Tinta Bruta, mais recente longa-metragem de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, retrata a solidão em tempos de rede sociais e parcos contatos online. Mais do que isso: mostra as dificuldades de uma conexão real entre as pessoas e como cada um lida com esse fato. A dupla de cineastas não se limita a um texto recheado de ótimos e atuais diálogos sobre os relacionamentos modernos (como o pontual, mas não menos interessante, relato de uma personagem feminina sobre o fim do namoro). É nos detalhes da câmera sobre o olhar dos outros que muito é dito. Pedro (Shico Menegat), com seus cabelos crespos e levemente compridos, o corpo esguio e uma personalidade que beira à androginia, causa efeito nas pessoas. Seja na vizinhança ou na rua, sempre há um olhar de julgamento sobre o rapaz. Às vezes, colocado da boca pra fora. Porém, na maior parte, assim como aqui fora, é o dito pelo não dito. É um preconceito velado, mas não menos doloroso ou impactante. São os pequenos traços de homofobia e machismo culturalmente fincados na sociedade brasileira que se revelam nos menores gestos. Porém, apesar do aspecto melancólico e, por vezes, deprimente, é na sensualidade de seus personagens que Tinta Bruta mostra um caminho esperançoso. Se Pedro só consegue se soltar ao longo do filme em ambientes isolados, percebe-se os leves movimentos que o rapaz começa a ter para buscar uma vida fora de quatro paredes.
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