Durante muito tempo, o cinema de gênero permaneceu marginalizado, como se fosse algo de menor importância artística. Vamos reformular, pois isso ainda acontece, embora as coisas estejam melhorando bastante. Os cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra nunca esconderam a predileção por esse tipo de cinema, ao contrário, escancararam influências em seus curtas e longas-metragens anteriores, inserindo pitadas de horror aqui, alimentando o suspense acolá, entre outros procedimentos sintomáticos dos exemplares que nutrem sua cinefilia. Pois, As Boas Maneiras, premiado no Festival de Locarno 2017, no Janela Internacional do Recife de 2017, no Festival Internacional de Cinema do Uruguai 2018, no Festival do Rio 2017 e no BAFICI 2018, é uma espécie de passo adiante de ambos no que tange ao cinema de gênero. O filme, horror clássico, recheado de referências que vão de congêneres a histórias de princesas, é protagonizado por Clara (Isabél Zuaa), contratada por Ana (Marjorie Estiano) para ajuda-la, sobretudo, por conta da iminência do nascimento do primeiro filho. Coisas estranhas começam a acontecer, a sanha da patroa por sangue sobressai nas escapadas noturnas, e o drama ganha tintas terríficas com mutilações animais e, posteriormente, o nascimento de um menino lobisomem. Além da técnica apurada, encarregada de criar o licantropo mirim de maneira convincente, os realizadores temperam a narrativa com componentes sociais consideráveis, fazendo de As Boas Maneiras, certamente, um dos melhores filmes brasileiros lançados comercialmente em 2018.
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