“Christian Malheiros compõe o personagem através do semblante fechado, beirando a explosão a cada novo encontro. A intensidade do olhar, unida à rigidez do corpo, fazem do jovem menos uma vítima do que um combatente tentando utilizar sua miséria a seu favor – afinal, Sócrates nada tem a perder. Sem mãe, sem dinheiro, sem afeto, ele pode enfim canalizar suas pulsões de vida (o sexo) e de morte (o ataque a quem o despreza) (…) Felizmente, Sócrates foge tanto à lamentação da miséria quanto à martirização do protagonista, típicas de jornadas de “um-contra-todos”. Dispondo de recursos de produção limitados, Moratto demonstra refinamento estético, posicionando-se ao mesmo tempo bem próximo de seu protagonista, porém sem julgá-lo nem sublinhar uma tragédia que se apresenta, por si só, de modo bastante forte. Por isso, as melhores cenas de catarse são silenciosas (a recusa do choro no banheiro, a troca de olhares com o interesse amoroso num bar, a conclusão), sem trilha sonora, sem grandes movimentos de câmera. Os ruídos ao redor são ora apagados, ora incompreensíveis, retratando o estado de espírito do garoto. Saem de cena os adornos destinados a reforçar a opressão do garoto por ser negro, pobre, gay, morador da periferia: estes elementos são misturados de modo orgânico a trama”.
:: Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo ::