Assistir a um longa-metragem dirigido pelo cineasta iraniano Asghar Farhadi é certeza de que seremos confrontados com histórias muito humanas, com seus personagens no limite entre o que consideram certo e errado. Foi assim com o poderoso A Separação (2011), que lhe valeu o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Também com o menos visto, mas fabuloso O Passado (2013). E, agora, com este suspense com pegada naturalista, no qual o cineasta nos traz uma história de dúvidas, traumas, vingança e perdão. Tudo com seu já conhecido talento na direção de atores e movimentos de câmera que estão sempre a serviço da trama. O roteiro é do próprio Farhadi e conta a história do casal de atores Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti). Conhecemos os dois em um momento inusitado, sendo obrigados a abandonar o apartamento em que vivem com o prédio sob o risco iminente de desabamento. Eles pensam em morar no teatro, onde estão montando uma versão de A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller. Mas, o colega de elenco de ambos lhes oferece um apartamento seu, que acabou de ser vago. Eles não sabem, mas a antiga inquilina recebia muitos convidados em sua casa – a vizinhança sempre desconfiou de que ela se tratava de uma prostituta – e essa informação determinaria o futuro de ambos. Bebendo da fonte de dramaturgos importantes – com o próprio Arthur Miller, citado diretamente no filme – Farhadi dá grande valor aos personagens e às suas jornadas. Aqui, embora existam pessoas que não façam o bem, o maligno não é algo personificado, encarnado. Observamos humanos, falhos, com suas certezas e angústias muito palpáveis. É isso que chama a atenção nos filmes de Farhadi e o que temos de melhor em O Apartamento.
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