20171215 corpo eletrico papo de cinema

Alguns podem dizer que o primeiro longa-metragem de Marcelo Caetano não tem uma história propriamente dita. Realmente, ele está fora dos moldes clássicos. Não há uma trajetória do herói, o mocinho não quer resolver um problema específico ou mudar o mundo. Elias só quer viver em movimento. E é isso que o personagem interpretado por Kelner Macêdo faz durante todo o filme. O paraibano trabalha numa confecção de roupas na região do Bom Retiro, em São Paulo. Conhecido pelo seu dom para a costura, o rapaz sonha em ser estilista. Porém, o que ele mais faz é viver de encontros sexuais com homens que ele não conhece, sair com os amigos para a noite e tomar vários copos de cerveja, entrar e sair de festas sem parar. É alguém que faz jus ao título da produção. E o que acompanhamos é esse fluxo quase irrefreável de um jovem que não tem preconceitos, que gosta de conhecer pessoas de vários lugares, credos e cores, que tem tesão pela intensidade das coisas. O filme de Marcelo Caetano se apropria do famoso “lacre” que tomou conta das redes sociais e das rodas de amigos dos últimos anos para explorar a diversidade sexual em suas mais diversas formas, especialmente entre a classe média baixa da população brasileira. Não há julgamentos sobre certo e errado aqui. Corpo Elétrico é, antes de mais nada, uma experiência extremamente sensorial sobre a necessidade do ser humano de conectar uns aos outros sem freios. Se a água é um grande condutor de eletricidade, que melhor forma de causar um choque nesse corpo se não o jogando no mar? Caetano entende bem isso ao brincar com as imagens e os diálogos numa absurda e extremamente bem-vinda realização cinematográfica. Aqui, os 24 frames de cada segundo em tela são explorados até seu limite. Não à toa, um trabalho que vai muito além da simplista definição de cinema LGBTQ. A energia posta aqui é muito maior do que isso.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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