O ano de 2023 marcou importantes retomadas no cinema brasileiro. Depois de alguns anos em que a arte foi sistematicamente enxergada como vilã e os artistas quase criminalizados pelo discurso irresponsável e às vezes criminoso do então governo federal de Jair Bolsonaro, respiramos um pouco mais aliviados neste ano prestes a acabar. O Ministério da Cultura ressucitou, grandes estatais voltaram a investir em fomento à arte/cultura e, embora os desafios ainda sejam enormes, ao menos agora temos boa vontade governamental. O ano de 2023 foi marcado por grandes lançamentos brasileiros nos cinemas, mas de escassos sucessos na bilheteria brazuca. No entanto, estamos aqui para celebrar os Melhores Filmes Brasileiros de 2023 e a seleção abaixo mostra que, apesar dos pesares, há muito o que ser comemorado. Participaram da nossa eleição deste ano o editor-chefe Robledo Milani, além dos editores Marcelo Müller e Victor Hugo Furtado. O critério para a elegibilidade foi: filmes lançados comercialmente no Brasil em 2023, seja em cinema ou streaming. Por isso ficaram de fora desse recorte exemplares assistidos em festivais, mostras e afins, alguns com estreia prevista para 2024. Então, sem demora, confira os 10 melhores filmes de 2023 na opinião da equipe do Papo de Cinema. Quantos destes estariam também no seu Top 10?

10. O Pastor e o Guerrilheiro
Assim, Belmonte constrói um filme ambientado em duas épocas distintas – os anos 1970 e a virada de 1999 para 2000 – ao mesmo tempo em que consegue estabelecer diálogos diretamente relacionados com os 2020 de agora. Fala de uma guerra que segue em curso, de uma reza que persiste na busca por um terreno fértil a partir do qual possa crescer e se desenvolver, sem ser distorcida ou manipulada, e, mais do que tudo, dos reflexos destas dores na elaboração de um amanhã que privilegie o equilíbrio e a diversidade de opções.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani

09. Casa Vazia
É inequivocamente um faroeste contemplativo que se passa no sul do Brasil. Seu personagem principal poderia ser um homem do Velho Oeste norte-americano, daqueles atravessados brutalmente pela obsolescência imposta, pela sensação de que seu tempo acabou. Mas ele é um sintoma do Brasil atual. O famigerado progresso que tornou cowboys e pistoleiros ultrapassados nos Estados Unidos, fazendo deles quase figuras primitivas num território então pautado por novos códigos, aqui transforma esse homem do campo brasileiro num subproduto do hoje excludente”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
EXCLUSIVO
:: Entrevista com  o diretor Giovani Borba

08. Medusa
“Em certo instante, o filme desenha a busca como a da jovem imprudente chegando perto demais da verdade – alusão ao Pecado Original e arquétipo presente em filmes adolescentes do gênero. Também como em Mate-me Por Favor, a realizadora brinca com outras convenções do cinema teen. As “Preciosas de Cristo” são versões terrivelmente evangélicas de Meninas Malvadas (2004), sobretudo em função da semelhança de Michele com as típicas líderes das mais populares nos longas colegiais estadunidenses. E essa apropriação inusitada está a serviço da amplitude de um olhar crítico”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
EXCLUSIVO :: Entrevista com a diretora Anita Rocha da Silveira

07. Meu Nome é Gal
Os acertos começam com a escolha de Sophie Charlotte para viver a protagonista. Atriz de trajetória tímida no cinema (seus melhores personagens, ao menos até então, tinham vindo pela televisão), ela tem aqui sua maior oportunidade na tela grande. A Gal Costa que ela empresta se posiciona antes da estrela maior que fãs e curiosos guardam na lembrança. Tanto é que, ao ser apresentada ao público, quem se mostra pela primeira vez é Maria da Graça, a menina vinda da Bahia rumo ao encontro de velhos amigos que estavam morando no eixo Rio-São Paulo e que, como ela, sonhavam em viver como artistas.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
EXCLUSIVO :: Entrevista
com a atriz Sophie Charlotte

