O ano de 2023 está acabando e com ele a sensação de que tivemos (felizmente) grandes filmes estrangeiros estreando por aqui. Infelizmente, a frequência nas salas de cinema pós-Covid ainda está bastante insatisfatória, ao contrário dos teatros e das casas de show lotados. Para alguns isso se explica por conta da ascensão do streaming na rotina de consumo cinematográfico do brasileiro (metade da nossa lista é formada pro filmes bancados/lançados por aqui via streamings, mesmo passando um tempo nas telonas). Já para outros os altos preços praticados pelos nossos exibidores ajudariam a entender a situação. Nesse cenário, é a hora de conferirmos a lista com os Melhores Filmes Estrangeiros de 2023. Participaram da nossa eleição deste ano o editor-chefe Robledo Milani, além dos editores Marcelo Müller e Victor Hugo Furtado. O critério para a elegibilidade foi: filmes lançados comercialmente no Brasil em 2023, seja em cinema ou streaming. Por isso ficaram de fora dessa recorte vários exemplares assistidos em festivais, mostras e afins, alguns com estreia prevista para 2024. Então, sem mais demora, confira os 10 melhores filmes de 2023 na opinião da equipe do Papo de Cinema. Quantos destes estariam também no seu Top 10? Conta para a gente.
10. Folhas de Outono
“A progressão da história é marcada por suaves elipses que impulsionam gentilmente a trama à frente. Além disso, há um minimalismo nas expressões e nos gestos dos personagens, marcas registradas do cinema de Kaurismäki que sugerem a contenção nessa coletividade bem menos fervorosa e vulcânica do que as latinas, por exemplo. Os diálogos são outros pontos altos dessa pequena (e linda) crônica de trabalhadores braçais à deriva numa sociedade repleta de gente entorpecida pelos desafios da vida. O cineasta finlandês consegue extrair graça até de episódios que parecem inevitavelmente melancólicos, sobretudo por encarar os seus personagens como figuras notadamente tragicômicas.”. Confira a crítica na íntegra de Marcelo Müller
09. Decisão de Partir
“Park Chan-wook constrói de maneira inteligente essa profusão de sensações, compreensões, entendidos e subentendidos por meio da famigerada mise-en-scéne, ou seja, pelo modo como distribui os elementos em cena e os faz estabelecer sentidos relacionando uns aos outros. Um aparentemente simples interrogatório se transforma num estudo contundente de intenções por meio da fragmentação de pontos de vista e pela alternância expressiva de poder enfatizada semioticamente. Às vezes Park Chan-wook enquadra o policial e a suspeita a partir de fontes distintas – ele, da “realidade”, ela, da captura do monitor de vídeo, o que sugere a representação. Os tetos baixos que indicam pressão, as mudanças abruptas de direção e os avanços repentinos no tempo são outros sinais claros disso”. Confira a crítica na íntegra de Marcelo Müller
Podcast #89 :: Decisão de Partir
08. Triângulo da Tristeza
“As forças que se encontram em ação durante as quase duas horas e meia de duração de Triângulo da Tristeza servem tanto para apontar o quão profundo podem ser os abismos que separam um extremo de outro dessa mesma população, como também o quão frágil pode ser essa realidade que oferece tanto a uns poucos, ao mesmo tempo em que exige ainda mais de uma imensa maioria. Da chefe das camareiras que se mostrará atenta o suficiente para lidar com uma improvável inversão desta condição ao quão tortuoso pode ser à volta a um suposto status quo pré-estabelecido, cada figura encenada tem em si um modelo de uma sociedade não apenas doente, mas, acima de tudo, inconsciente da problemática que abraça de forma tão afoita”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
07. O Assassino
“David Fincher parte de uma sobriedade que contrapõe a saturação dos filmes criminais mais recentes. À procura de uma comparação (ou mesmo de uma associação) que ajude a compreender esse contraste que o cineasta propõe frente às tendências atuais desse filão, podemos dizer que seu novo filme é uma espécie de anti-John Wick. Enquanto as histórias (ótimas, por sinal) protagonizadas por Keanu Reeves optam por esticar a violência ao limite, desenhando espirais cheias de exageros, aqui sobressai o rigor de um sujeito invisível (…) é um belo thriller de observação em determinados momentos, sobretudo pela negação quase completa da ação como complemento automático de um bom suspense.” Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
Podcast #123 :: O Assassino
06. Monster
Na trama do mais novo filme assinado pelo renomado cineasta japonês Hirokazu Koreeda, uma mãe se sente incomodada quando seu filho começa a se comportar de modo estranho. Ao saber que esse comportamento tem a ver com o professor do menino, a mãe vai até a escola para saber o que acontece. Premiado como Melhor Roteiro e com a Palma Queer no Festival de Cannes 2023, o longa-metragem chegou por aqui confirmando o alto nível da carreira de um realizador que tinha vencido recentemente a Palma de Ouro no Festival de Cannes com Assunto de Família (2018), e que mesmo antes se credenciava como um dos melhores do mundo. Méritos que aqui são ratificados.
