Atores e atrizes conhecidos do grande público numa história sanguinolenta e vibrante. Poucos filmes foram tão ousados em 2018 quanto O Animal Cordial. O longa-metragem se passa num restaurante de São Paulo, onde, desde o princípio, sobressai uma tensão entre patrões e empregados. O dono, vivido por Murilo Benício, dá demonstrações sequentes de que fará valer a hierarquia, de maneira insidiosa, sempre que houver dissenso em sua equipe. O cozinheiro, interpretado por Irandhir Santos, é a grande vítima dessa visão elitizada e preconceituosa. Todavia, antes da invasão do estabelecimento por dois meliantes armados, as tensões permanecem subjacentes, ao ponto de entrarem em erupção, o que, de fato, acontece com o crime em curso. O patrão deixa vir à tona toda a violência e perversidade antes escondida sob a fina camada da cordialidade do “cidadão de bem”. Luciana Paes, atriz que encarna a garçonete inclinada a cair numa espiral de subserviência, concebe na telona a servidão resultante da proximidade sedutora do poder, tanto que a descola da própria realidade. A cineasta Gabriela Amaral Almeida não demonstra condescendência com o espectador, longe de o poupar de mortes graficamente fortes e de demonstrações pungentes de violência física e psicológica. Impressionante, também, é seu domínio cênico, a forma como circunscreve tudo em poucos espaços, sem cair no enfado. O elenco oferece desempenhos excepcionais em O Animal Cordial, longa que, infelizmente, diz muito sobre o Brasil atual, mais especificamente acerca de uma classe média tacanha.
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