06. Sinfonia de um Homem Comum
“Na construção desse painel alarmante (embora não necessariamente surpreendente), José Joffily ainda conta com as palavras valiosas de ex-funcionários dos altos escalões da administração George W. Bush – do envergonhado porta-voz da presidência na ocasião ao chefe tático que afirma veementemente ter defendido interesses econômicos vendidos à população como táticas para exterminar o mal. O trânsito orgânico entre o micro (o protagonista) e o macro (a carranca geopolítica) sugere a ideia do potencial apocalíptico das decisões de gabinete, atitudes que podem mudar (ou acabar com) inúmeras vidas ao mesmo tempo.” Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
EXCLUSIVO ::Entrevista com o diretor José Joffily

05. Pérola
“É sobre alguém que não mais está presente, mas que nunca deixou – nem deixará – de se fazer viva, seja por tudo que proporcionou e pelas lembranças que seguirão com os que delas compartilharam. Eis aqui um filme sobre as pequenas coisas, aqueles momentos tão particulares, quase insignificantes, que pela visão daqueles alheios parecem não ter importância, mas que aos que os experimentaram foram capazes de exercer tamanha influência a ponto de representar um antes e um depois em suas jornadas”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
EXCLUSIVO :: Entrevista com o diretor Murilo Benício

04. Noites Alienígenas
“Uma das constantes sintomáticas do filme é a devastadora ausência paterna. Rivelino e Paulo cresceram sem pai e o segundo está perpetuando esse comportamento ao jogar nas costas de sua ex-namorada a responsabilidade de criar sozinha o seu menino. Seria leviano dizer que há algo de novo nessa produção que utiliza estratégias narrativas relativamente comuns para contar histórias infelizmente corriqueiras em áreas periféricas. No entanto, a atenção ao cenário incomum no cinema brasileiro e a veracidade que exala dos poros do longa-metragem é algo a ser celebrado”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
EXCLUSIVO :: Entrevista com o diretor Sérgio de Carvalho

03. Pedágio
“Carolina Markowicz, aqui diretora e roteirista, faz de seu segundo longa como realizadora uma obra de discurso absolutamente direto e poderoso, mas conduzido com tanta leveza e determinação que até mesmo os mais atentos serão pegos de surpresa quando as peças deste quebra-cabeça, enfim, assumirem seus lugares. Para tanto, há de se apontar a fina sintonia que se estabelece entre Maeve Jinkings e a revelação Kauan Alvarenga (…) Thomás Aquino e a incrível Aline Marta Maia também se destacam, mas Pedágio é mesmo dos seus protagonistas e daquela que o conduz com tamanha segurança, tanto no afeto quanto na crítica, que uma vez ciente, o arrebatamento virá tão firme e forte quanto a certeza de que seria este o caminho a ser tomado.” Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani 

02. Tia Virgínia
Vera Holtz nasceu para ser Tia Virgínia, tanto pelo humor que permite transparecer a cada fala enunciada, como também pelas segundas intenções que esconde por trás de uma simpatia calculada. A atriz se mostra à vontade tanto gargalhando até cair, como nos enfrentamentos movidos por rancores mal resolvidos ou anseios nunca realizados. Arlete Salles e Louise Cardoso não ficam para trás, compondo um trio de acertos e afinada sintonia, mais pelo não dito do que pelas passagens nas quais tentam almejar uma falsa tranquilidade nunca alcançada”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
EXCLUSIVO :: Entrevista com a atriz Louise Cardoso
EXCLUSIVO :: Entrevista com a atriz Vera Holtz

01. Retratos Fantasmas
Ao revisitar as paisagens afetivas do seu passado, as conjurando por meio do cinema, Kleber Mendonça Filho faz não apenas uma ode à Recife e às suas outrora majestosas salas de cinema. Ele também festeja de modo bonito a Sétima Arte enquanto entidade capaz de contradizer simbolicamente a morte, de preservar os aspectos preciosos relativos a pessoas e paisagens. Retratos Fantasmas é uma carta de amor que acolhe até a resignação diante da teimosia do centro que parece dizer: ‘se não quer me amar do jeito que sou agora, foda-se'”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
EXCLUSIVO :: Entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho

LISTAS INDIVIDUAIS DA NOSSA EQUIPE
Para conhecer as listas individuais dos membros da nossa equipe é só conferir o podcast no qual comentamos os nossos favoritos de 2023.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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