O que 2017 nos reserva em termos cinematográficos? Observando o já parcialmente desenhado calendário de estreias, dá para prever um ano repleto de coisas boas nas telonas. Ao menos, há bastante potencial, como fica evidente no nosso Preview 2017, que vem a seguir. Nele, infelizmente, tivemos de preterir os lançamentos considerados menores, sobretudo os de filmes que durante a temporada tendem a se destacar em prestigiados festivais – e que ainda não possuem data de desembarque por aqui, portanto, tornando-se “inelegíveis” para esta amostragem. Resolvemos, então, focar nos longas-metragens com força para se tornarem eventos, seja em virtude da quantidade de espectadores esperados ou por conta do burburinho que eles certamente gerarão em grupos específicos, como gamers e leitores, por exemplo, que aguardam ansiosamente adaptações de jogos e livros famosos em seus meios.
Ficaram fora desta lista alguns exemplares que igualmente se encaixam no parâmetro adotado, tais como Dunkirk, o novo filme do diretor Christopher Nolan, A Bela e a Fera, aguardada versão live-action da clássica animação Disney, Cinquenta Tons Mais Escuros, sequência das adaptações dos livros de E. L. James, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, a quinta parte das aventuras do capitão Jack Sparrow, entre muitos outros. Este ano realmente promete. Sem mais delongas, vamos ao nosso Preview 2017. Confira e não deixe de comentar.
Assassin’s Creed – Estreia prevista para janeiro
Há muito tempo os fãs clamam por uma versão cinematográfica dos jogos da Ubisoft centrados no sujeito que descobre ser descendente de uma misteriosa sociedade secreta de assassinos do século XV. Melhor dizendo, o sentimento é uma mescla de receio e expectativa, afinal de contas, se as histórias em quadrinhos se estabeleceram como um bom provedor de tramas para o cinema, o mesmo não pode ser dito a respeito dos games, eles que, até agora, originaram longas-metragens com qualidade aquém do potencial, quando não ruins de todo. O primeiro sintoma da seriedade com a qual esta adaptação está sendo tratada foi a contratação de um ator de primeiro time para interpretar o protagonista. Michael Fassbender se mostrou bastante entusiasmado nas entrevistas, garantindo ao público a fidedignidade que os mais puristas aguardam com ansiedade. O segundo indício de que, no mínimo, há esforços para tudo correr bem foi Justin Kurzel assumir o posto de diretor. Ele, que lançou no ano passado uma versão elogiada da peça shakespeariana MacBeth – com o próprio Fassbender encabeçando o elenco –, parece ser realmente indicado à difícil empreitada. Os trailers até então lançados fecham a conta, deixando um saldo otimista. Agora é esperar para ver se o resultado faz jus à espera. – por Marcelo Müller
T2: Trainspotting – Estreia prevista para fevereiro
Mexer num clássico é sempre perigoso. Exemplos não faltam de cineastas que ou se arriscaram a revisitar um ícone (Gus Van Sant e o seu Psicose desastroso) ou quiseram dar sequência a uma história que marcou uma geração. Porém, o diretor Danny Boyle optou por um caminho ligeiramente diferente, que promete agradar fãs e conquistar novos admiradores para a história dos amigos envolvidos com drogas na cidade de Edimburgo, contada inicialmente em Trainspotting: Sem Limites (1996), um dos principais filmes da década de 1990. A trilha sonora roqueira, responsável por levar muita gente ao cinema no longínquo ano de 1996, deve permanecer, já que Boyle sempre dedica atenção especial à seleção musical que embala seus personagens. Já o roteiro deve seguir o ritmo da prosa hipnótica de Irvine Welsh, responsável pelo livro que deu origem ao primeiro longa-metragem. Ansiedade e teorias à parte, a segunda etapa da trajetória de Renton e sua turma pode ser a oportunidade de levar uma plateia saudosa de volta ao cinema com, a tiracolo, uma juventude acostumada a tramas românticas, no pior sentido da definição. Um banheiro imundo pode, então, abrir as portas para novas histórias e novos cinemas. – por Bianca Zasso
Silêncio (Silence) – Estreia prevista para fevereiro
Adaptação do mais famoso livro do autor católico japonês Shusaku Endo, este é um projeto dos sonhos de Martin Scorsese, diretor cuja obra também é atravessada por valores próprios dessa religião (de origem italiana, o cineasta foi criado no catolicismo e durante algum tempo de sua vida desejou se tornar padre). A história narrada por Endo, de dois jesuítas portugueses sendo perseguidos no Japão do século XVII (interpretados aqui por Andrew Garfield e Adam Driver, ambos num ano bastante especial de suas carreiras), se encaixa perfeitamente no cinema de Scorsese, não só pela centralidade de temas como fé, sacrifício, martírio e culpa, mas também pela enorme violência que carrega. Desse encontro aparentemente perfeito, portanto, se espera o surgimento de um filme emocionalmente devastador, doloroso e, ao mesmo tempo, esteticamente acachapante, como Scorsese costuma fazer. As imagens já reveladas apontam justamente nesse sentido, insinuando uma força muito maior, por exemplo, que a de toda a competente adaptação cinematográfica anterior do livro de Endo, realizada em 1971 por Masahiro Shinoda. – por Wallace Andrioli
