A Disney não poderia ter fechado 2013 e iniciado este ano melhor: Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) foi um dos maiores sucessos de bilheteria do ano passado e ainda arrebatou os principais prêmios concedidos ao gênero, especialmente o Oscar de Melhor Animação, estatueta com que o estúdio nunca tinha sido contemplado (mesmo que sua parceria com a Pixar tenha rendido vários ao longo dos anos). O sucesso de público e crítica também fez com que Frozen quebrasse recordes e se tornasse a animação mais assistida de todos os tempos – até o fechamento deste texto, com quase US$ 1.100 bilhão arrecadados em todo o mundo. O feito deve seguir em home vídeo, já que, desde sua pré-venda, a animação está no topo da lista dos mais vendidos em vários países. Para celebrar e homenagear este grande feito do estúdio do Mickey, que retoma a tradição das princesas como nunca, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger as dez princesas mais marcantes da Disney em ordem cronólogica. Confiram!
Branca de Neve, de Branca de Neve e os Sete Anões (1937)
Quando a própria ideia de se fazer cinema era uma aventura de poucos, um visionário foi e se atreveu a realizar aquilo que ninguém acreditava ser possível: um longa-metragem inteiramente executado através da técnica da animação. E o resultado não poderia ter sido melhor. Afinal, Branca de Neve e os Sete Anões é um clássico insuperável até os dias de hoje, mais de setenta anos após o seu lançamento. Marco zero dos Estúdios Disney, as bases dos futuros sucessos da casa foram apontados nesse filme que só se tornou possível graças ao empenho quase insano de Walt Disney: o conto de fadas com uma forte moral (afinal, o bem precisa vencer o mal no final), coadjuvantes simpáticos (como superar cada um dos sete anões?), um ideal a ser alcançado (quem nunca sonhou com seu príncipe encantado?) e, claro, a mais inabalável das protagonistas: Branca de Neve, a princesa por excelência! Sofredora, valente, sagaz, determinada, ela enfrenta tudo e todos para recuperar e conquistar o que lhe é de direito, desenhando um caminho que seria seguido por muitas outras depois. Nada mais foi como antes após a chegada de Branca de Neve, e nem haveria como ser de outra forma! – por Robledo Milani
Cinderella, de Cinderela (1950)
Os sapatinhos de cristal, a gata borralheira e a abóbora transformada em carruagem são alguns dos mitos que Cinderela construiu no imaginário coletivo de qualquer cultura que tivesse contato com esta animação, que permanece contemporânea enquanto alcança diferentes gerações. Baseado no lúdico conto europeu que já fora adaptado por Charles Perraut e pelos Irmãos Grimm, Cinderela é a primeira animação em longa-metragem lançada por Walt Disney após a 2ª Guerra Mundial, quando salvou o estúdio de uma iminente falência em consequência ao turbulento período. Um clássico instantâneo, Cinderela apresenta problemas de gênero complexos para sua época, assim como uma história de superação e esperança ao transformar a vida de sua desventurada heroína, constantemente humilhada por uma madrasta cruel e suas filhas legítimas, com uma conclusão de contornos épicos, redentora e emocionante. Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Canção, Melhor Som e Trilha Sonora Original, esta repleta de músicas inesquecíveis, a produção venceu o Urso de Ouro na categoria destinada a filmes musicais durante a primeira edição do Festival de Berlim. Méritos de uma das principais princesas Disney, que com seu visual encantador, como uma Grace Kelly numa atmosfera mágica, conquistou o mundo. – por Conrado Heoli
Aurora, de A Bela Adormecida (1959)
A Bela Adormecida é o clássico dos clássicos da Disney, o ponto de origem de todos esses clichês tão conhecidos. Era uma vez uma princesinha que fora amaldiçoada pela bruxa má, o que obriga seu pai a exila-la em uma vida de camponesa na presença de três fadas madrinhas até seus dezesseis anos, onde o feitiço perderia seu poder. Mas as coisas não saem como o esperado e ela cai adormecida à espera de um beijo salvador do seu verdadeiro amor. Todos esses elementos já foram reutilizados nos mais variado gêneros do cinema hollywoodiano. Porém, é justo afirmar que nenhuma releitura da protagonista, Aurora, esteve à altura da concepção criada pela Disney naquela produção. Não há nenhuma preocupação com as chatices feministas que assolaram as produções do estúdio anos mais tarde. A única intenção é materializar três características ligadas diretamente com o elemento feminino: a beleza, a música e o amor. E o resultado final é belo e convincente. Pode parecer fugaz no fim quando Aurora dança junto ao seu príncipe quase sem falar o filme todo, mas ali há a tradução da essência da feminilidade – confessada ou não. Aurora, definitivamente, é o que as meninas sonham ser. – por Eduardo Dorneles
