Quando se fala no gênero policial no cinema, a fórmula é basicamente sempre a mesma: um policial (talvez com um parceiro) sente a necessidade de investigar algum crime da qual ninguém quer saber. Ele (no plural, como quiser) vai contra tudo e todos para chegar à verdade. Quando o filme é de qualidade, uma narrativa destas rende obras espetaculares. Nesta semana chega às telonas um representante nacional , Operações Especiais, com Cléo Pires à frente de uma tropa policial. Por isso, elegemos dez dos grandes longas policiais da história. São muitos, é claro, mas esta lista contém grandes representantes. Será que o seu favorito está aqui? Confira!
Bullitt (1968)
Filme que marcou a carreira de Steve McQueen, Bullitt traz o astro no papel de Frank Bullitt, policial de San Francisco que recebe a tarefa de proteger a testemunha de um importante caso contra a máfia. Mas quando este acaba sendo morto de qualquer forma, Bullitt abre uma investigação para pegar os responsáveis. Ao longo da narrativa, o que se vê é um thriller instigante e conduzido com segurança por Peter Yates, fazendo jus à calma e a inteligência de seu complexo protagonista, a quem McQueen traz não só virilidade, mas também certa melancolia, em uma atuação que contribui muito para a riqueza do filme. Bullitt é reconhecido também por suas cenas de perseguição, que representam momentos absolutamente memoráveis, seja quando o protagonista dirige à toda velocidade por San Francisco atrás de um suspeito ou quando corre pela pista do aeroporto no terceiro ato. Mas seria injusto resumir o longa apenas a elas quando explora tão bem os conflitos morais de seu personagem diante da sujeira que pode existir em sua área de trabalho. – por Thomás Boeira
Operação França (The French Connection, 1971)
O vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1972 é uma das obras mais secas e realistas sobre o mundo policial contemporâneo. Com um protagonista como Popeye (vivido à perfeição por um inspirado Gene Hackman), a imagem da corporação começou a ficar longe dos estereótipos, seja dos policiais incompetentes, os linha-dura ou o que trabalham também para o crime. O protagonista é incorruptível, mas longe de ser perfeito. Pelo contrário. É racista, grosseiro, agride quem precisar para chegar às informações que precisa. E não é pouca coisa, já que ele e seu parceiro, Cloudy (Roy Scheider) investigaram a contragosto de todos o maior cartel de heroína da história até então. Popeye não poupa nem um Papai Noel, o que já é mostrado de início no longa. Uma quebra de barreiras proporcionada pela mente insana de William Friedkin, que até este filme tinha como maior experiência a direção de documentários, o que, definitivamente, facilitou para o realismo da trama. O resultado? Bateu o clássico Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, na cerimônia da Academia. Se é melhor ou não, é outra discussão. O que importa foi a nova dinâmica proporcionada aos filmes do gênero, algo que perdura até hoje. – por Matheus Bonez
Máquina Mortífera (Lethal Weapon, 1987)
No papel, Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) não formariam uma dupla ideal. O primeiro é um policial tresloucado, sedento pela própria morte após perder sua esposa e filho em um acidente. O segundo está próximo da aposentadoria e só queria passar seus últimos momentos na força policial sem grandes dores de cabeça, já estando velho demais para qualquer tipo de ação. Deu-se o destino que estas duas pessoas tão diferentes formassem uma dupla e, em meio a rusgas e muitas porradas, vissem nascer uma amizade mais forte que qualquer laço de sangue. Protagonista de quatro filmes dirigidos por Richard Donner, este duo de policiais linha-dura é o principal chamariz destas produções. No primeiro filme, lançado em 1987, e que deu início a esta franquia de sucesso, Riggs e Murtaugh precisam desbaratar uma quadrilha de tráfico de drogas enquanto se acostumam a conviver um com o outro. Indicado ao Oscar de Melhor Mixagem de Som, o filme é um dos melhores exemplares do chamado buddy cop movie, no qual acompanhamos a amizade entre dois policiais (que raramente se dão bem desde o começo). – por Rodrigo de Oliveira
Os Intocáveis (The Untouchables, 1987)
