Peter O’Toole foi um homem que nasceu para o cinema – e com o qual viveu sua maior paixão até falecer, aos 81 anos, no dia 14 de dezembro de 2013. Apenas cinco anos após estrear como ator, em produções para a televisão e em pequenos papeis no cinema, ele conseguiu sua primeira oportunidade como protagonista, no épico Lawrence d’Arábia (1962), de David Lean, filme que definiu seu status cinematográfico e com o qual ficou identificado pelo resto da vida. No entanto O’Toole foi muito mais do que este explorador à serviço da Coroa Inglesa durante a Primeira Guerra Mundial. Em 2003, ao ser convidado para receber um Oscar especial pelo conjunto de sua obra, por pouco não recusou a honraria. “Ainda tenho muito o que mostrar”, afirmou na época. E estava certo. Quatro anos depois, conquistou sua oitava indicação como Melhor Ator, pelo drama Vênus (2007), de Roger Michell. Ele perdeu, também pela oitava vez, mas pouco importava. Em 2011 chegou a declarar que estaria se aposentando, mas mesmo assim se envolveu em mais cinco projetos nos anos seguintes. Em homenagem a este que foi um dos maiores atores de todos os tempos, o Papo de Cinema presta aqui sua homenagem, relembrando seus dez trabalhos mais marcantes. Confira – e relembre!
10. Ratatouille (2007)
Com 75 anos e mesmo tendo diminuído bastante seu ritmo, Peter O’Toole seguiu envolvido em projetos de destaque, como o épico Tróia (2004) ou a fantasia Stardust: O Mistério da Estrela (2007). Porém, dentre todos esses trabalhos, talvez o que mais o tenha aproximado da atual geração tenha sido essa animação, uma das produções da Pixar/Disney de maior sucesso, vencedora do Oscar na categoria e com um faturamento de mais de US$ 600 milhões em todo o mundo. Como a voz do temido Anton Ego, um irascível crítico gastronômico, ele representou todos os medos dos protagonistas – e também dos espectadores – até ser conduzido por uma das mais interessantes reviravoltas do universo dos desenhos animados. Um filme delicioso, em todos os sentidos.
09. O Substituto (1980)
O’Toole foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro, além de ter sido considerado o melhor ator do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, ao aparecer como um diretor de cinema fascinado por um novo dublê que pode ser a salvação – ou a tragédia – de seu mais recente filme. Indicado ao maior prêmio do cinema também nas categorias de direção e roteiro adaptado, é um longa que abusa da ironia e da metalinguagem, além de prestar uma curiosa homenagem: o protagonista afirmou ter se inspirado em David Lean – cineasta responsável por seu maior sucesso – para construir esse personagem!
08. A Classe Governante (1972)
A mais alta e afortunada classe inglesa está em foco nesse drama que revela o que se passa nos bastidores dos bem nascidos muito antes do roteirista Julian Fellowes ganhar seu Oscar por Assassinato em Gosford Park (2001) ou fazer sucesso na televisão com Downton Abbey (2010). O’Toole, como o lorde que tenta dar um golpe no sobrinho insano e ficar com sua milionária herança, foi indicado à estatueta dourada mais cobiçada do cinema, além de ter sido considerado o melhor ator do ano pelo National Board of Review.
07. Becket: O Favorito do Rei (1964)
Dois anos após viver o impressionante T.E. Lawrence, O’Toole estava ao lado dos grandes Richard Burton e John Gielgud como o Rei Henrique II, que lamenta a ausência de Thomas Becket, ao mesmo tempo que relembra as incríveis aventuras que viveu ao lado do homem que chegaria a ser considerado um santo pela Igreja Católica. O filme recebeu ao todo 12 indicações ao Oscar – inclusive para os três atores de maior destaque – mas ganhou apenas o de roteiro adaptado. Já O’Toole, no entanto, foi premiado com o Globo de Ouro, além de ter sido lembrado também no BAFTA, o Oscar inglês.