Ariel, de A Pequena Sereia (1989)
Ariel, a protagonista de A Pequena Sereia, é uma mocinha difícil de ser aceita nos nossos dias, quando o Girl Power é tão presente. Veja, a menina troca sua voz por um par de pernas e a chance de conquistar o príncipe encantado, numa barganha que dificilmente seria visto como algo vantajoso para o lado da jovem. Mas como o amor conquista tudo, o final não é nada triste para a heroína – isso, claro, quando falamos do clássico Disney. O conto original, escrito por Hans Christian Andersen, não tem um desfecho tão otimista ou colorido quanto o que vemos na tela. Apesar disso, a certeza no amor perfeito e a curiosidade de Ariel conquistam o espectador, transformando aquela pequena sereia em um personagem adorável. Curiosamente, a história da sereia que se apaixona por um belo príncipe humano quase foi adaptada muitos anos antes. Walt Disney planejava transformar o conto de Andersen em longa-metragem logo depois de Branca de Neve e os Sete Anões. Calhou desta idéia do pai de Mickey Mouse representar, em 1989, a retomada dos estúdios ao sucesso com suas animações. O filme foi indicado a três prêmios da Academia e levou duas estatuetas: Melhor Música (“Under the Sea”) e Trilha Sonora Original. – por Rodrigo de Oliveira
Bela, de A Bela e a Fera (1991)
Inspirado em um tradicional conto francês da metade do século XVIII, mais conhecido pela versão de Leprince de Beaumont, A Bela e a Fera fixou-se na memória de milhões de pessoas desde o lançamento, no início dos anos 90. Seja por sua força ou simplicidade, a animação conquistou o imaginário de crianças e adultos que se deixaram encantar pela história. No centro desta está Bela, uma garota descontente com as limitações vividas na vila em que mora. Leitora voraz, a jovem quer experimentar aventuras dignas das que encontra na ficção, mas o destino segue na contramão, entregue a Gaston. Apesar de ser um dos homens mais desejados do vilarejo, o caçador a quem Bela fora prometida está longe de ser um príncipe encantado. É ao ser moeda de troca pela liberdade do pai que Bela conhece a Fera e vive a sua aventura. Em uma relação de amor e ódio, que aposta no embate entre opostos, Bela é o exemplo puro de transformação. A desconfiança e o temor dão vez à oportunidade e ao cuidado. Porque permitir o sentimento é sentir que a personagem da jovem arrebatou admiradores no mundo todo. – por Willian Silveira
Pocahontas, de Pocahontas (1995)
Entre as princesas da Disney, Pocahontas é aquela que mais se desvia do padrão da “realeza” por ser, enfim, uma índia, mas que ainda assim é a filha do Chefe, e por isso, nada menos do que de fato uma princesa. Protagoniza uma história sobre o contato do homem com a natureza, um tema e enredo que seria reaproveitado futuramente por cineastas como James Cameron em Avatar (2009) – praticamente uma refilmagem alienígena, até Terrence Malick em O Novo Mundo (2005). O filme ficou realmente famoso pela canção “Colors of the Wind”, que lhe rendeu inclusive o Oscar de Melhor Canção Original, ainda assim, conta com personagens encantadores e um dos designs de produção mais bem trabalhados entre as animações do estúdio até hoje. A mensagem é clara e a heroína que vem trazê-la é mais isso, uma guerreira, do que a princesa que lhe alcunham. Pode não ser a mais importante ou icônica personagem que ocupa o cargo na Disney, mas com certeza é uma das mais fortes e marcantes, como acaba acontecendo com todas as princesas que se mostram não só donzelas em perigo, mas também figuras que se fazem notar por algo mais do que a sua beleza concebida a dedo. – por Yuri Correa
Mulan, de Mulan (1998)
