“Pássaros de Verão é um filme sobre tradições vagarosa e violentamente obliteradas pela ganância. Pássaros de Verão remonta ao fim dos anos 60, início dos 70, na Colômbia, período que coincide com o início do narcotráfico no país. Tudo acontece no seio de uma tribo Wayuu, com as praxes locais devidamente valorizadas pelo olhar dos cineastas Ciro Guerra e Cristina Gallego, cuja apropriação de costumes e legados protagonistas se dá num processo etnográfico que amplia a abrangência da abordagem ficcional. A forma como eles sublinham canções, rituais, burocracias muito particulares estendidas por incontáveis gerações, tais como a dança que determina o destino conjunto de Rapayet (José Acosta) e Zaida (Natalia Reyes), é imprescindível à singularidade dessa narrativa que entrelaça a tradição latino-americana ligada aos povos da terra e os contornos de tragédia grega. O destino, as linhas escritas por antepassados, o desafio das heranças, tudo está nessa liga forte e incomum (…) Ciro Guerra e Cristina Gallego dividem o filme em cinco contos, capítulos de uma calamidade cada vez mais banhada em sangue, rivalidade e esquecimento de valores antes basilares. Sim, porque os homens e mulheres deixam crescer a nuvem espessa que advém dos canos dos revólveres, desprendida metaforicamente do tal capitalismo. Com isso, permitem que uma parte de si próprios morra”.
:: Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller ::
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