Vigilante do Amanhã (Ghost in The Shell) – Estreia prevista para março
O diretor Rupert Sanders resolveu mexer num grande vespeiro. Ao realizar a versão live-action do cultuado anime de 1995, por sua vez, baseado num mangá lançado por Masamune Shirow nos anos 80, ele aceita uma grande pressão, principalmente a de ser, ao mesmo tempo, reverente e criativo. Por um lado, ninguém acredita que o público já previamente cativado pelo longa animado aceitará de bom grado alterações significativas, sobretudo no que tange à história e aos questionamentos filosófico-existenciais presentes, não como artefatos secundários, mas na condição de fatores determinantes. Por outro, não podemos esquecer que a produção é de grande orçamento e, portanto, tem a missão de justificar o investimento nas bilheterias, para isso não podendo depender apenas do séquito em torno do original. Missão complexa essa a de Sanders, que teve acrescida uma parcela significativa de desconfiança quando Scarlett Johansson foi anunciada como intérprete da protagonista. Os puristas queriam uma oriental; o mercado indicou uma estrela. Felizmente, Johansson é uma atriz de valores além da beleza física e do puro carisma. O primeiro trailer lançado possui um ideário visual impressionantemente fiel ao filme dirigido por Mamoru Oshii, o que inverteu o jogo. Agora as possibilidades de um êxito parecem muito boas. – por Marcelo Müller
Filmes da Marvel Comics (Guardiões da Galáxia Vol. 2; Homem Aranha: De Volta ao Lar e Thor Ragnarok) – Estreias previstas, respectivamente, para abril, julho e novembro
Pela primeira vez na história da Marvel Studios, a bem-sucedida Casa das Ideias lançará três filmes no mesmo ano. Parte disso se deve ao acordo com a Sony Pictures, que empresta o Homem-Aranha para seu universo cinematográfico, parte ao resultado de um bem estruturado plano que expande as franquias para mais datas no calendário. Portanto, em 2017, veremos o retorno dos divertidos Guardiões da Galáxia em Volume 2, com direção de James Gunn e o reforço no elenco de nomes como Sylvester Stallone e Kurt Russell. Esperem explosões, piadas e muita música pop de qualidade. Logo depois, o amigão da vizinhança aparece em seu primeiro filme solo na Marvel, com participação mais que especial de Robert Downey Jr., intérprete do Homem de Ferro. Vendido como uma comédia à la John Hughes numa produção heroica, o longa-metragem tem direção de Jon Watts e conta com Michael Keaton encarnando o vilão Abutre. Fechando o ano da Marvel, o novo filme de Thor conclui a trilogia do deus do trovão, com a promessa do fim do mundo de Asgard – ao menos como o conhecemos. A participação de Mark Ruffalo vivendo Hulk e a presença sempre interessante de Loki (Tom Hiddleston) apenas elevam as expectativas. – por Rodrigo de Oliveira
Alien Covenant – Estreia prevista para maio
Seguindo a série de prequelas de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), Ridley Scott dá continuidade a Prometheus (2012) nesta nova produção. Pelas poucas informações divulgadas, sabemos que a história se passa 10 anos após os acontecimentos trágicos da missão da equipe de Elizabeth Shaw (Noomi Rapace). A atriz sueca retorna apenas para uma ponta, já que agora estamos ambientados numa nova história, encabeçada por Daniels (Katherine Waterston), a líder da nave colonizadora Covenant. Ela e a tripulação acabam descobrindo um paraíso natural habitado apenas pelo dissimulado androide David (Michael Fassbender). Porém, o planeta sinistro esconde perigos e uma força obscura que ameaçam a missão. Distanciando-se de Prometheus com a saída dos roteiristas Jon Spaihts e Damon Lindelof, muito criticados pelos fãs da série, um filme que, pelas poucas imagens divulgadas, terá mais o gore da quadrilogia original. A Fox, estúdio da produção, ainda surpreendeu os fãs ao antecipar a estreia. O boca-a-boca oriundo das exibições-teste de pequenos fragmentos dá conta de que esta sequência pode ser a mais violenta e pessimista diante dos acontecimentos envolvendo a humanidade. Um bom programa para os fãs que aguardam o filme estrelado por Sigourney Weaver, que será dirigido por Neill Blomkamp. – por Renato Cabral
Filmes da DC Comics (Mulher-Maravilha e Liga da Justiça) - Estreias previstas, respectivamente, para junho e novembro
