Se pensarmos no âmbito puramente cinematográfico, o longa-metragem de estreia do cineasta Marcelo Caetano é um daqueles êxitos que merecem ampla celebração. O protagonista, Elias (Kelner Macêdo), que trabalha numa fábrica de tecidos, é esquadrinhado pela câmera com sensibilidade. O registro exala frescor, exatamente pela maneira como são encadeadas as situações e os personagens que as propiciam. Agora, some a essa excelência formal o olhar progressista de Caetano, especialmente no que tange ao registro de uma bem-vinda indocilidade dos corpos, bem como do ímpeto de uma juventude cheia de vigor por gozar a vida no que ela tem de mais essencial. Heterossexuais, homossexuais, transexuais convivem natural e harmoniosamente, aliás, como socialmente deveria ser na realidade. O plano-sequência da caminhada noturna é, ao mesmo tempo, um prodígio técnico e um belo símbolo desse libelo pela liberdade de expressão, em diversos níveis. Quando o protagonista sente tesão, ele demonstra, vai atrás dos propulsores de seu desejo. Não há moralismo que refreie esse ímpeto de ser fiel aos querer. Há, também, a deflagração subjacente de uma discrepância entre as classes sociais, haja vista o comportamento dos patrões de Elias, que constantemente reagem diante das demandas alheias com o cinismo característico dos abastados. Contudo, este filme se afasta do maniqueísmo, expondo todas as suas mensagens de maneira orgânica e pungente. Sem dúvida, uma estreia daquelas que causam expectativa quanto ao próximo longa do cineasta.
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