A temática religiosa não é estranha a Martin Scorsese. Embora seja conhecido por filmes violentos, o cineasta demonstra muito interesse pelo mote, tendo realizado o controverso A Última Tentação de Cristo (1988) e o pouco visto Kundun (1997). Em Silêncio, ele faz um filme sobre a fé e os desafios de mantê-la em um ambiente nocivo. A história se passa no século XVII e acompanha a missão de dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), à procura de seu mentor, o padre Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), que teria renunciado sua fé no Japão. Os dois não acreditam nas informações que chegam aos seus ouvidos e decidem ir até o país para encontrá-lo. Na época, o cristianismo era proibido no Japão, com os fiéis sendo caçados, torturados e mortos. Neste cenário, Rodrigues e Garupe precisam não somente cuidar de si, mas dos diversos cristãos que encontram no caminho e clamam pela palavra de Deus. A direção de Scorsese está tão precisa como sempre, com o ritmo da ação conversando totalmente com a temática. Além disso, seu trabalho com os atores faz florescer atuações viscerais, como a de Andrew Garfield, que vive um homem de fé que sofre pelos feitos em cima de si e sobre os outros. O que Garfield transmite com seu cenho contorcido e olhos expressivos neste longa é muito difícil de alcançar. Mostra concentração ímpar e dedicação ao ofício. Adam Driver, Liam Neeson e Issei Ogata (que interpreta o inquisidor, principal antagonista do filme) também se mostram escolhas inspiradas para seus papéis. Rodrigo Prieto, lembrado pela Academia, tem belo trabalho, utilizando alguns chicotes interessantes com sua câmera. Planos mais longos são empregados, ressaltando os silêncios dentro da ação. E os enquadramentos são um caso à parte, com algumas tomadas dignas de serem emolduradas.