Brian De Palma faz deste um filme leve e certeiro no mundo policial. A trama, apoiada por um ótimo roteiro de David Mamet, também diretor, apresenta uma força-tarefa com a missão de capturar o gangster Al Capone (Robert De Niro). Para isso, o agente federal Eliot Ness (Kevin Costner) convoca Jim Malone (Sean Connery), George Stone (Andy Garcia) e Oscar Wallace (Charles Smith). A ambientação nos Estados Unidos, na época da Lei Seca, coloca o famoso criminoso como controlador do mercado clandestino de bebidas, além de um dos maiores responsáveis pelos assassinatos em Chicago. Esteticamente é pontual, explorando o carisma dos personagens “da lei” e fugindo da característica já popular, principalmente nos anos 1980, de colocar o mafioso ao lado do público. Acompanhando essa trama, trilha sonora de Ennio Morricone, que dispensa comentários e é um diferencial em todos os trabalhos que está envolvido. Mesclando muitos talentos, alguns já experientes e outros em começo de promissoras carreiras, Os Intocáveis transporta o espectador para o mundo da máfia americana e envolve do começo ao fim. – por Leonardo Caprara
O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)
É impressionante perceber, após tudo que já foi dito e escrito a respeito, que o personagem mais marcante desta história – Hannibal, o canibal tão magnificamente interpretado por Anthony Hopkins, que ganhou o Oscar mesmo aparecendo em cena menos de 25 dos 118 minutos da produção – não é o verdadeiro protagonista da trama. Afinal, esta é a história de Clarice Starling – eleita pelo American Film Institute como a maior heroína da história do cinema – e interpretada por uma magnífica Jodie Foster – que só conseguiu o papel após nomes como Michelle Pfeiffer e Meg Ryan tê-lo recusado. Ela é a policial em início de carreira designada para prender um serial killer que tem como hábito arrancar a pele de suas vítimas. No processo, ela se depara com outro psicopata, este, no entanto, encarcerado: Hannibal. Através do contato com ele a agente tentará entender o violento processo mental do assassino, para assim dar cabo de sua missão. Mas quem está, de fato, no controle da situação? A novata ou a assustadora figura atrás das grades? Cinco Oscars – inclusive o de Melhor Filme – e três sequências depois, esta questão segue em alta – e tão apetitosa hoje quanto no seu lançamento, duas décadas atrás. – por Robledo Milani
Seven: Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995)
Primeiro trabalho não oficial de David Fincher – Alien³ (1992) não é exatamente um filme autoral como seriam todos os outros – Seven é, antes de qualquer coisa, uma declaração clara de intenções de um cineasta que, ao entregar de cara uma obra-prima irretocável, seria responsável mais tarde por pelo menos mais quatro delas. A trama é ambientada em uma cidade sem nome, onde a chuva incessante parece refletir o espírito de seus habitantes, oprimindo-os e jogando-os constantemente para dentro de cômodos sombrios e que guardam dentro de si crimes de horrível premeditação. É nesses cenários em que aprendemos a conviver com Somerset e Mills, dois detetives que não poderiam ser mais diferentes. Enquanto um reflete a experiência em sua postura austera e quase nunca menos do que amargurada, o outro é ainda jovem e inconsequente, demonstrando uma energia e um entusiasmo que o parceiro mais veterano teme, será sua ruína em uma atmosfera tão decadente e cruel. Juntos, eles investigam o caso de um assassino em série que comete os seus crimes baseados nos sete pecados capitais. É durante a investigação, que ambos vão colocar não só suas diferentes posturas, mas suas ideologias também em choque, rumo a uma das reviravoltas mais chocantes do cinema moderno. – por Yuri Correa
Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997)
Indicado a nove Oscar, vencedor nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante (Kim Basinger) e Melhor Roteiro Adaptado (Hanson e Helgeland), o neo-noir de Curtis Hanson merecia ter levado para casa também a principal estatueta, mesmo que o felizardo daquele ano, Titanic (1997), tenha seus méritos. Na trama, baseada no livro homônimo de James Ellroy, um grupo de policiais de Los Angeles se defronta, nos anos 1950, com a corrupção da corporação em meio ao contato com celebridades de Hollywood. O esquema de prostitutas de luxo é apenas um dos tentáculos do mundo sórdido que existe sob as imagens fabricadas. A superfície é um cenário que, assim, esconde toda sorte de gente gananciosa que não mede esforços para ganhar dinheiro e ascender na competitiva sociedade local. Policiais corruptos, jornalistas inescrupulosos, empresários desonestos, entre outras figuras que deflagram a podridão do entorno, atravessam o caminho dos policiais Jack Vincennes (Kevin Spacey), Bud White (Russell Crowe) e Ed Exley (Guy Pearce) – cujos intérpretes, sobretudo Pearce e Crowe, hoje conhecidos, não eram então mais que aspirantes ao estrelato. Com ambições pessoais e profissionais distintas, esses homens da lei seguem diversas pistas que expõem uma realidade degradada, encoberta por diversas camadas de aparências. – por Marcelo Müller
