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Top 10 :: Sogros

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Sogros são um dos ‘brindes’ que os relacionamentos nos trazem. Podem ser bons ou ruins, mas sua representação já virou folclore, não adianta espernear. Embora não corresponda, nem de longe, a uma realidade totalizante, grudou no imaginário geral a ideia de que sogros são serpentes sempre planejando o próximo passo para entornar o caldo, tocando o terror em genros e noras. Óbvio que não é assim, mas fama é igual apelido, uma vez calcificada, já era. Boa parte dessa pecha vem do fato de que, realmente, é provável que os relacionamentos dos filhos causem inicialmente algum desconforto aos pais, sobretudo aos superprotetores. Disso podem decorrer tanto situações cômicas quanto dramáticas, embora a primeira seara seja bem mais explorada, por exemplo, pelo cinema, meio que se aproveita da reputação para provocar riso.

Em virtude da estreia de Tinha Que Ser Ele? (2016), no qual o personagem de James Franco enfrenta a resistência do sogrão interpretado por Bryan Cranston, resolvemos abrir o baú para realizar este Top com os dez sogros mais emblemáticos do cinema. E aí, seus sogros se enquadram em algum dos modelos abaixo? Confira e não deixe de comentar.

 

 

Lydia, de Os Pássaros (The Birds, 1963)
Até pode parecer estranho citar Lydia Brenner (Jessica Tandy) como uma sogra legítima neste filme, já que o flerte da protagonista Melaine Daniels (Tippi Hedren) com seu filho, Mitch Brenner (Rod Taylor), vai engrenando aos poucos e o relacionamento vai aos trancos e barrancos em paralelo com o crescente ataque dos pássaros na pequena cidade de Bodega Bay. Porém, uma das melhores coisas deste clássico de Alfred Hitchcock é a forma do mestre do suspense contar a história, quase como uma metáfora desta relação. Afinal, quando Lydia conhece Melanie é visível a desconfiança e o desprezo que ela sente pela garota. Uma mulher da cidade grande, com personalidade própria, que toma suas decisões sem precisar recorrer a homem algum. Se o filho se encanta por todos esses predicados, ela os rejeita. Na medida em que sua antipatia pela protagonista aumenta, se intensificam os ataques. Os animais seriam quase um duplo desta sogra que não quer gente rondando seu território, sua prole. Tanto que, coincidência ou não, a personagem de Tippi Hedren só parece ser finalmente aceita quando é quase morta no clímax do longa. Seria tudo um teste para Lydia saber se essa é a mulher ideal para Mitch? Um mistério ainda a ser desvendado e que talvez nunca tenha uma resposta realmente satisfatória. – por Matheus Bonez

 


O general, de Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera (1966)
Da metade para o fim dos anos 1960, quando o Cinema Novo já vinha perdendo terreno, tanto pela pouca adesão do público quanto, e principalmente, por conta da austeridade da ditadura civil-militar que então impunha os rumos ao Brasil – e o regime era ostensivo antes mesmo do Ato Institucional Número Cinco, em 1968 –, o cineasta Roberto Farias, alheio ao Cinema Marginal, decidiu beber na fonte teatral para criar uma comédia cinematográfica. Homônimo da matriz de autoria de Gláucio Gill, este longa-metragem mostra um severo general do exército brasileiro, interpretado por Walter Forster, determinado a forçar o casamento de sua filha Daisy (Vera Vianna) com Joãozinho (Reginaldo Faria). Aqui temos um exemplo do sogro que, por ser demasiadamente apegado à moral e aos bons costumes, acha que pode determinar futuros em prol da decência. Ainda que a chave seja essencialmente cômica, dá para notar, logo abaixo da superfície, uma crítica debochada desse tipo de pensamento, já retrógrado àquela época, personificado por uma das instituições mais aferradas à tradição, então responsável por conduzir o Brasil, infelizmente, de maneira violenta. Joãozinho não é bobo, por isso inventa mil e um subterfúgios para fugir deste homem brabo de farda e autoridade, que teima em ser oficializado como o seu sogrão. – por Marcelo Müller

 

