Ano de eleições presidenciais. Nada mais importante, portanto, que refletir acerca de acontecimentos recentes que ditaram os rumos da nação. A cineasta Maria Augusta Ramos, com O Processo, filme exibido no Festival de Berlim 2018, não esconde sua inclinação ideológica, deixando muito claro que acredita na tese do golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff. Toda a construção cinematográfica do documentário deixa esse posicionamento bastante evidente. De um lado, os “coxinhas”, a turma de verde e amarelo que clamava pela saída do Partido dos Trabalhadores do poder, para eles, o maior câncer do país. Do outro, os “petralhas”, os vermelhos, partidários do governo petista ou simplesmente refratários a uma manobra bem duvidosa a fim de gerar espaço suficiente ao impedimento. Mas, a cineasta não se atém tanto à polarização, acessando-a circunstancialmente. Essencial é mostrar os bastidores da defesa, as articulações da esquerda com o intuito de manter Dilma como mandatária da nação. Por meio de uma linguagem incisiva e contundente, Maria Augusta Ramos lança luz sobre personagens importantíssimos, tais como Gleise Hoffmann e José Eduardo Cardozo, da parte dos defensores, e Janaina Paschoal, espécie de representante de uma acusação histriônica e delirante, que tentou a todo custo encontrar brechas legais para sustentar um plano de destituição meramente político. Claro, como tudo ultimamente, O Processo foi, quiçá, mais lido por sua inclinação ideológica que necessariamente por seus inúmeros méritos enquanto cinema. Uma pena, pois o longa-metragem merece láureas e aplausos, seja o espectador um “coxinha” raivoso ou um “petralha” convicto.
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