Faltava pouco para acabar o 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Era praticamente consenso entre a crítica que ainda não havia surgido “o filme”, aquele exemplar que merecia, disparado, vencer um dos nossos eventos cinematográficos mais tradicionais. Foi quando Arábia surgiu da telona do Cine Brasília, magnetizando olhares e atenções desde o belíssimo plano inicial do menino descendo a ladeira de bicicleta, embalado por uma música estrangeira, e finalmente chegando à Vila Operária, bairro da cidade histórica de Ouro Preto. Ao invés de belezas, uma siderúrgica imensa domina o espaço e caracteriza a paisagem. O garoto, então, toma contato com as memórias de um operário desacordado sem mais aquela. Cristiano (Aristides de Souza, numa interpretação comovente) tem suas lembranças acessadas por meio de registros escritos que demonstram um périplo bastante sintomático do Brasil trabalhador, no qual a errância é marcada por relações de servidão e encontros emocionalmente impactantes. Há um tom documental atravessando a encenação ficcional, o que confere força ao relato desse homem cujas humildade e demandas básicas estão alinhadas com as do chamado brasileiro médio. Constantemente tida como instrumento facilitador, a narração em off aqui nos aproxima do protagonista, tornando a jornada ainda mais pessoal e íntima. Emoldurado por grandes nomes da nossa música, descortinando em suas andanças diversas paisagens mineiras, Cristiano é uma síntese do Brasil laboral, uma das forças desse filme que chegou ao topo de Brasília desde o instante inicial. Não por acaso, beliscou a medalha de bronze no nosso Top 10.
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