Após estrear no formato longa-metragem com o simbólico Beira-Mar (2015), a dupla de cineastas gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon voltou com tudo neste ano com o intenso Tinta Bruta. Se o filme anterior pode ser considerado um ensaio, este é a concretização de talentos que há muito esperavam por esse momento de ebulição. Após ter debutado com vigor no Festival de Berlim – de onde saiu com o troféu de Melhor Filme de temática LGBT (o Teddy Award) e com o C.I.C.A.E. na mostra Panorama – o drama sobre o rapaz de traços andróginos que ganha a vida pintando o corpo em movimentos eróticos pela internet seguiu uma das mais impressionantes carreiras internacionais para uma produção brasileira nos últimos anos. Ao todo, já são mais de vinte prêmios conquistados no Brasil e no exterior, como nos festivais de Chicago, Guadalajara, Los Angeles, Merlinka (Bósnia e Herzegovina – Sérvia – Montenegro), Molodist (Ucrânia), QCinema (Filipinas) e Rio de Janeiro, de onde saiu com três troféus Redentor: Melhor Filme, Roteiro, Ator (Shico Menegat) e Ator Coadjuvante (Bruno Fernandes). Combinando melancolia e violência, afeto e desamparo, o filme é eficiente ao retratar a existência de alguém que está em busca do seu lugar no mundo, mesmo que o mesmo pareça não querer aceitá-lo. Por isso, mais do que ficar à mercê dos outros, a lição que se tira é que é preciso ir à luta e fazer acontecer, e não apenas esperar pela atenção alheia. Afinal, esse olhar, na maioria das vezes anônimo, mais tira do que acrescenta. Um belo filme, que certamente irá ressoar por muito tempo ainda.
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