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20150213 top 10 sadomasoquismo papo de cinema homr

A principal estreia da semana, contrariando “as regras” do período de premiações, não é nenhum filme concorrente ao Oscar, e sim Cinquenta Tons de Cinza, adaptação cinematográfica do sucesso literário. Chamado por muitos como um soft porn ou, no escracho, um capricho sexual para donas de casa, o longa toca, ainda que de forma superficial, no tema sadomasoquismo. Objeto de estudo de vários cineastas de renome, a prática sexual que consiste em causar dor no parceiro como forma de prazer já rendeu excelentes filmes dos mais variados gêneros. Por isso a equipe do Papo de Cinema se reuniu para escolher os dez melhores longas que trazem à tona esta relação sexual tida como perversa. Confira!

 

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A Bela da Tarde (Belle de jour, 1967)
Primeiro, é bom esclarecer: não há indícios objetivos de sadomasoquismo em A Bela da Tarde, clássico de Luis Buñuel protagonizado por Catherine Deneuve. A burguesa casada que descobre na prostituição uma centelha de excitação em meio ao seu cotidiano repleto de fastio, atende a tipos distintos, como o rapaz agressivo/apaixonado ou mesmo o chinês dono da caixa de conteúdo secreto. Portanto, Severine possivelmente se atira a práticas sexuais diversas, das ditas “normais” às mais inusitadas. Usando um pouco a especulação, e também levando em consideração a iconoclastia de Buñuel, dá para imaginar ela sentindo prazer sendo ora sádica, ou seja, impondo sofrimento físico e/ou moral a outrem, ora masoquista, regozijando-se no papel contrário. Aliás, uma das grandes sacadas do cineasta espanhol foi justamente não explicitar as práticas sexuais da protagonista com os clientes, nos proporcionando confabular, dando-nos essa possibilidade de completar lacunas, de usar a imaginação. Assim, A Bela da Tarde é capaz de desdobrar-se de maneiras distintas, variando de audiência para audiência. – por Marcelo Müller

 

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Último Tango em Paris (Last Tango in Paris, 1972)
Dirigido por Bernardo Bertolucci – indicado ao Oscar pelo trabalho, mas infelizmente só premiado mais tarde por O Último Imperador – o filme acompanha Paul (Marlon Brando, também indicado aqui) e Jeanne (Maria Schneider), dois estranhos que se interessam pelo mesmo apartamento em Paris, no processo para decidir quem o alugaria acabam usando o lugar para uma acalorada relação intensa e anônima de sexo, uma vez que chegam ao acordo de não revelarem os seus nomes. Fotografado pelo sempre ótimo Vittorio Storaro em tons quentes que umedecem a própria textura da imagem – enquanto abraçam aqueles dois personagens em seus exorcismos pessoais através do contato físico com outro ser humano ferido  – Último Tango em Paris possui aquela que é uma das mais icônicas cenas de sexo do cinema. Basta dizer “manteiga” para qualquer um lembrar qual é. Brando e Schneider dividem diálogos densos e cruamente construídos que não só os conduzem através das ruazinhas francesas como também a um desfecho doloroso, mas que fecha com precisão o arco de luto de um e o de medo do outro. – por Yuri Correa

 

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Saló ou 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma, 1975)
Baseado no livro do Marquês de Sade, Saló ou 120 dias de Sodoma é considerado publicamente como um dos mais chocantes filmes da história do cinema pelo seu conteúdo pesado e de grande crítica ao consumismo e ao capitalismo. O longa de Pier Paolo Pasolini  se passa em uma Itália comandada por Mussolini no ano de 1944 e conta a história de um grupo de jovens que é selecionado por dirigentes fascistas (um bancário, um bispo e um duque). Eles servem como objetos de experimentos sádicos e torturas por 120 dias. É dividido em três fases ou círculos: Círculo das fezes, focado em escatologia e na tortura de jovens obrigados a ingerir fezes; o Círculo do sangue, trazendo violência e assassinatos e ainda, o Círculo das manias, no qual os fascistas decidem satisfazer suas taras sexuais. Saló era intencionalmente o pontapé inicial de Pasolini para a Trilogia da Morte, dando continuidade à Trilogia da Vida que trazia os filmes: Decameron (1971), Os Contos de Canterbury (1972) e As Mil e uma Noites (1974). Infelizmente, o cineasta foi assassinado antes mesmo do lançamento de Saló. Uma obra certamente impactante, assim como Pasolini sempre foi. – por Renato Cabral

 