06. Um Cara Muito Baratinado (1982)
Um ator de muito sucesso, porém em plena decadência, com problema de bebida e em vias de estrelar um programa de televisão – numa época em que tevê significada o ponto mais baixo da carreira de um intérprete – foi o papel que colocou novamente o nome de Peter O’Toole em evidência. Essa comédia dramática lhe garantiu sua sétima indicação ao Oscar – e, por mais de vinte anos, a última – além de ter sido lembrado também ao Globo de Ouro. Um trabalho que apostou em sua versatilidade, com um resultado acima da média.
05. O Último Imperador (1989)
Este épico vencedor de 9 Oscars – inclusive Melhor Filme e Direção, para Bernardo Bertolucci – foi celebrado em todo o mundo ao narrar a trajetória real do homem que nasceu em berço de ouro e teve seu poder divino eliminado graças à revolução comunista na China. O’Toole é o braço direito do rapaz, o inglês que lhe ensina cada passo, além de ser um observador privilegiado de uma das maiores transformações sociais da história humana. Apesar de ter sido ignorado no Oscar, seu impressionante registro lhe garantiu uma indicação ao BAFTA, além de ter sido premiado no David di Donatello, o Oscar italiano, como Coadjuvante.
04. Adeus, Mr. Chips (1969)
Acostumados a grandes e dramáticos personagens, Peter O’Toole surpreendeu ao aparecer como o protagonista desse romântico musical, dando vida a um professor tímido que encontra o amor onde menos espera. Refilmagem de um drama de 1939 estrelado por Greer Garson, esta versão garantiu ao ator uma nova indicação ao Oscar, além de ter sido premiado no Globo de Ouro, no David di Donatello e no National Board of Review.
03. Vênus (2006)
Quase vinte e cinco anos após sua sétima indicação ao Oscar, Peter O’Toole voltou novamente à disputa pela estatueta dourada como esse veterano ator em busca de uma musa inspiradora. E quando a encontra, não está disposto a desistir tão cedo dela – ainda que seja uma garota com idade de ser sua neta. Concorreu também ao Globo de Ouro, ao BAFTA e aos prêmios do Sindicato dos Atores dos EUA, ao Critics Choice Award e ao dos cineastas independentes de Londres. Um retorno marcante e de grande impacto.
02. O Leão no Inverno (1968)
Peter O’Toole tinha 36 anos, vinte e cinco a menos do que Katharine Hepburn, que fazia sua esposa neste épico com toques shakespearianos – e em nenhum momento se percebe essa diferença, tão grande e forte é sua atuação. Ambos são dois verdadeiros leões em cena, num duelo de interpretações marcante e inesquecível: ele como o Rei Henrique II (papel que já havia interpretado em Becket: O Favorito do Rei, 1964), e ela como a Rainha Eleanor de Aquitânia, dois nobres que se amam – e se odeiam – com a mesma intensidade. Além de ter sido indicado ao Oscar – um das sete categorias a qual o filme concorreu, tendo sido premiado em 3 (Atriz, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora) – O’Toole ganhou o Globo de Ouro por este trabalho absolutamente irretocável.
01. Lawrence d’Arábia (1962)
Apesar de ter vivido quase uma centena de personagens diferentes no cinema e na televisão, nenhum foi maior do que o oficial T.E.Lawrence, protagonista deste épico dirigido por David Lean e vencedor de 7 Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção. Perdeu, no entanto, em três categorias, entre elas a de Melhor Ator, justamente Peter O’Toole. Essa derrota foi sentida também no Globo de Ouro, mas revertida no BAFTA e no David di Donatello. Absolutamente irresistível, com impressionantes olhos azuis e um cabelo tão reluzente quanto o próprio sol, o astro dá vida a este complexo homem enviado à Guerra no ponto mais distante possível do conflito. Herói, charlatão, sádico ou humanista, todas as alcunhas foram possíveis, e nenhuma suficiente para defini-lo. Um dos grandes personagens da história do cinema, que mesmo que tenha sido inspirado em fatos reais só se tornou possível e eterno graças ao brilhante desempenho desse astro que não será jamais esquecido.