Primeira produção em desenho animado da Disney a destacar personagens asiáticos, Mulan também foi, certamente, uma das produções iniciais a evoluírem o conceito das princesas do estúdio. Brincando com questões de gênero e representação, sendo um dos filmes mais feministas do estúdio, a produção traz a história de uma garota que decide salvar o pai de morrer nas batalhas de uma guerra. Para isso, ela secretamente vai em seu lugar vestida de soldado. Baseado em uma lendária figura descrita em um poema chinês antigo chamado A Balada de Mulan, a animação de 1998 não leva a origem ao pé da letra, mas cria uma personagem jovem, delicada e atrapalhada que encontra no campo de batalha a sua transição de jovem para adulta, amadurecendo em diversos aspectos e, apesar de muitos não concordarem com a escolha da história, encontra também um grande amor, o capitão Li Shang. – por Renato Cabral
Tiana, de A Princesa e o Sapo (2009)
Havia mais de dez anos que a Disney não colocava uma princesa como protagonista de suas animações quando resolveu lançar A Princesa e o Sapo, inspirado no conto dos Irmãos Grimm. Além de ser a primeira protagonista negra de uma história do estúdio, Tiana também pode ser considerada uma das mais fortes. Reflexo do feminismo que (ainda bem) tomou conta do imaginário das personagens nas últimas décadas. Pois Tiana é extremamente inteligente, quer abrir um negócio próprio na Nova Orleans do século XIX, não é da realeza e um detalhe que a diferencia das demais: pouquíssimo (pra não dizer nem um pouco) romântica. Só quando ela se depara com um sapo e seus amigos, um crocodilo e um vagalume, é que a garota, uma jovem adulta, começa a ver que seus sonhos podem mudar, mas não apenas pela paixão, e sim porque ela encontra a si sem seguir os passos do pai ou de qualquer outro. Apesar do relativo sucesso de bilheteria, A Princesa e o Sapo não é uma das obras mais populares da Disney. Grande injustiça, pois não apenas a protagonista é adorável como a adaptação do roteiro é inovadora. Ainda mais com a trilha recheada de um jazz e blues dignos de se ouvir a qualquer hora. – por Matheus Bonez
Rapunzel, de Enrolados (2010)
Não há nada rigorosamente novo em Enrolados, produção da Disney que resgatou a princesa Rapunzel. A origem da personagem se deu no conto de fadas Persinette, escrito por Charlotte-Rose de Caumont de La Force, publicado originalmente em 1698, e adaptado posteriormente pelos Irmãos Grimm. Ou seja, a menina de cabelos longos, exilada numa torre sob os cuidados da falsa mãe, é produto de várias releituras. O longa de 2010 trata de formatar a personagem e sua trajetória ao padrão Disney, com números musicais, encontros e desencontros, até o famigerado final feliz, ou “viveram felizes para sempre”. Fora as previsibilidades, Enrolados é um filme muito bem-sucedido no que diz respeito à comunicação com crianças e adultos, característica não tanto fruto da fusão Disney/Pixar, como muitos disseram na época, mas da própria tradição da Disney em criar fábulas universais, que dizem respeito a qualquer faixa etária, pois percebidas em camadas diferentes por cada uma delas. Rapunzel, a décima das princesas de Walt, talvez tenha sido a que protagonizou o melhor filme recente focado nessas figuras quase patrimoniais que fizeram a fama do Estúdio. – por Marcelo Müller
Elsa e Anna, de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013)
Se as princesas da Disney já são um sucesso estrelando filmes sozinhas, imagine um que traz duas delas numa tacada só? Impossível de falar de uma sem a outra. É o que acontece com Frozen: Uma Aventura Congelante. Mais do que duas princesas (Anna e Elsa), o filme traz duas mulheres fortes, conscientes de seu papel na trama e que escrevem seus caminhos independente da vontade de príncipes, bruxas ou vilões. Inclusive, até uma certa altura, Elsa, não sabendo controlar seus poderes, desponta como possível “vilã”, o que, por si só, é uma brincadeira interessante com o arquétipo das “princesas” tradicionais. Na medida em que a história se desenrola, cada uma vai demonstrando suas forças e vulnerabilidades e abrindo espaço, inclusive, para o surgimento de “príncipes” – meros reflexos masculinos de suas vontades e comportamentos. Essa força, escondida por trás da figura tradicionalmente frágil de duas princesas (ainda mais duas órfãs), talvez seja um dos motivos pelos quais Frozen já é a animação com maior sucesso de bilheteria da história. – por Dimas Tadeu