Há quem diga que o Documentário é um gênero do Cinema mais Arte que os outros, pois ele lida com a verdade. É interessante pensar nisso ao analisar este novo filme de Fellipe Barbosa, que conta a história real de seu amigo de infância (o Gabriel do título), pois o cineasta faz questão de turvar os limites entre a ficcionalização e a documentalização dos últimos 70 dias do estudante de Economia que acabou morrendo perdido em uma montanha em Malawi, na África. Usando os cenários e muitas das pessoas reais que interagiram com Gabriel durante sua viagem, o filme ainda é permeado por depoimentos desses “amigos” que o mochileiro foi fazendo pelo caminho. Portanto, apesar de vividos por atores, o protagonista e sua namorada, Cristina, são cercados pela factualidade que cercou o Gabriel Buchmann de verdade em suas derradeiras semanas de vida. João Pedro Zappa dá ao personagem um carisma digno da pessoa que parece conquistar todos ao seu redor, evitando também mitificar Gabriel ao vivê-lo com certa dose de arrogância e impaciência, principalmente no que se refere à Cristina (Caroline Abras), com quem cria uma dinâmica natural de discussões e carinhos, sugerindo com habilidade o entrosamento do casal. Além disso, Barbosa constrói a narrativa com relutância, como se observasse melancolicamente o destino de seu amigo e preferisse evitar chegar nele, o que é um sentimento logo transmitido ao espectador, que tem no seu filme uma experiência delicada e intimista, mas dolorosa por conhecer o trágico desfecho. Ainda mais por Gabriel soar não como um personagem, mas como um ser-humano de verdade – e novamente, falamos de uma ficção que conta com a verdade a seu favor, ou de um documentário ficcionalizado? A beleza desta obra é que ela funciona no meio disso, e não precisa responder a pergunta.
