Há 20 anos, um longa-metragem sobre brinquedos que tinham vida própria tomou conta das bilheterias dos cinemas de todo o mundo. Será preciso dizer qual o título da animação? Ela já vai ser peça importante neste Top 10 que homenageia seu estúdio, já que foi a partir dela que a Pixar se tornou referência no gênero, inflando os cofres de produtores e criando um imaginário espetacular na mente do espectador Nas duas últimas décadas, as telonas foram tomadas pelas mais diferentes e criativas histórias criadas por gente adulta que pensa como criança. Ou seriam crianças que pensam como adultos? O certo é que a Pixar já presenteou o público com as mais variadas histórias e excelência técnica, criando novos rumos para o cinema infanto-juvenil que, cada dia mais, conquista gente grande. E o estúdio está de volta com Divertida Mente, produção que estreia esta semana prometendo ser mais um sucesso de público e crítica. Com tanto a se falar, a equipe do Papo de Cinema lembra os dez títulos (e seus derivados) que formam a trajetória do estúdio no cinema com longa-metragens. Confira a opinião dos nossos críticos e colaboradores!
Trilogia Toy Story (1995, 1999 e 2010)
Ao infinito e além. O lema de um dos protagonistas de Toy Story hoje parece uma premonição ao destino do filme que, além de se transformar numa das franquias de maior bilheteria da história, fez com que seu estúdio se tornasse a principal referência em animação. E se a Pixar ocupa tal posto aparentemente inabalável, isso se deve a um certo cowboy e a um guerreiro intergaláctico, seus demais amigos brinquedos e seus criadores John Lasseter, Pete Docter, Andrew Stanton e os outros gênios por trás dessa incrível história. Responsáveis por gerar quase 2 bilhões de dólares em arrecadação mundial, a trilogia Toy Story mantém outros feitos, como a indicação ao Oscar de Melhor Filme que a terceira parte da franquia recebeu – algo conquistado apenas por Up: Altas Aventuras (2009) e A Bela e a Fera (1991). Woody, Buzz, Rex, Sr. Cabeça de Batata e toda a trupe de brinquedos do Andy viveram as mais incríveis aventuras e enfrentaram os vilões e situações adversas mais improváveis, mas permaneceram juntos pelos valores da amizade e companheirismo. Cada um dos três filmes proporciona emoções tão intensas e genuínas que seus admiradores são os mais fieis e desde já aguardam ansiosos por Toy Story 4, anunciado para 2017. – por Conrado Heoli
Vida de Inseto (A Bug’s Life, 1998)
Atrapalhado, a inventora formiga Flik decide ser o porta-voz de sua colônia contra um grupo de gafanhotos predadores. Para isso, decide reunir um grupo de guerreiros para defender sua comunidade. Finalmente achando tais defensores, o que o jovem não imaginava é que eles seriam integrantes de um circo de pulgas. Segundo título da Pixar para os cinemas, Vida de Inseto foi, em parte, ofuscado devido a proximidade de seu lançamento com outro filme de animação focado no universo dos insetos, FormiguinhaZ (1998) da Dreamworks. Apesar disso, o filme co-dirigido por John Lasseter e Andrew Stanton leva a melhor com uma narrativa engraçada, inesperada que flerta muito com o universo dos estúdios Disney mantendo a originalidade que a Pixar apresentou em Toy Story (1995) e, de quebra, ainda deixa como mensagem que todos nós temos um herói dentro de nós, independente da posição que a sociedade nos coloca. – por Renato Cabral
Monstros S.A. (Monsters Inc., 2001)
Dentre os universos da Pixar, aquele habitado pelos monstros dentro dos armários é provavelmente um dos mais criativos e bem desenvolvidos a que o estúdio já deu vida. Dirigido pelo mesmo Pete Docter responsável pelo ótimo Up: Altas Aventuras (2009) e pelo mais recente e primoroso Divertida Mente (2015), o longa-metragem conta a história de Sulley e Mike, monstros funcionários da empresa que dá título ao filme, onde trabalham assustando criancinhas para coletar seus gritos, uma rica fonte de energia para eles. Porém eles acabam com um problema nas mãos quando deixam entrar no mundo dos monstros a pequena Boo, uma menininha que vai desafiar a “humanofobia” dos protagonistas e colocá-los contra o ardiloso Randall. Cheio de momentos memoráveis, Monstros S.A. vence qualquer um através da atenção dada aos detalhes de seu mundo, mesmo os menores como o buraco na poltrona de Sulley que obviamente serve para encaixar o seu rabo. Minúcias que vão compondo um universo crível, colorido e acolhedor, palco das ideias criativas daquela que foi a melhor fase do estúdio – que foi de Toy Story em 1995 a Toy Story 3 em 2010 – e mesmo sua continuação, Universidade Monstros (2013), foi um dos exemplares apenas corretos que produziram. – por Yuri Correa
Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003)
Contando a história de um disfuncional e inseguro chefe de família, Procurando Nemo, de Andrew Stanton e Lee Ukrich, conta a odisseia de Marlin atrás de seu filho perdido, o pequeno Nemo, um peixe palhaço que foi capturado e levado para a Austrália. A jornada de Marlin envolve também a pequena e amnésica peixe azul Dory, dublada magistralmente por Ellen DeGeneres, que imprime em sua voz uma forte mensagem de inclusão, visto que era uma figura LGBT em um papel de destaque em um filme blockbuster da Disney. Além de conter uma história de medo e superação de desafios e receios, o roteiro ainda abre espaço para uma forte apologia ao modo de vida alternativo: as tartarugas que cruzam o atlântico como avatares do movimento hippie aludem também ao estereotipo real dos usuários de cannabis sativa, de um modo sutil e não invasivo. A régia da dupla consegue equilibrar o colorido que chama a atenção das crianças ao mesmo tempo em que apresenta uma faceta mais ligada a temas espinhosos e edificantes, que por sua vez, tocam os adultos. Tudo isso sem parecer nem um pouco forçado. Pelo contrário, singelo ao extremo. – por Filipe Pereira
Os Incríveis (The Incredibles, 2004)
Depois de produzir aventuras com brinquedos e animais, o Pixar se desafiou em um enredo protagonizado por personagens humanos. Uma das consequências é que o estúdio criou um padrão visual para pessoas em computação gráfica que até hoje é empregado em peças publicitárias. O apuro técnico caminha lado a lado com a dramaturgia e o roteiro de Os Incríveis é impecável, com bastante ação e uma verdadeira conexão entre os membros da família de super-heróis. Sem menosprezar a inteligência do espectador, os poderes dos personagens refletem suas personalidades, mas isso não é explicitado de forma excessivamente didática. Há o pai que tem que ser forte por todos, a mãe que se desdobra para manter as coisas funcionando, a adolescente tímida que quer passar despercebida e o garoto hiperativo. Por causa de suas qualidades inegáveis, o filme conquistou fãs que comemoraram o anúncio da sequência, programada para chegar aos cinemas em 2016. – por Edu Fernandes
Carros (Cars, 2006)
Depois de explorar mundos como o dos brinquedos, dos insetos e dos super-heróis, a Pixar voltou seu foco para o universo do automobilismo e da velocidade em “Carros”. A animação narra a história de Relâmpago McQueen, um carro de corridas iniciante e ambicioso, que sonha em ser campeão da Copa Pistão. A caminho da prova decisiva, Relâmpago acaba preso na pequena cidade de Radiator Springs, onde passa a conviver com os habitantes locais, e descobre o verdadeiro valor da amizade e do companheirismo. Dirigido por John Lasseter e Joe Ranft, o longa apresenta a qualidade técnica esperada das produções Pixar, com cenas de corrida divertidas e empolgantes, além de acertar no bom humor, especialmente na figura do simpático caminhão-reboque Mate. Mas sua trama, com lições de moral um pouco batidas, fica abaixo do patamar estabelecido pela produtora. Ainda que não tenha agradado tanto aos críticos, Carros foi um enorme sucesso de público, ganhando uma continuação em 2011 e também derivados, como o longa Aviões, de 2013. Isso sem falar no verdadeiro fenômeno de merchandising que a franquia se tornou, com centenas de produtos licenciados que fazem a alegria das crianças pelo mundo. Por esses motivos, Carros 3 vem aí. – por Leonardo Ribeiro
Ratatouille (2007)