Os Infiltrados (The Departed, 2006)
Um elenco sensacional, um roteiro genial e um diretor espetacular. Não à toa, Os Infiltrados foi o filme que, enfim, rendeu o Oscar de melhor direção ao mestre Martin Scorsese depois de cinco indicações. Inspirada em Conflitos Internos (2002), produção feita em Hong Kong, dirigida por Alan Mak e Andrew Lau, a adaptação americana retrata um embate entre a polícia de Boston e a máfia irlandesa. E o roteiro adaptado assinado por William Monahan é um verdadeiro show. Todas as possibilidades da história são exploradas, a trama é complexa, bem desenvolvida e mostra uma confusão de mentiras, traições e violência que sufocam não só os personagens, mas também o espectador. Jack Nicholson faz (mais) um grande trabalho como Frank Costello, assim como Matt Damon faz um ótimo papel como Colin Sullivan. Leonardo DiCaprio está excepcional como Billy Costigan, com seus ataques de fúria inesperados, e abraça a personalidade e os problemas de um personagem difícil com maestria. Mark Wahlberg está soberbo e Martin Sheen excelente. Além disso, tecnicamente, Scorsese foi perfeito. A edição, composição dos planos, transição das cenas, travellings e movimentos de câmera, como se não bastasse a excelente trilha sonora… Sem sombra de dúvidas, um trabalho excepcional. – por Gabriel Pazini
Tropa de Elite (2007)
Ainda que o segundo filme é que tenha sido o fenômeno oficial de bilheteria – ultrapassou a marca dos 11 milhões de espectadores, recorde absoluto da produção nacional até hoje – foi este longa que deu origem à saga do Capitão Nascimento, personagem que se tornou ícone do cinema brasileiro. Interpretado com vigor por Wagner Moura, o protagonista é um policial decidido a fazer o que é certo em sua guerra contra a corrupção e a violência no Rio de Janeiro, porém sem o bom mocismo ingênuo tão comum à figuras desse tipo – ele é do tipo que atira antes e pergunta depois, se a situação assim exigir. Lidando com burocracias administrativas e negociatas políticas, se tornou a expressão do caos social que os brasileiros tem vivido há décadas, em que o desrespeito e o ganho pessoal sempre acabam falando mais alto. Baseado em fatos reais, fez de um policial, profissão geralmente desprezada em nosso país, envolta em denúncias de descaso ou suborno, herói nacional. Mas o bom desempenho não foi apenas em casa: seu impacto resultou também em um Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim, além de mais de quarenta prêmios ao redor do mundo. – por Robledo Milani
Os Donos da Noite (We Own The Night, 2007)
Em seu terceiro longa, James Gray continua a trabalhar sua temática favorita: a das famílias disfuncionais dentro do universo da criminalidade. Passada na Nova York da década de 80, a história mostra dois irmãos que vivem em lados opostos da lei. Joseph (Mark Wahlberg) é um policial correto e dedicado, assim como seu pai, Burt (Robert Duvall), enquanto Bobby (Joaquin Phoenix) trabalha como gerente de uma boate comandada pela máfia russa. Com o aumento contínuo do tráfico de drogas, e os russos sendo investigados, os caminhos trilhados pelos irmãos irão se cruzar de maneira inesperada. Mantendo-se fiel ao seu estilo clássico e cru, influenciado pela geração da Nova Hollywood dos anos 70, Gray constrói uma mistura exemplar de drama familiar com trama policial, honrando os pilares do grande cinema norte-americano. Com domínio pleno da narrativa, o cineasta extrai atuações marcantes de todo o elenco, em especial de Phoenix, além de conceber sequências antológicas, como o momento de intimidade entre os personagens dele e de Eva Mendes ao som de Blondie, o clímax final no campo de trigo incendiado e a magnífica cena de perseguição de carros na chuva, onde se destacam os trabalhos de som e edição. – por Leonardo Ribeiro