20191226 coringa papo de cinema

Coringa transborda de ousadias para os padrões do gênero. Primeiro, o Coringa não é definido em oposição a alguém: ele não é visto como uma força contrária ao Batman ou a qualquer outro – todos os conflitos partem dele, e se resolvem no próprio personagem. Segundo, alheio à obrigação do espetáculo, Phillips cria uma cadência muito mais contemplativa, imersiva, em suspense gradativo rumo à explosão final. Para os jovens ultra conectados da Internet, o filme pode soar lento, o que se revela uma escolha interessantíssima para um estudo de personagem pop. Arthur/Coringa está presente em todas as cenas da história, com exceção de um único momento. O diretor e os produtores confiam no trabalho de Joaquin Phoenix a ponto de o incluírem em cerca de 120 dos 122 minutos de duração. Felizmente, o ator está à altura do imenso desafio que possui em mãos. Phoenix parte de uma cena inicial de grande intensidade (o sorriso que ele mesmo força no rosto, algo previamente revelado nos trailers) e precisa aumentar a intensidade a partir disso, criando variações das risadas (ora naturais, ora voluntariamente artificiais), do modo de falar e se portar (infantil durante os sonhos, e depois sedutor e efeminado durante um programa de televisão). O protagonista se mostra às vezes lúcido em sua percepção social, e em outros momentos, imerso em seus delírios de perseguição e grandeza”.

:: Confira na íntegra a crítica de Bruno Carmelo ::

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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