Chefão (1972). Por Leonardo Ribeiro
7. Gigi (1958)
Vencedor de 9 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 9 prêmios (vencedor invicto)
Há filmes que envelhecem mal com o passar do tempo, mesmo os considerados grandes clássicos por terem sido realizados na Era de Ouro. Infelizmente, Gigi é um destes casos. Apesar de ser divertido, bem conduzido, com boas músicas e tudo de melhor que poderia ser oferecido para uma produção da época, hoje é fácil assistir ao longa e questionar onde os membros da Academia estavam com a cabeça quando resolveram premiá-lo com TODAS as nove estatuetas às quais concorria. Dentre elas, a principal da noite, batendo, no mínimo, outros dois títulos muito mais lembrados hoje em dia que o filme de Vincent Minnelli: Gata em Teto de Zinco Quente e Acorrentados. A história é aquele velho romance que todos já sabem como termina: na Paris da virada do século XX, Gigi (Leslie Caron) é uma adolescente treinada pela avó para se tornar uma cortesã. Ela conhece o mimado Gaston (Louis Jourdan), os dois se apaixonam, mas ela refuta a ideia de um romance por não querer parecer interesseira. Sim, uma história dessas já ganhou Melhor Filme no Oscar. Aliás, 40 anos depois aconteceria praticamente o mesmo com Shakespeare Apaixonado (1998). – por Matheus Bonez
6. O Último Imperador (The Last Emperor, 1987)
Vencedor de 9 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 9 prêmios (vencedor invicto)
Primeiro filme de Bernardo Bertolucci após seus seis anos de autoexílio, O Último Imperador (1987) narra a verdadeira história de Pu Yi, último governante chinês da dinastia Ching, a partir de sua autobiografia que cobre o período entre 1908 e 1967. Com grandeza visual explícita em locações, figurinos e direção de arte impressionantes, Bertolucci arrebatou o Oscar de Melhor Filme, Diretor e Roteiro Adaptado, além de 6 outros prêmios da Academia, por esta que é sua mais imponente obra. O épico se desenvolve a partir da infância de Pu Yi na Cidade Proibida, em Pequim, onde pela primeira vez o governo chinês admitiu gravações cinematográficas. Talvez por conta dessa relação próxima com a China, a obra seja levemente superficial quanto a sexualidade do imperador, apontado por dois outros biógrafos como homossexual. Ainda que omita esta e outras passagens históricas, O Último Imperador é eficaz ao transpor a vida de um mito oriental para uma rica e visualmente deslumbrante realização. Apresentado em duas versões, uma delas com 160 minutos para os cinemas e outra com quatro horas, divididas em episódios, para a televisão, O Último Imperador se destaca como um dos maiores trabalhos – em duração e qualidade – na diversa filmografia de Bertolucci. Por Conrado Heoli
5. O Paciente Inglês (The English Patient, 1996)
Vencedor de 9 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 12 prêmios
A realização de Anthony Minghella, baseada no romance homônimo de Michael Ondaatje, habita aquela área cinzenta dos vencedores do Oscar que não contam com a simpatia de boa parte do público. Talvez mais por ter derrotado filmes melhores, como Segredos e Mentiras (1996) e Fargo (1996), por exemplo, do que necessariamente em virtude de falta de méritos. O que não dá para contestar é a limpa que o filme fez no Oscar de 1997. Indicado em expressivas doze categorias, levou para casa nove estatuetas: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Juliette Binoche), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora – Drama e Melhor Mixagem de Som. Ainda hoje é um dos recordistas da premiação oferecida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Os votantes caíram de amores pela história do homem (vivido por Ralph Fiennes) com graves queimaduras que lhe tornam irreconhecível, cujos cuidados ficam a cargo da enfermeira interpretada por Binoche. A personagem de Kristin Scott Thomas é um símbolo de amor e esperança a esse ferido em meio aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Pode-se torcer o nariz, não gostar, mas no quesito “ganhadores do Oscar” este longa está nas cabeças. Por Marcelo Müller
4. Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961)
Vencedor de 10 Oscars, inclusive Melhor Filme
Indicado a 11 prêmios
