A situação que move o longa-metragem de estreia do cineasta Fábio Meira é insólita. Duas meninas, homônimas, ambas com 13 anos, filhas do mesmo pai, se conhecem em virtude da ciência inicial de uma delas, a mais acanhada, do imbróglio que as torna consanguíneas, a despeito de uma ignorar a existência da outra até então. Aliás, nem isso é bem assim, como vemos mais adiante. Todavia, não é somente por conta do mote inusitado que este filme figura na nossa lista dos melhores exemplares brasileiros lançados no ano. A aproximação entre elas se dá, inicialmente, pela via da mentira. Um nome falso é utilizado, as aspirações juvenis em consonância tratam de estreitar o vínculo, isso enquanto se torna cada vez mais urgente disseminar a verdade, desvelar a vida dupla do pai interpretado por Marco Ricca (premiado como Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado 2017). Aliás, Fábio não demonstra necessidade de julgar moralmente seus personagens, preferindo estudar minuciosamente ações e reações. A Irene introvertida (Priscila Bittencourt) começa a se espelhar na meia-irmã, a Irene extrovertida (Isabela Torres), num jogo de duplicidade bastante engenhoso proposto pelo cineasta. Na medida em que tal relação fica mais forte, a Irene ainda com ares infantis vai desabrochando, tornando-se mulher, almejando encontrar um garoto a quem beijar no escurinho do cinema. A verdade, portanto, leva ao amadurecimento, mesmo à Irene que já parecia a caminho de tornar-se mulher. A sequência final é um primor, daqueles momentos em que a sensibilidade sobrepuja qualquer arroubo colérico ou algo que o valha.
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