Fãs de quadrinhos sempre quiseram ver Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash e companhia reunidos na telona. Com a estreia de Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), as esperanças aumentaram, embora as críticas a este tenham sido majoritariamente negativas. O mesmo Zack Snyder dirigirá o longa da principal equipe de heróis da DC Comics. Deve ser algo interessante, com um tom mais leve. A única coisa amplamente celebrada no embate entre o morcegão e o kriptoniano foi a presença emblemática de certa amazona que ganha seu primeiro filme solo em 2017. Gal Gadot agarrou com todas as forças o papel da heroína mais famosa das HQs. Já a cineasta Patty Jenkins, responsável pela empreitada, é conhecida por seu feminismo e pela mão cheia em produções estreladas exatamente por mulheres. O elenco de apoio tem outras grandes atrizes como Robin Wright, Connie Nielsen e Elena Anaya. A trama parece ser fiel aos quadrinhos, com muita cor, ação, seriedade e uma dose de comédia, leve, mas essencial. Se a espera foi de décadas, desde o fim da série estrelada por Lynda Carter nos anos 70, é hora de mostrar para o mundo, de verdade, quem é a Mulher-Maravilha. – por Matheus Bonez
A Torre Negra (The Dark Tower) – Estreia prevista para julho
A relação de Stephen King com o cinema sempre foi, no mínimo, conturbada. Alguns dos melhores filmes baseados em suas obras, como O Iluminado (1980), sempre foram motivos de reclamações por parte do escritor. No entanto, é inegável seu talento para criar mundos assustadores e enigmáticos. É por isso, portanto, que milhares de fãs e admiradores ao redor do mundo estão aguardando com tanta ansiedade a adaptação do primeiro volume desta série, o grande marco literário do autor, que até hoje já possui oito tomos lançados. A trama se passa numa realidade pós-apocalíptica, em que um pistoleiro sem lei (Idris Elba, assumindo um personagem que nos livros era descrito como branco – mudança feita sob a benção de King) precisa encontrar e defender um garoto desconhecido (o novato Tom Taylor) da perseguição do Homem de Preto (Matthew McConaughey, mostrando seu lado perverso) para, com isso, salvar a humanidade. Não é preciso dizer que as apostas são altíssimas. Se der certo e for um sucesso de público e crítica, uma nova franquia terá início e sequências serão produzidas rapidamente. Caso contrário, o diretor e roteirista dinamarquês Nikolaj Arcel (do indicado ao Oscar O Amante da Rainha, 2012) terá que lidar com a insatisfação de muita gente, não apenas atrás das câmeras, mas também diante das telas. Que responsabilidade! – por Robledo Milani
Blade Runner 2049 – Estreia prevista para outubro
Entre diversos relançamentos, versões estendidas e remontagens, o tempo fez com que Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) fosse alçado de fracasso à obra-prima da ficção científica. Durante essa trajetória, as especulações sobre uma sequência sempre dividiram opiniões, com muitos acreditando ser impossível igualar-se em relevância e qualidade à obra original, concebida por Ridley Scott a partir do romance Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick. Agora, 35 anos após a estreia do primeiro longa, a continuação, de trama sigilosa, é uma realidade, e as expectativas dos fãs parecem pender para o lado positivo, a começar pelo fato do envolvimento direto de Scott na produção e, principalmente, pelo retorno de Harrison Ford ao papel do ex-policial Rick Deckard, que terá a companhia do competente Ryan Gosling. Outro bom presságio é a escolha do canadense Denis Villeneuve para a direção, ele que vem se firmando como um dos mais interessantes autores contemporâneos e que, especialmente após a aclamação recente de sua primeira incursão pelo scifi, A Chegada (2016), aparenta estar apto a assumir tamanha responsabilidade. E, a julgar pelo atmosférico teaser lançado recentemente, parece que o universo neo-noir visualmente deslumbrante e repleto de questões filosóficas dos replicantes será honrado. – por Leonardo Ribeiro
Star Wars: Episódio VIII (título provisório) – Estreia prevista para dezembro
Embora Star Wars: O Despertar da Força (2015), primeiro filme da franquia sob a tutela da Disney, tenha sido bem recebido por público e crítica, é inegável a influência narrativa que o Episódio IV teve sobre ele. Enquanto a proposta do Episódio VII parece ter sido apresentar a mitologia para uma nova geração, a expectativa dos fãs é a de que Rian Johnson, diretor e roteirista do Episódio VIII (ainda sem título oficial) tente se distanciar das narrativas já conhecidas, oferecendo uma história original, mas sem perder a identidade da saga. Segundo membros do elenco, como Daisy Ridley (Rey), John Boyega (Finn) e Adam Driver (Kylo Ren), o roteiro de Johnson (diretor de vários episódios da série televisiva Breaking Bad e da ficção científica Looper: Assassinos do Futuro) promete uma atmosfera muito mais sombria que a do filme anterior, espelhando a relação entre Uma Nova Esperança (1977) e O Império Contra-Ataca (1980). Além de carregar a enorme pressão de realizar um longa-metragem que faz parte de uma das sagas mais amadas do cinema, Johnson ganhou, recentemente, uma responsabilidade ainda maior: a de retratar o que será, provavelmente, a última aparição da General Leia Organa, personagem inesquecível da recentemente falecida Carrie Fisher. – por Marina Paulista