“Salvador já teve seus momentos de glória. Tudo o que lhe resta, no entanto, é dor. E essa se alastra por todo o seu corpo. Da cabeça, que lateja intermitentemente, às pernas, que mal lhe sustentam em pé, passando pela garganta, que o faz engasgar por qualquer coisa, ou as costas, que o obriga a descansar sempre que possível (…) Dor e Glória é tanto sobre esse personagem quanto sobre o próprio Pedro Almodóvar, que entrega, aqui, muito provavelmente, aquele que pode ser considerado o seu filme mais pessoal. E isso, definitivamente, não é pouca coisa (…) Dois elementos assumem destacada importância nessa caminhada: o sexo (ou seria o amor?) e a mãe (ou seriam as mulheres?). Ainda muito jovem, se descobre homossexual. Vem dos ensinamentos religiosos a noção do pecado, e talvez por isso se entenda o desmaio ao ver um homem nu pela primeira vez. Mas o que lhe falta é companhia, carinho, fazer parte da vida de alguém. Em pequenos gestos, se percebe que a relação entre Salvador e Alberto talvez tenha ido além do profissional. Mas se alguma vez tiveram algo de fato, foi efêmero e em nenhum dos dois deixou marcas. Ao contrário do vivido com Federico (Leonardo Sbaraglia, que transborda emoção no olhar). A paixão de tantos anos antes pode estar de volta, mas não se sente a mesma coisa duas vezes (“os homens acabaram, para mim, com você”). É mais bonita a lembrança do que a concretude, a imaginação do que a mera possibilidade”.
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