Um rato sonha em ser cozinheiro e se associa a um atrapalhado faxineiro para realizar sua vocação. Essa pode ser uma das premissas mais absurdas que já se teve notícia em termos de animação. Mas se torna totalmente crível ao assistirmos a este longa-metragem, uma das mais apaixonantes obras da Pixar. Dirigido por Brad Bird, o filme já impressionava pelo visual. Os ratos são criados de forma impecável. O protagonista, o ratinho Remy, se comunica com os humanos apenas com os olhos e com gestos, tendo uma expressividade ímpar. O curioso na construção dos personagens é que os ratos são mais belos que os humanos, criados de forma quase que talhada pelos artistas da Pixar. Na história, Remy acompanha as receitas do chef francês Gusteu, que acredita que todo mundo pode cozinhar. Depois de ter recebido críticas negativas, o cozinheiro acaba entrando em depressão, morrendo tempos depois. Descobrir isso é um baque para Remy, que tem um talento todo especial para culinária. Após perder-se de sua comunidade roedora, o ratinho se vê em frente ao restaurante do falecido Gusteu. Quando, acidentalmente, ele ajuda o atrapalhado faxineiro Linguini a criar uma receita de sopa fabulosa, o destino dos dois muda totalmente. – por Rodrigo de Oliveira
Wall-E (2008)
Solitário em meio a sua coleção de artigos do passado, incluindo um VHS do romântico Alô, Dolly! (1969), o pequeno Wall-E trabalha diariamente compactando o lixo de uma Terra lotada de entulhos, na qual os humanos não conseguem mais viver. O diretor Andrew Stanton constrói a primeira parte do filme como uma alusão/homenagem ao cinema mudo, principalmente porque a imagem transmite boa parte da informação imprescindível à nossa compreensão e adesão. Eva, uma robô futurista, chega ao planeta devastado para procurar vestígios de vida logo depois de Wall-E encontrar uma planta que nasceu bravamente no solo tido como infértil. Eles se apaixonam e partem, mais adiante, à estação espacial onde os humanos aguardam um planeta similar para perpetuarem a espécie ou mesmo a restauração da Terra como espaço novamente favorável à sobrevivência. A Pixar causou uma verdadeira revolução no modo de fazer animações, criando paradigmas, virando parâmetro de qualidade técnica e artística. E essa é uma das obras-primas do estúdio chefiado por John Lasseter, um daqueles filmes pelos quais seu legado será ainda muito estudado no futuro como algo historicamente relevante dentro do gênero em que estão inseridas suas produções. – por Marcelo Müller
Up: Altas Aventuras (Up, 2009)
Após a excelência elevada à máxima potência com Wall-E (2008), era difícil crer que a Pixar conseguiria se superar na originalidade com seu filme seguinte. Pois a história do idoso marrento que queria voar de balão dentro de casa para homenagear sua amada conseguiu atingir notas ainda mais elevadas. Os dez primeiros minutos do longa já explicam o porquê da divertida jornada que virá a seguir: vemos toda a história de amor que envolve o calado Carl e a tresloucada Ellie, da amizade de infância ao casamento, as dificuldades financeiras e a triste e tocante morte dela. Só por esta sequência inicial, a animação conquista todos e faz o cara mais metido a machão se debulhar em lágrimas. Mas o que vem a seguir é uma aventura completa, com um protagonista mais do que complexo e carismático e coadjuvantes que brilham a cada entrada em cena. Um espetáculo visual e narrativo que mereceu todo o sucesso de prêmios e ingressos vendidos. Como não querer viajar de balão depois disso tudo? Ainda mais se for com Carl, Russell e Dug. – por Matheus Bonez
Valente (Brave, 2012)
Mesmo tendo ganhado o Oscar de Melhor Animação em 2012, Valente não é uma das animações mais memoráveis da Pixar, sendo que junto a Carros 2 (2011) e Universidade Monstros(2013) formou um período criativamente fraco para o estúdio. No entanto, há um elemento no filme que merece todos os aplausos possíveis, e este é Merida, sua protagonista. Forte e independente, a garota é do tipo que não deixa as pessoas ditarem o que ela deve fazer, estando determinada a dar rumo ao próprio destino. E é por ela ser uma personagem tão bacana é que é uma pena que o filme decepcione ao envolvê-la em uma história boba e não muito interessante, que a coloca tendo que correr conta o tempo para salvar a mãe, que virou um urso. De qualquer maneira, é até bom que Valente tenha feito um bom sucesso de bilheteria, já que mostra que as pessoas têm interessadas em ver personagens como Merida na tela. – por Thomás Boeira