Exorcismos e Demônios consegue a proeza de ser um filme absolutamente ruim, especialmente, mas não apenas, por se tratar de um horror cristão. Não entendeu? Pois a gente explica. Os roteiristas tiveram a “brilhante” (quilos de sarcasmo nessa palavra) sacada de reafirmar preceitos religiosos diante de uma ameaça infernal. Claro, pois se existe o Diabo, é certo que Deus também não se trata apenas de uma crença infundada. Dessa forma, o longa-metragem de Xavier Gens faz uma força danada para enfiar mensagens de fé em meio a uma trama que grita banalidade a cada minuto. O começo mostra uma jornalista, cética e com faro investigativo – cuja concepção parece ser tirada de um desenho animado que tem de mastigar bem os lugares-comuns atribuídos à profissão, com diálogos vergonhosos e atitudes estereotipadas –, que decide ir à Romênia para desvendar os mistérios em torno da estranha morte de uma freira. De maneira pouco disfarçada, Exorcismos e Demônios faz uma ginástica desgraçada para apenas uma coisa: provar à jornalista que Deus existe. Gente morre, o diabo se manifesta, mosteiros são assolados por forças malignas, tudo isso para mostrar à menina que trabalha para o tio – um editor-chefe bondoso e tolerante, inclusive disposto a gastos consideráveis, como há muito não se via no cinema – que Deus escreve certo por linhas tortas. Tem outra coisa completamente perniciosa no filme. Recorrendo ao mito do pecado original, constante na bíblia cristã, em que Eva é responsável pela danação, pois inferior e vulnerável, neste filme as mulheres são vistas como totalmente frágeis. Em seus corpos se aloja a perversidade proveniente da transgressão demoníaca; elas que precisam ser esclarecidas quanto a verdade; e uma delas tenta um padre (ah, Adão fazendo escola). Não bastasse ser um horror (no péssimo sentido da palavra), Exorcismos e Demônios possui um discurso velho, mofado, ultrapassado e a ser combatido.