Um dos grandes males de Hollywood é insistir em algo que dá certo nas bilheterias, mesmo que a qualidade seja pífia. O primeiro longa desta trilogia já havia sido um desastre quanto à história e às atuações, mas especialmente por se vender como uma ode ao sadomasoquismo tendo apenas um tapinha que outro nas cenas de sexo sem sal. Nesse quesito, este segundo exemplar até consegue ser, de leve, um soft porn mais assumido com ares de filme B. Talvez por contar com a presença de Kim Basinger (quem não se lembra de 9 1/2 Semanas de Amor, 1986?) e ter James Foley à frente do projeto, conhecido diretor de videoclipes de Madonna nos anos 80 (até da subestimada comédia estrelada pela cantora, Quem é Essa Garota?, 1987, menos pior do que falam), e de, recentemente, ter feito vários episódios de House of Cards (2013-). Porém, nem esse ar assumido salva esse romance fracassado entre Christian Grey e Anastasia Steele. Ou, melhor dizendo, entre o machista que se acha dono do mundo (ainda que com algumas ressonâncias de culpa) e a submissa garota com ares de Cinderela. A “entrega” para o príncipe encantado que gosta de umas safadezas na hora H quer se aprofundar na psique do rapaz, deixando a garota servir de escada para o protagonista. Cinquenta Tons Mais Escuros é uma obra misógina, antes de mais nada, por mais floreada que seja com ares de “a mulher pode ser o que quiser”. Não, neste caso, ela é somente mais uma nas mãos de um machão possessivo. Em meio a tantos escândalos envolvendo denúncias de abusos e estupros nos bastidores de Hollywood, uma obra dessas só serve para legitimar, de forma negativa, o modo de se tratar mulheres. Ainda bem que só tem mais um capítulo para este lixo voltar ao ostracismo.