Trabalhos por encomenda configuram uma realidade na vida dos cineastas. Seja a fim de conseguir dinheiro para bancar uma produção mais autoral ou apenas para manterem-se sempre na ativa nos sets de filmagem, diretores consagrados já se valeram do contrato assinado sem grandes liberdades poéticas. No entanto, o canal de TV italiano RAI entregou uma tarefa um tanto insólita para o mestre Federico Fellini: realizar um documentário sobre palhaços. É notável o apreço do diretor pelo universo circense, mas quem já assistiu a um Fellini sabe que nada em sua obra é padrão. Logo, o filme virou uma realidade, mas é tudo, menos um documentário com estética televisiva. Focado em palhaços famosos do passado e também numa nova geração que tenta levar adiante a tradição do picadeiro, a produção é muito mais sobre a alma dos profissionais por trás da pesada maquiagem colorida do que um tratado acerca da arte de fazer rir. De documental no longa só a aparição do próprio cineasta e de sua equipe, mostrados como invasores dos bastidores do circo, num clima bucólico bem ao gosto do italiano que presenteou o mundo com obras como A Doce Vida (1960) e 8 e ½ (1963).
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