“É um filme intermitentemente com os pés fincados no lúgubre. As paixões e os tesões se opõem muitas vezes à inevitabilidade da morte. Os ambientes escuros e carregados denotam isso. O cineasta Armando Praça desenvolve Greta ora pendendo para o drama internalizado, contido ao limite do suportável, ora burilando os contornos histriônicos do melodrama (especialmente o almodovariano). Mas o longa-metragem não funcionaria sem o trabalho excepcional de Nanini, intérprete que constrói Pedro com uma consistência comovente e mobilizadora. A forma levemente pausada de falar que denuncia a fragilidade travestida de força faz desse personagem um centro gravitacional incontornável. Os coadjuvantes estão muito bem em cena, mas, sem a pujança do profissional da saúde que cura feridas e praticamente cobra em troca um pouco de carinho, o conjunto simplesmente empalideceria. Há uma austeridade visual, advinda, especialmente, dos enquadramentos fixos e da recusa de ofertar banalmente o contracampo. Essa rigidez formal poderia gerar uma sensação de engessamento, mas acaba sublinhando os dramas pessoais. Afora algumas pequenas arestas, como certas transições abruptas, por exemplo, o resultado é bastante tocante (…) Jean (Demick Lopes), o assassino que pede guarita e se torna um obscuro objeto de desejo, cumpre esse papel de mediação entre a vida e a morte, no limiar entre Eros (pulsão sexual) e Tânato (pulsão de morte). Também por conta disso, o hospital abriga várias cenas de sexo”.
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