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O Império dos Sentidos (Ai no korîda, 1976)
Polêmico e genial, O Império dos Sentidos foi proibido em diversos países por seu caráter libertário e o teor sexual. É uma pena que várias pessoas vejam um dos grandes clássicos do cinema como um filme pornográfico, o que ele definitivamente não é. Dirigido por um dos fundadores da Nouvelle Vague nipônica, Nagisa Oshima, a película é enxuta, direta e sem rodeios narrativos. O Império dos Sentidos conta a história de uma prostituta que, depois de ser contratada para trabalhar numa casa, torna-se amante do patrão. Na medida em que o relacionamento entre Kichizo Ishida (Tatsuya Fuji) e Abe Sada (Eiko Matsuda) evolui e passa a ter proporções doentias, o casal perde o controle e começa a se trucidar psicologica e fisicamente. Eles não conseguem mais se ver sem realizar o ato sexual e o realizam o tempo todo, sozinhos ou na frente de outras pessoas, até que o habitual passa a não ser mais suficiente. É aí que entra o sadomasoquismo e fica nítido que o insaciável prazer sexual do casal os levará para a própria destruição. O vício pelo ato é uma das discussões propostas pela película, que por sinal é sobre uma história que realmente aconteceu no Japão, em 1936. O filme abusa da liberdade e tem outras discussões, inclusive com espaço para crítica social. Resumindo, um filmaço. – por Gabriel Pazini

 

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Parceiros da Noite (Cruising, 1980)
Depois do sucesso que ganhou ao longo da década de 1970, quando lançou obras como o oscarizado Operação França (1971) e O Exorcista (1973), o diretor William Friedkin entrou na década de 1980 causando certa polêmica com este Parceiros da Noite. Trazendo o grande Al Pacino no papel de Steve Burns, policial que se infiltra nos bares sadomasoquistas da comunidade homossexual para investigar os assassinatos cometidos por um serial killer, o filme foi acusado de ser antigay graças ao modo como o protagonista age diante da cultura a qual é apresentado, além do final ambíguo e do possível motivo que ele pode representar para os motivos dos assassinatos. No entanto, uma mensagem contra homossexuais não foi algo que Friedkin quis passar ao contar essa história. Sim, há um estudo sobre aquele universo, mas este não chega a ser mostrado por um viés negativo, sendo tratado de maneira bastante natural até, além de servir como pano de fundo para um thriller intrigante e por vezes pesado, no qual Al Pacino interpreta com grande competência um personagem com o qual o público se identifica com facilidade. Parceiros da Noite foi um fracasso quando lançado, tanto de público quanto de crítica, mas tem ganhado reconhecimento nos últimos anos. – por Thomás Boeira

 

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Videodrome: A Síndrome do Vídeo (Videodrome, 1983)
David Cronenberg é conhecido pelas temáticas – digamos – diferentes de seus longas-metragens. E, curiosamente, neste artigo sobre filmes sadomasoquistas, seu nome poderia aparecer duas vezes, com Crash: Estranhos Prazeres (1996) e, no escolhido deste top, Videodrome: A Síndrome do Vídeo. Neste longa, o protagonista vivido por James Woods é um programador de televisão que busca sempre o novo para chocar e angariar novos espectadores. Ao se deparar com o Videodrome, uma gravação pirata aparentemente falsa que mostra violência e morte, ele tem certeza de que encontrou o que procurava. Mais ainda quando conhece a psicóloga vivida por Debbie Harry, que tem tara por este tipo de temática e, inclusive, acaba transando com ele assistindo a esses snuff films. No decorrer da trama, os protagonistas descobrem que não existe nada de falso no Videodrome – e assisti-lo causa alucinações e viagens das mais variadas. Isso é só o começo de uma trama que passeia pelo doentio e pelo surreal, com cenas memoráveis como a entrada de James Woods na boca de uma mulher que está na televisão. Debbie Harry, a vocalista do Blondie, se mostra uma femme fatale interessante, num filme que despertou muita polêmica na época de sua estreia. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Lua de Fel (Bitter Moon, 1992)
Polêmica poderia até ser seu sobrenome, mas é Polanski e é dele esse longa com pegada diferente, misturando suspense, sensualidade e toques de sadomasoquismo. Lua de Fel (1992) foi baseado no romance de Pascal Bruckner e adaptado por Roman Polanski com a ajuda de mais três colaboradores. O filme não é um sucesso de bilheteria, mas sua trama envolvendo romance, desejo e sexo, com requintes de maldade, deixou muita gente intrigada e, alguns apaixonados por Emmanuelle Seigner, na época já esposa do cineasta sessentão e no auge de sua beleza aos vinte e poucos anos. No filme, ela interpreta Mimi, esposa de Oscar (Peter Coyote), escritor decadente e cadeirante, com quem viveu uma louca história de amor e ódio. Durante um cruzeiro marítimo, a dupla balança a relação de Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas), que embarcaram numa luxuriosa ciranda de descobertas reveladas pelo marido. Cheio de cenas inesquecíveis e impactantes para a época, como leite derramado e devidamente “bebido” nos seios, sequência voluptuosa de dança com velas espalhadas pelo chão, ou outra com ela vestida “a la dominatrix” ameaçando o macho, Bitter Moon (título original) tem também uma ousada e bonita cena lésbica. Na trilha sonora, além do new age de Vangelis, a presença de uma providencial e gostosa Slave to Love, música de Bryan Ferry, coincidentemente usada em um clássico caliente, porém mais antigo: o fenômeno 9 1/2  Semanas de Amor (1986). – por Roberto Cunha

