“Em O Irlandês, o cineasta Martin Scorsese parece afirmar intermitentemente que a prepotência e a vaidade são prerrogativas de certas fases, pois elas teriam prazo de validade. Se trata do mais reflexivo de seus filmes de gângster – gênero que domina como poucos entre os realizadores em atividade. O enredo é condicionado por uma observação contundente e profunda da paradoxal fragilidade do poder adquirido por meio da intimidação e dos demais subterfúgios do submundo (…)Se compreendido dentro da obra de Scorsese, O Irlandês pode ser enquadrado como etapa lógica na trajetória dos filmes focados em gângsteres. Em Quem Bate à Minha Porta? (1967) havia jovens flertando romanticamente com a marginalidade; em Caminhos Perigosos (1973) era como se os aspirantes de outrora ocupassem as posições desejadas e curtissem a celebridade; em Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995) já eram perceptíveis melancolia e decadência nesse recorte da sociedade. No novo filme há um pouco de tudo isso, até porque o roteiro explora habilmente as potencialidades das fases vividas pelos contraventores, com o acréscimo do canto do cisne, ou seja, do testemunho da derrocada provocada pelo andamento natural da existência. É revigorante ver um cineasta desse calibre ampliando concepções sobre um tema tão explorado na sua filmografia e atores dessa envergadura, em estado de graça, fazendo algo de uma potência enorme”.
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