Rosa (Maria Ribeiro) beira os 40 anos. Em casa, tem duas filhas pré-adolescentes que tomam boa parte de seu tempo, além de um marido, Dado (Paulo Vilhena), que ajuda em quase nada. O pai, Homero (Jorge Mautner), é outro que se mete em confusão e ela precisa tirar das enrascadas. Porém, ele é a pessoa com quem sua relação melhor se dá nessa família tão desajustada. Ainda mais se prestarmos atenção nas farpas trocadas a com a mãe, Clarice (Clarisse Abujamra), principalmente após a revelação de que o pai biológico é outro. A protagonista, além de precisar descobrir quem é seu verdadeiro progenitor e ter de lidar com todos os afazeres domésticos, ainda trabalha incessantemente. Está no limite. Uma bomba relógio prestes a explodir. Não diferente de outras mulheres como ela, espalhadas por todos os cantos do Brasil e do mundo. A naturalidade com que o tema tratado é o grande trunfo do longa-metragem de Laís Bodanzky. A cineasta entrega uma obra tão única quanto universal ao apontar dramas mundanos com um olhar extremamente carinhoso sobre seus personagens. São elas, as mulheres, que tomam a frente aqui, especialmente Rosa e Clarice. Nem por isso, Dado e Homero são menosprezados. Todos têm seu espaço, sua história para contar. Entre refúgios da realidade, como escrever e produzir uma peça teatral, e o flerte com Pedro (Felipe Rocha), pai de um colega de escola das filhas, Rosa precisa se libertar de alguma forma. Não apenas das responsabilidades que a cercam por todos os lados, mas do próprio vazio que tomou conta de seu corpo, de sua mente, desde que ela começou a renegar seus desejos e vontades. É uma revolução interna, pequena, mas que pode mudar o mundo. Ao menos, daquele nicho familiar. Com grandes atuações e um roteiro que desencadeia uma situação atrás da outra, Bodanzky entrega não um dos melhores filmes do ano, como o mais intenso de sua carreira.
