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Se houve um filme que pode ser chamado de marco no cinema brasileiro em 2017, esse filme é o doc-ficção de Eliane Caffé. Primeiro, por dar voz a uma comunidade que a grande mídia, assim como alguns governantes, prefere não enxergar. Mais que dar voz e apresentar a situação em que vivem os refugiados, o filme os convida para criar junto com sua equipe. O trabalho de Eliane e seus parceiros roteiristas, Luis Alberto de Abreu e Inês Figueiró, conta também com as palavras e os sentimentos dos integrantes da Frente de Luta por Moradia (FLM), do Grupo Refugiados e Imigrantes Sem Teto (GRIST) e da Escola da Cidade. Não estamos falando apenas de fornecer uma câmera ou dar liberdade para não profissionais do audiovisual diante dela, mas de uma presença verdadeira de personagens. Para além de toda essa questão inclusiva, a produção ainda apresenta momentos líricos, provando que há poesia no conflito. Mostra que cada manifestante, em combate com a polícia para manter seu teto, possui uma história, uma alma singular que jamais será manchete de jornal. Eliane consegue equilibrar vários personagens sem deixar pontas soltas e sem priorizar uma ou outra história. Isso fez com que alguns críticos questionassem o olhar da diretora, afirmando que Eliane valorizou apenas os pontos positivos das entidades. Incômodos à parte, estamos diante de um exemplar que merece ser visto e discutido além da questão cinematográfica.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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