O norte-americano James Gray segue em sua busca por resgatar a essência do cinema clássico, de raízes na Hollywood dos anos 40 e 50, particularmente nos melodramas e épicos de cineastas maiúsculos como Douglas Sirk e David Lean, com esta adaptação do livro de David Grann sobre a trajetória real do explorador britânico Percy Fawcett. A jornada do protagonista, enviado ao coração da floresta amazônica no início do século XX com a missão de cartografar os limites inexplorados entre Brasil e Bolívia, e que acaba fascinado pela possibilidade da descoberta de uma mítica civilização perdida, proporciona a Gray um mergulho profundo em seus temas favoritos, como o dos laços familiares. Pois é com o intuito de limpar o nome da família, manchado pelo pai, que Fawcett, vivido com a mescla precisa de introspecção e intensidade por Charlie Hunnam, na melhor atuação de sua carreira, aceita o desafio em território sul-americano, e é ao lado do filho, Jack (Tom Holland), que ele encontrará seu destino no retorno à Amazônia anos depois. Empregando o esmero de praxe na composição dos enquadramentos, auxiliado pela magnífica fotografia de Darius Khondji, o cineasta constrói um autêntico épico, um estudo de personagem, que nunca rejeita a emoção e trata da obsessão humana com a mesma passionalidade de um filme de Werner Herzog, porém, emoldurando por sua elegância formal ímpar. Uma obra grandiosa, valorizada ainda pelas interpretações de Robert Pattinson e Sienna Miller, esta como Nina Fawcett, a esposa de Percy, um papel que vai muito além das convenções esperadas, e que ainda oferece à atriz o protagonismo do plano derradeiro do longa, talvez o mais belo plano de 2017, no qual Gray, assim como fizera em Era Uma Vez em Nova York (2013), insere doses incomuns de simbolismo e poesia no reflexo de um espelho.