Filmes ambientados em comunidades periféricas não são exatamente uma novidade na cinematografia brasileira. Embora a régua da vanguarda seja curta para medir a qualidade e a capacidade de permanência de uma produção, Baronesa, de Juliana Antunes, merece, de cara, reconhecimento por centralizar a experiência feminina em regiões socialmente desfavorecidas. Ambientado na Zona Norte de Belo Horizonte, o longa-metragem é um retrato poderoso do cotidiano, especialmente, de Andreia e Leid, duas mulheres às voltas com a miserabilidade e a violência dela decorrente. Há uma aproximação tão afetuosa quanto contundente dos dramas dessas batalhadoras que convivem diariamente com o medo e a pobreza. Felipe Rangel, mais conhecido como Negão, aparece para compor uma trinca essencial aos desejos de Juliana Antunes de entender profundamente aquela realidade. É difícil estabelecer, ao certo, fronteiras entre a captação documental e a recriação ficcional, o que torna o resultado ainda mais instigante. Esse limite pouco definido entre as instâncias faz de Baronesa, também, sintoma de uma complexidade linguística cara ao nosso cinema. A assimilação da barbárie como traço inerente à trivialidade dos dias é uma das constatações aterradoras do filme. Num entorno costumeiramente abordado pela produção brasileira a partir da masculinidade, seja a característica de marginais, trabalhadores, policiais e transeuntes, a cineasta observa justamente a força feminina não necessariamente subordinada aos desígnios dos homens. É um integrante mais que merecido do nosso top 10 dos melhores filmes brasileiros lançados em circuito comercial no ano de 2018.
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