05. Passagens
“É um filme sobre o hoje, e Ira Sachs se mostra tranquilo nessa posição, distante dos exageros de alguns dos seus primeiros trabalhos (Deixe a luz Acesa, 2012), receoso em pensar no amanhã como se mostrou a seguir (O Amor é Estranho, 2014), mas ainda assim menos reflexivo do que em sua incursão anterior (Frankie, 2019). Eis um relato do presente, sobre erros e acertos, que mira personagens falhos e indecisos, mas nunca cansados de seguir tentando. E justamente por isso, humanos demais para serem encarados sem julgamentos. Pois estará nessa identificação sua mais profunda natureza – e indelével verdade”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
04. Close
“Alguns cineastas se lançam na árdua tarefa de filmar o intangível. O belga Lukas Dhont encara essa missão complexa em Close. Seria redutor afirmar que o longa tem como assunto principal o luto, pois há outros sentimentos e percepções nessa história que começa desenhando a beleza da amizade. Diga-se de passagem: uma amizade que tende a despertar sensações de nostalgia e/ou admiração nos espectadores. O realizador não demonstra interesse no aspecto superficial das coisas, algo evidente pela natureza evocativa de sua mise-en-scène sempre em busca de algo difícil de definir em palavras”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
03. Os Fabelmans
“Sammy aos poucos desenvolverá uma íntima relação com o fazer cinematográfico. O olhar por meio de uma câmera, o exercício de paciência e determinação exigido pelo revelar de cada fotograma, a descoberta da imagem e o potencial cognitivo que sua união com outras semelhantes pode gerar, e o impacto causado naqueles que com elas se confrontam, tanto para o bem quanto para o mal, serão fundamentais nesse processo. Sammy é uma figura tão rica em meandros e vontades, em leituras e ambições, que não consegue ficar restrito apenas às ações que executa em um momento ou outro, ou nem mesmo pelas interações que desenvolve ao lado de seus colegas de elenco. Representa, enfim, algo maior e mais duradouro”. Confira na íntegra a crítica de Robledo Milani
02. Tár
“Costura ponderações sobre abuso, elitismo cultural, poder do esforço, ética/antiética e a elevação da arte. Nesse caminho, não distingue mocinhos e vilões, tomando o cuidado de rechaçar o jogo fácil da atribuição de responsabilidades, evitando sentenciar as boas e as más condutas. As manipulações de Lydia são mais violentamente expressas no semblante de contrariedade de sua esposa vivida com Nina Hoss. A frustração decorrente das promessas veladas (outro aspecto da manipulação) é materializada nas milimétricas e indicativas sugestões fisionômicas da assistente interpretada por Noémie Merlant. Já a ternura reside no gesto de segurar o pé da filha para ela conseguir dormir”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
01. Assassinos da Lua das Flores
“A sensação residual de faroeste vai além da disputa territorial e discursiva entre homens brancos e indígenas. Existe um xerife naquela localidade, mas se trata do sujeito exercendo um cargo meramente decorativo (fica implícito que a lei não moverá um dedo sequer para punir o lado mais forte dessa disputa feroz). Há também matadores de aluguel a serviço dos poderosos e fazendeiros que comandam a região como se ela fosse o seu feudo – aliás, a hereditariedade é frequentemente citada como vital às pretensões usurpadoras de William Hale e seus capangas. Por fim, guardadas as devidas proporções, é possível associar os Osage aos cineastas que revolucionaram Hollywood a partir dos anos 1960, entre os quais o próprio Martin Scorsese no início de sua carreira”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller
Podcast #119 :: Assassinos da Lua das Flores
LISTAS INDIVIDUAIS DA NOSSA EQUIPE
Para conhecer as listas individuais dos membros da nossa equipe é só conferir o podcast no qual comentamos os nossos favoritos de 2023.
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