Da lista dos dez maiores vencedores do Oscar, 3 são musicais – o que já deixa clara a influência do gênero no cinema norte-americano. E destes, o melhor colocado é justamente essa versão modernizada do clássico Romeu & Julieta, de Shakespeare, adaptado para as ruas de uma Nova Iorque dividida entre os Jets (os locais) e os Sharks (os imigrantes porto-riquenhos). Jerome Robbins e Robert Wise assinaram juntos a direção dessa história de amor e morte, dramas e conquistas, motivadas por uma América em construção, em que a mistura de raças tem seu ponto alto na paixão que une os jovens Maria e Tony, interpretados por Natalie Wood e Richard Beymer em papeis escritos, originalmente, para Audrey Hepburn e Elvis Presley! Impressionante sucesso de bilheteria – arrecadou quase oito vezes o valor do seu orçamento – e fenômeno de massa (a trilha sonora foi a mais vendida do ano nos EUA), o longa ganhou 10 das onze categorias a que concorria, perdendo somente a de Roteiro Adaptado (para o drama O Julgamento de Nuremberg, 1961). Um feito e tanto, que até hoje nenhuma outra produção similar conseguiu alcançar! – por Robledo Milani
3. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003)
Vencedor de 11 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 11 prêmios (vencedor invicto)
Um dos três filmes que mais ganharam estatuetas na história da premiação (junto com Titanic e Ben-Hur arrematou nada menos do que 11 Oscar), O Retorno do Rei, capítulo final da trilogia Senhor dos Anéis, faz por onde. Incomoda um pouco, claro, que tenha sempre de se tratar de um épico com escalas exorbitantes de produção para que um projeto seja reconhecido com tantos prêmios, mas isso não tira o merecimento do filme, que, fazendo jus ao crescendo estabelecido pelos dois longas anteriores, chega ao seu desfecho com batalhas monumentais, em cenários grandiosos e sob uma trilha cheia de melodias dramáticas e triunfantes. Isso tudo, claro, sem jamais esquecer de dar um zoom na narrativa e acompanhar cada um dos principais personagens no meio da multidão de efeitos digitais. E quando todas as suas tramas enfim se unem, o sentimento de catarse justifica a empolgação de querer condecorar a produção com tantos carecas dourados. Uma decisão acertada da Academia, já que mais de dez anos depois, a franquia se mantém como referência técnica e de gênero, tendo influenciado todo um mercado, criado tendências e feito valer o seu lugar de destaque histórico possibilitado pelo prêmio de Melhor Filme. Por Yuri Correa
2. Ben-Hur (1959)
Vencedor de 11 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 12 prêmios
O épico dirigido por William Wyler teve uma produção faraônica. Rodado em Technicolor, custando algo próximo de US$ 15 milhões, valor irrisório para os padrões hollywoodianos de agora, mas quase proibitivo no fim dos anos 1950, é um remake da já maiúscula versão rodada por Cecil B. DeMille em 1925. Charlton Heston que, aliás, pouco antes havia estrelado outra refilmagem de um longa de DeMille (dessa vez, levada a cabo pelo próprio), Os Dez Mandamentos (1956), interpreta o protagonista. O resultado das bilheterias foi à altura do investimento, da grandiloquente proposta conceitual levada às telas por Wyler. O que hoje em dia ainda chama a atenção, fora suas perenes qualidades enquanto realização, é a quantidade de Oscar que ele levou para casa. Indicado em doze categorias, venceu onze, sendo, ao lado de Titanic (1997) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003), recordista até o momento. Perdeu apenas a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado para Almas em Leilão, de Bill Paterson. Faturou as de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Melhor Direção de Arte – Decoração Colorida, Melhor Fotografia em Cor, Melhor Figurino em Cor, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição, Melhor Música e Melhor Gravação de Som. Por Marcelo Müller
1. Titanic (1997)
Vencedor de 11 Oscar, inclusive Melhor Filme
Indicado a 14 prêmios
Até 1998, Ben-Hur frequentava sozinho a posição de maior vencedor do Oscar, com 11 estatuetas. Foi então que James Cameron lançou Titanic. O romance entre Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet) em meio a uma das maiores tragédias do século passado conquistou o público de um jeito estrondoso, tornando-se na época a maior bilheteria da história do cinema (título hoje pertencente a Avatar, do próprio Cameron). E motivos para isso não faltam. É um longa que pode até soar um tanto novelesco ao desenvolver o romance, mas ainda consegue dar a este um peso dramático admirável, criando no processo personagens interessantes e com os quais nos importamos ao longo da trama. Sem falar que trata-se de um projeto tecnicamente impecável. James Cameron impressiona não só pela atenção dada a recriação de época, especialmente no que diz respeito ao navio, mas também pela sensibilidade com a qual conduz a história e seus protagonistas, além de orquestrar brilhantemente a segunda metade das três horas de projeção, quando a tragédia ganha a tela com uma urgência desesperadora. Levando tudo isso em conta, os 11 Oscars do filme não vieram com muita surpresa. Por Thomás Boeira