20230712 david bowie papo de cinema

A paixão pelo rock and roll é quase universal. Mesmo os que não aderem tanto ao estilo musical pode manifestar um pouco da rebeldia do estilo na sua forma de se expressar e nas suas opiniões. E, no cinema, o que não falta são filmes em que a história tem roqueiros como protagonistas ou o movimento como pano de fundo. Em ascensão, decadentes, que tem a música mais como hobby do que profissão… histórias com eles são as mais variadas possíveis. Esta semana chega aos cinemas Ricki and The Flash: De Volta Para Casa, dramédia estrelada por Meryl Streep justamente na pele de uma roqueira. Por isto a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher dez dos melhores filmes que tem o rock como tema. Vale ressaltar: não incluímos cinebiografias nesta lista, apenas ficções (quase) totalmente originais, visto que alguns dos títulos parecem se basear na vida de alguns roqueiros do lado de cá da tela. Será que seu favorito está na lista? Confira!

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Tommy (1975)
Em 1969, o The Who lançou “Tommy”, álbum duplo e conceitual que se tornou um dos mais bem-sucedidos e influentes trabalhos da banda, considerado por muitos a primeira ópera rock da história. Alguns anos depois, o guitarrista Pete Townshend decidiu adaptar para o cinema a história do personagem-título, um garoto cego, surdo e mudo, devido ao trauma psicológico causado pela morte do pai, que se torna campeão de pinball e uma espécie de líder religioso. O encarregado de levar a trajetória messiânica de Tommy às telas foi o cineasta Ken Russell, cujo estilo visual arrojado, de traços surrealistas, traduziu perfeitamente a grandiloquência do clássico do Who. Russell realiza um musical onírico, onde as canções se tornam os diálogos, cantados pelos próprios atores, com arranjos diferentes do disco e algumas composições inéditas. O vocalista Roger Daltrey assume o papel principal, com carisma suficiente para não comprometer, enquanto Oliver Reed e Ann-Margret, indicada ao Oscar pelo papel, interpretam o padrasto e a mãe de Tommy, respectivamente. Grandes músicos como Eric Clapton, Elton John e Tina Turner, além do ator Jack Nicholson, completam o elenco deste longa que fascina com seu exagero psicodélico e sequências marcantes, como a da canção “Pinball Wizard”. – por Leonardo Ribeiro

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The Rocky Horror Picture Show (1975)
Em cartaz há nada menos do que quarenta anos nos Estados Unidos – ou seja, desde o seu lançamento – este incrível e anárquico musical é uma das experiências mais transformadoras e revolucionárias já experimentadas em Hollywood. Trata-se, afinal, nada mais do que uma versão do conto de Frankenstein, só que liderada por um travesti extraterrestre cercado de ninfas conspiradoras, um monstro que ganha o corpo de um garoto dourado lindo e musculoso, pelo qual todos investem seus desejos mais libidinosos, e um casal de jovens não tão inocentes, que no meio de uma noite chuvosa precisam se deparar com essas figuras ao baterem em um castelo amaldiçoado em busca de ajuda. Mas ainda que uma jovem Susan Sarandon e um enlouquecido Tim Curry defendam com gosto seus personagens, um dos destaques do elenco é mesmo a presença do roqueiro Meat Loaf, que dá o tom da trilha sonora repleta de clássicos como “Dammit Janet”, “Time Warp” e “Hot Patootie” – para não apontar de imediato para títulos mais ousados, como “Sweet Transvestite” ou “I Can Make you a Man”. Uma jornada alucinante e deliciosa, repleta de imagens que grudam na memória, assim como canções que ficam impregnadas nos ouvidos da audiência. – por

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Vida de Solteiro (Singles, 1992)
O filme definitivo do movimento grunge. Um título como esse não se carrega em vão, mas poucos diretores seriam mais acertados para assumir essa responsabilidade do que Cameron Crowe. Quem o conhece sabe a importância que dá para o mundo da música. Chegou a fazer um longa inteiro sobre esse universo – o oscarizado Quase Famosos (2000) – enquanto que outros valem mais pela trilha sonora do que pela trama em si – Vanilla Sky (2001) é um bom exemplo. Mas antes destes veio este drama geracional que estabeleceu um estilo de vida. Tem-se aqui um retrato tão forte e bem realizado que sua força acabou repercutindo pelo mundo inteiro. Os rapazes queriam ser Matt Dillon, de cabelos longos, camisas xadrez e uma banda à tiracolo, ao mesmo tempo em que as garotas se imaginavam como Bridget Fonda, apaixonadas pelo vocalista, com jaquetas estilosas e meias arrastão rasgadas. Além do visual, uma trilha defendida por nomes como Eddie Vedder, Chris Cornell, Billy Corgan, Jimmy Page, Jimmi Hendrix e John Coltrane, entre tantos outros, só colaborou para aumentar o fascínio em torno desse projeto que até hoje é referência quase se fala da união entre cinema e rock’n’nroll. – por

