“Bacurau é uma espécie de repositório de parte das influências cinematográficas dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, lugar-cinema onde pulsa a intensidade do faroeste, gênero norte-americano por excelência, aqui devidamente sorvido, processado e regurgitado na tela com sabor de feijão de corda. Diferentemente de associações mais diretas de outrora do cangaço com as tramas ambientadas no Velho Oeste estadunidense, num movimento conhecido como “nordestern”, os realizadores utilizam a base da mítica dos cowboys para promover uma narrativa intensa e socialmente enraizada. O filme começa com uma sucessão de imagens e circunstâncias consideravelmente estranhas, como o acidente na estrada que faz do percurso entre caixões um vislumbre beirando o onírico. Teresa (Barbara Colen) está de volta à sua terra natal a fim de prestar as últimas homenagens à avó, Carmelita (Lia de Itamaracá), um dos pilares locais. O outro destes é Domingas (Sônia Braga), aturdida durante os festejos à amiga morta, assim como ela, basilar a essa sociedade repleta de singularidades, na qual, logo, as mulheres não cumprem papel meramente decorativo (…) Kleber e Juliano colocam um alvo também na demagogia política que entrecorta o cotidiano de Bacurau com promessas vazias e esmolas vencidas, dadas aos eleitores para convencê-los a vender a sua aprovação nas urnas”.
:: Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller ::
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