Vencedor do Festival de Veneza em 2017, dono do Oscar de Melhor Filme em 2018, A Forma da Água é a declaração de amor do cineasta mexicano Guillermo del Toro ao cinema, mais especificamente aos monstros que, segundo palavras dele, tantas vezes o salvaram. Criando uma fábula recheada de personagens marginalizados, o realizador alinha sua trama à atualidade, mantendo uma aura pertencente aos verdes anos da produção hollywoodiana. A protagonista muda, a melhor amiga negra, o amigo/vizinho homossexual, o amor inumano. Num ano de recrudescimento das relações entre Estados Unidos e México, com a sanha preconceituosa do presidente norte-americano Donald Trump chegando ao cúmulo de separar famílias mexicanas em função da frieza “legal”, é particularmente importante um filme como A Forma da Água, que desenha a terra do Tio Sam como um ninho de intolerância e brutalidade, cuja representatividade maior em cena é o personagem de Michael Shannon, o encarregado do laboratório que se compraz em perseguir a criatura (brasileira, diga-se de passagem), bem como todos que dela se apiedam e/ou afeiçoam. É linda a forma como Del Toro constrói esse conto de fadas permeado pela selvageria, constantemente atravessado por forças empenhadas em fraturar a felicidade de outrem em nome de uma coletividade tacanha. Para o mexicano, apenas o afeto pode vencer esse obscurantismo. Nada melhor que apostar num romance insólito, mas lindíssimo. Pouco importa se de espécies distintas, Eliza (Sally Hawkins) e a criatura desenvolvem um laço para além da racionalização. A Forma da Água é romântico, mas nunca alienado, pelo contrário, pois sempre atento aos poderes que desejam tolher a liberdade.
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