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The Wonders: O Sonho Não Acabou (The Wonders 1996)
Guy Patterson (Tom Everett Scott) era um músico predestinado. Convidado a substituir temporariamente o baterista da banda The Oneders, o rapaz mudou completamente a história do grupo ao transformar a balada “That Thing You Do” em uma eletrizante canção de amor chiclete. Com a ajuda do empresário Sr. White (Tom Hanks), da gravadora Playtone, e rebatizados de The Wonders, os quatro rapazes de Pensilvânia, conquistariam rapidamente os corações de milhares de fãs. Mas o desafio era se manter no topo. Esta história poderia muito bem ser verdadeira e o roteirista e diretor Tom Hanks faz um belo trabalho em convencer o espectador disso. Primeiro, concebe uma canção que teria tudo para fazer sucesso nos anos 60 (e que, imitando a arte, conquistou as rádios na segunda metade da década de 1990). Em segundo lugar, consegue transportar o público para aquela época, com direção de arte esmerada e figurinos caprichadíssimos. Em terceiro, um elenco jovem e cativante, com destaque para a bela Liv Tyler e o hilário Steve Zahn. Sem contar a participação mais do que especial de Tom Hanks como uma espécie de Brian Epstein, o famoso empresário dos Beatles – referência mais do que óbvia para o filme. – por Rodrigo de Oliveira

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Velvet Goldmine (1998)
Se David Bowie tivesse uma cinebiografia de ficção, seria esta dirigida por Todd Haynes. Não que deixe de ser. Afinal, Brian Slade (Jonathan Rhys Meyers), o protagonista, é um cantor tão camaleônico quanto o músico na sua fase mais glam, no início dos anos 80, além da história trazer diversas referências que remetem à vida e carreira do compositor de “Heroes”. No filme, o andrógino Slade desaparece e vira alvo da curiosidade do repórter Arthur Stuart (Christian Bale). Este, ao tentar descobrir o paradeiro do artista, acaba sabendo de muito mais, inclusive da tensa relação com Curt Wild (Ewan McGregor), outro músico famoso. O longa não se baseia apenas neste trabalho investigativo de um relacionamento e suas consequências, mas retrata todo o glamour de uma época saudosa. Se os anos 1980 são conhecidos como “a década perdida”, o cineasta Todd Haynes retrata sob diversos aspectos porque esta alcunha é errônea. Ainda mais ao mostrar não só os figurinos da época (indicados ao Oscar, por sinal), mas também todo o movimento musical e o pensamento libertário de um tempo em que termos como hipocrisia e falso moralismo (tão em voga nos dias de hoje) davam lugar à explosão de sinceridade e coragem representada, especialmente, no visual de todos. – por

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Quase Famosos (Almost Famous, 2000)
Filme que rendeu a Cameron Crowe o Oscar de Melhor Roteiro Original, Quase Famosos se baseia um pouco na vida do próprio diretor-roteirista, mais especificamente nos tempos em que ele trabalhou como repórter na bíblia da música Rolling Stone. No filme, que se passa no início da década de 1970, Patrick Fugit interpreta William Miller, jovem de 15 anos contratado pela famosa revista e incumbido de seguir a banda Stillwater em seu grande tour. Algo que o faz ter várias experiências ao lado dos músicos e outras figuras. Crowe conduz a narrativa com sensibilidade, tendo ainda a sorte de contar com um elenco imensamente carismático, o que contribui para que o filme seja capaz tanto de divertir quanto de emocionar com a jornada de seus personagens marcantes. Todos tem uma vivacidade que define muito bem a própria energia do longa. Trazendo cenas inesquecíveis, como aquela do ônibus onde todos cantam “Tiny Dancer” e a outra do pulo na piscina, Quase Famosos é o melhor trabalho de seu diretor, e teria sido mais justo se ele tivesse ganho mais prêmios. – por Thomás Boeira

