“A burocracia é o modo pelo qual Joana (Dira Paes, de desempenho notável) acredita que fomentará a igualdade. Todavia, de forma paradoxal, ela retorce as regras uniformes e, a priori, cartesianas do funcionamento do cartório no qual trabalha, oferecendo aos inclinados pelo divórcio a possibilidade da reconciliação mediada por sua religiosidade. Divino Amor intercala a exposição dessa contradição fundamental e a apresentação da rígida distopia evangélica, fruto de uma escalada sintomática do conservadorismo ao ponto do Carnaval ser destituído do posto de maior celebração popular do Brasil. Em seu lugar surge a Festa do Amor Supremo, rave gospel marcada por luzes, batidas incessantes, neons e catarses embaladas por louvores e hinos. Aliás, essa aparente incompatibilidade é bem trabalhada pelo cineasta Gabriel Mascaro como indício de uma realidade em que códigos e condutas são ressignificados. O que atualmente poderia, tranquilamente, ser condenado como pecado, nesse futuro estilizado é tido como uma ode a Deus (…) Em Divino Amor o casamento heteronormativo é considerado a Célula mater da sociedade, uma instituição salvaguardada a qualquer custo. Joana faz sua parte cooptando casais à beira do colapso ao grupo de orações e práticas que visam evitar o rompimento doméstico. Homem e mulher, assim aludindo a Adão e Eva, devem permanecer unidos a despeito das vicissitudes”.
:: Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller ::
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