20171222 a criada papo de cinema

Após uma empreitada hollywoodiana, o subestimado Segredos de Sangue (2013), o sul-coreano Chan-wook Park retornou à sua terra natal com esta adaptação para as telas do romance Fingersmith, da britânica Sarah Waters. Transpondo a ação da Inglaterra Vitoriana para a Coreia da década de 1930, período da ocupação japonesa no país, Park encontra no material o canal ideal para dar vazão às fixações que permeiam seu cinema, como a temática da vingança, que aqui se insere de modo mais sutil sob as camadas de uma complexa teia de reviravoltas e jogos de aparências. Exibindo todo o apuro estético que lhe é peculiar, Park cria um pastiche de gêneros, um melodrama que se metamorfoseia em thriller erótico, com pitadas de humor negro e romance, algo que, em mãos menos hábeis, poderia facilmente cair no exagero caricatural e frívolo. Guiando com precisão o olhar do espectador de acordo com a alternância de perspectiva imposta pelas sucessivas viradas do roteiro, o cineasta constrói um universo de tensão sexual latente, onde o desejo carnal, o afeto pueril e a perversão se separam por linhas tênues e envolvem o trio protagonista: Sook-hee (Kim Tae-ri), a jovem humilde que se passa por criada e age em conluio com um falso conde (Ha Jung-woo) para aplicar um golpe em Lady Hideko (Kim Min-hee), uma solitária aristocrata japonesa. Em meio a figuras naturalmente ambíguas, como o tio de Hideko, e ao requinte estético que transborda dos planos elaborados e das imagens de beleza tão hipnotizante quanto o rosto de Min-hee – que, assim como Tae-ri, se entrega de modo visceral à sua personagem – Park realiza uma obra sedutora, cuja capacidade de surpreender se sustenta até o último frame.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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