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Hedwig: Rock, Amor e Traição (Hedwig and the Angry Inch, 2001)
Hansel nasceu na Alemanha no dia em que o Muro de Berlim dividiu o país. No lado ocidental, sua infância foi permeada por abusos dos homens que frequentavam sua casa e pelo convívio com uma mãe omissa, que comparava Jesus à Hitler. Suas verdadeiras influências surgiram do rádio, quando cantores como Iggy Pop, David Bowie e Lou Reed criaram um imaginário de glamour e rock em sua limitada existência. A situação se altera com a chegada de um oficial do exército norte-americano, que o promete uma vida melhor em um longínquo lugar chamado Kansas. A única condição que o separa do american dream é uma cirurgia para mudança de sexo – que obviamente dá errado. Assim nasce Hedwig, cantora que sintetiza o que é glam rock com seu figurino e maquiagem extravagantes e músicas viscerais. John Cameron Mitchell, que escreveu e protagonizou o musical off-broadway Hedwig and the Angry Inch em 1998, fez sua estreia no cinema com a adaptação do material para a tela grande. Hedwig: Rock, Amor e Traição mantém o status de filme cult, envolto numa mítica que o coloca no panteão de musicais transgressores entre The Rocky Horror Picture Show (1975) e Priscilla, a Rainha do Deserto (1994). – por Conrado Heoli

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Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock, 2009)
Elliot Tiber (Demetri Martin) abandona a cidade grande para ajudar os pais na administração do hotel familiar no interior. Por força de determinados fatores, alguns aleatórios, ele acaba promovendo um evento que se tornou histórico, o Festival de Woodstock. Em torno do palco, transitam hippies, pessoas sob o efeito de todo tipo de alucinógenos, gente celebrando a vida à sua maneira, curtindo as maravilhas e as agruras de ser jovem numa época historicamente muito importante. A abordagem da polêmica Guerra do Vietnã surge não como um elemento sufocante, mas na condição de artifício imprescindível à construção daquela época. Garotos foram à guerra e voltaram destruídos, senão fisicamente, com certeza psicologicamente. Entre os personagens, retratados muitas vezes de maneira romantizada, estão os adeptos do sexo livre, um ex-militar travesti e toda sorte de instalados no condado reservado aos três dias de música, além do próprio protagonista de vida prosaica que se vê no epicentro de algo único. Mais que tentar se aprofundar num estudo do episódio sem precedentes, o filme de Ang Lee lança luz sobre quem o criou, para quem foi feito e a quem modificou com seus exemplos de liberdade. – por Marcelo Müller

SCHOOL OF ROCK, Joey Gaydos Jr., Kevin Clark, Jack Black, Rebecca Brown, 2003, (c) Paramount/courtesy Everett Collection film still

Escola de Rock (The School of Rock, 2003)
O roqueiro Dewey Finn (Jack Black), recém-expulso de uma banda, decide seguir o caminho mais improvável que o acaso colocou na sua frente: virar professor. Como desconhece as matérias que precisa ensinar, passa os primeiros dias dando mal disfarçadas aulas de nada até que descobre o talento de alguns alunos durante a careta lição de música. Aos poucos, ele muda o repertório das crianças. Os clássicos eruditos dão lugar a monstros sagrados do bom e velho rock n’roll, como The Doors, Led Zeppelin, The Who, T.Rex, entre outros. A turma vai gradativamente entrando na onda do amalucado professor que defende sua paixão desmedida e inconsequente (no bom sentido) pela música. O rock representa a rebeldia necessária para que os jovens se libertem das pressões e das imposições sociais. O personagem de Black os inspira a valorizar seus talentos. O filme de Richard Linklater é consistente, ao mesmo tempo divertido e leve, próximo daqueles que nos acostumamos a ver nos fecundos anos 1980, época de John Hughes e companhia. A baita trilha sonora e o carisma de Jack Black são atrativos à parte. A cena final é a coroação de um trabalho que entretém sem alienar. – por Marcelo Müller

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Rock of Ages: O Filme (Rock of Ages, 2012)
O Bourbon Club está com graves problemas financeiros, quando então o seu administrador, Dennis Dupree (Alec Baldwin), decide trazer para o bar o excêntrico Stacee Jaxx (Tom Cruise), uma superestrela do rock. Em meio a tanto, conhecemos os jovens Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough), dois aspirantes a cantores que trabalham nos bastidores do lugar. Juntos, eles vão tentar se ajudar através de canções já conhecidas, enquanto, claro, se apaixonam. Revivendo clássicos como “I Love Rock ‘n’ Roll”, “I Want to Know What Love Is”, “Any Way You Want It” e “Don’t Stop Believin’”, o musical não raramente se entrega a sequências de pura abstração, principalmente quando se foca na figura peculiar vivida por Tom Cruise. Quase uma deidade, Stacee Jaxx, segundo o ator, é um personagem de expressão totalmente física, o que torna excelente a escalação de Cruise que com mais de cinquenta anos ainda demonstra um vigor invejável a cada novo projeto. Mas juntam-se a ele também no elenco Russell Brand, Catherine Zeta-Jones, Bryan Cranston e Malin Akerman, com todos tendo a sua própria oportunidade de atacar de roqueiros, de um jeito ou de outro. – por Yuri Correa

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