 

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Contos Proibidos do Marquês de Sade (Quills, 2000)
O termo sadismo deriva do nome do escritor francês Donatien Alphonse François de Sade, ou, popularmente conhecido como Marquês de Sade, monarca do século XVIII. A palavra, usada para definir o prazer sexual extraído do sofrimento alheio, vem dos escritos de Sade, que utilizavam do grotesco e da violência para construir seu pensamento filosófico e suas críticas à sociedade burguesa. Contos Proibidos do Marquês de Sade, ou simplesmente Quills, traz Geoffrey Rush no papel do autor de 120 dias de Sodoma, numa atuação indicada ao Oscar, uma das melhores de sua carreira. O recorte da história parte de um Sade já envelhecido, perseguido por Napoleão e internado num hospício, mas que segue elaborando suas crônicas pornográficas. Através de uma direção de arte opressora e de um elenco que, além de Rush, conta com atuações marcantes de Kate Winslet, Joaquin Phoenix e Michael Caine, o filme cumpre a dupla tarefa de retratar a personalidade e o contexto histórico que “gerou” uma figura tão interessante quanto Sade e  também de nos envolver no universo das obras do escritor e filósofo, fazendo com que o espectador compreenda o sentido original desta palavra que hoje está tão banalizada.  – por Giordano Gio

 

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A Professora de Piano (La Pianiste, 2001)
Erika Kohut é uma professora de piano no conservatório de Viena. Aos 40 anos, ela vive na companhia de sua mãe controladora, em um universo recluso onde sua vida é preenchida apenas pela música – e não de uma maneira prazerosa. Sua fuga ocorre em experiências sexuais incomuns, como em atos de voyeurismo e punições masoquistas, que amplificam sua sensação de solidão e alienação. Isso até conhecer Walter, seu aluno, com quem passa a compartilhar desventuras eróticas nada convencionais. Michael Haneke é reconhecido por seu cinema contestador e pautado em extremos a partir de estudos de personagens em seus momentos mais desconfortáveis e vulneráveis. Com câmeras estáticas e munido de uma fotografia opressiva e fria capturada pelas lentes de Christian Berger, colaborador habitual do cineasta, Haneke adapta um romance de Elfriede Jelinek sem pudores ou reservas, qualidades que também pontuam a interpretação visceral e irretocável de Isabelle Huppert. Destituído de quaisquer artifícios eróticos ou estimulantes para seu espectador, o cineasta se vale da experiência sexual em suas vertentes mais chocantes, enquanto explora a complexa psique de sua protagonista e seus jogos violentos e por vezes repulsivos. O resultado é uma obra que beira a perfeição, vencedora do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. – por Conrado Heoli

 

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Ninfomaníaca: Volumes I e II (Nymphomaniac: Vol. I and II, 2013)
Muita gente só ouviu falar de chicotinhos e algemas na cultura pop depois daqueles cinquenta tons de cinza. Fato é que, bem antes dele, um espectro coloridíssimo de tonalidades abordou o tema numa cronologia que atravessa os séculos e as artes mais diversas. Pensando justamente em celebrar essa amplitude e para além do sadomasoquismo, Lars von Trier foi assunto desde 2013 com suas duas partes de Ninfomaníaca. As histórias de aventuras sexuais que Joe, a protagonista, conta para Seligman, seu interlocutor, foram divididas em dois volumes e cercadas por polêmicas por todo lado, especialmente porque o marketing do longa se aproveitou de seu conteúdo sexual para promovê-lo como se fosse um pornô all-star-bonde que Cinquenta Tons de Cinza soube pegar desde sua versão literária. Mas, longe disso, Ninfomaníaca é uma história sobre contar histórias e o perigo de borrar as nada óbvias fronteiras entre ficção e realidade. E isso inclui as cicatrizes deixadas em Joe por seus parceiros, que incluem um torturador com requintes sádicos. Um filme com cara de literatura que oferece bem mais do que a excitação passageira disfarçada com risinhos. – por Dimas Tadeu

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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