 
Mrs. Robinson, de A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967)
A relação sogra e genro sempre rendeu diversos causos e piadas, principalmente por sua natureza geralmente conflituosa. Se não bastassem os atritos que por vezes acontecem em famílias comuns, imagine se o relacionamento entre essas figuras fosse mais complicado? Não apenas uma afinidade distante, mas um verdadeiro pareamento? Em outras palavras: imagine namorar sua sogra. Ou algo do tipo. Pois é isso que, de certa forma, o protagonista desta deliciosa produção de Mike Nichols vive. Dustin Hoffman interpreta o recém-graduado Ben Braddock, rapaz que cai na teia de sedução da voluptuosa senhora Robinson (Anne Bancroft), mulher mais velha, casada com um amigo da família. O caso se dá de forma rápida e seria um ato de indiscrição até corriqueiro, isso se Ben não se apaixonasse pela bela filha de sua amante, a jovem Elaine (Katharine Ross). Ele fará de tudo para se desvencilhar de seu antigo affair para viver esse romance. Mas a senhora Robinson não deixará barato. Em uma atuação certeira de Bancroft, indicada ao Oscar, ela vive uma mulher que não aceita ser rejeitada, muito menos por alguém como Ben. Se você considera ter um relacionamento conturbado com sua sogra, reconsidere ao conferir esta história. – por Rodrigo de Oliveira

 


Carmela Corleone, de O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)
Esta é, talvez, uma das únicas personagens inocentes de toda a trilogia O Poderoso Chefão. Carmela “Mama” Corleone (Morgana King) é o coração da família, uma típica dona de casa ítalo-americana dos anos 50; católica fervorosa, dedicada à família e excelente cozinheira, aliás, como toda matriarca italiana que se preze. Com os casamentos de seus cinco filhos (quatro biológicos e um adotivo), a siciliana ganhou uma porção de noras e genros, servindo como uma figura materna para alguns deles – particularmente a Kay (Diane Keaton), com quem desenvolve uma relação muito próxima. A personagem também é sogra de Sandra (Julie Gregg) e Deanna Corleone (Marianna Hill), Carlo Rizzi (Gianni Russo) e Theresa Hagen (Tere Livrano). Mantida convenientemente longe dos negócios da Família – como todas as mulheres da trama, diga-se de passagem –, esta personagem foi companheira de ninguém mais, ninguém menos que Don Vito Corleone (Marlon Brando), durante quarenta anos, desde a juventude pobre em Little Italy até a morte dele no tomateiro; apenas uma entre as várias perdas dolorosas causadas pelo envolvimento dos Corleone com o mundo do crime. – por Marina Paulista

 


A de Contos de Nova York (New York Stories, 1989)
Em Édipo Arrasado, curta-metragem de Woody Allen que compõe esta antologia, que também tem segmentos dirigidos por Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, o personagem interpretado pelo próprio diretor sofre com a onipresença da mãe (Mae Questel), mulher controladora que insiste em dar palpite em tudo na sua vida, assim como em constrangê-lo publicamente. Além de mãe inconveniente, ela também não é exatamente a melhor das sogras: faz parte de sua dominação sobre o filho as críticas constantes à noiva dele, Lisa (Mia Farrow). Após um inexplicável truque de mágica que a faz desaparecer da vida concreta do protagonista para, em seguida, ressurgir gigantesca nos céus de Nova York, esta senhora judia passa a produzir embaraços também para Lisa, já que comenta com toda a cidade suas objeções à moça, explicitando, por exemplo, a crítica conservadora à condição de divorciada e mãe de três filhos dessa última. Mas é claro que quem sofre mais com esse excessivo amor materno é Sheldon (Allen), personagem intelectual em crise existencial, típico do cinema do diretor. – por Wallace Andriolli

 


George Banks, de O Pai da Noiva (Father of the Bride, 1991)
Aceitar que os filhos se tornaram adultos e devem deixar o “ninho” para formar a própria família é o conflito clássico enfrentado por todos os pais. Uma situação que parece se tornar ainda mais delicada quando envolve a relação pai e filha. George Banks, vivido por Steve Martin, que neste remake do filme homônimo de 1950 assume o papel que originalmente valeu uma indicação ao Oscar a Spencer Tracy, passa por esse momento turbulento quando sua primogênita (Kimberly Williams-Paisley) volta do intercâmbio anunciando que irá se casar com um rapaz que conheceu na Europa. Encarar o fato de estar perdendo sua garotinha, com quem nunca mais jogará basquete no quintal de casa, abala George tanto quanto os valores astronômicos da cerimônia. Apesar de ciumento, um pouco ranzinza e sovina, George ganha um aura extremamente simpática na ótima atuação de Martin, que o torna totalmente identificável com o público, arrancando gargalhadas em momentos como quando discute a lista de convidados com a esposa (Diane Keaton) ou os detalhes da festa com o organizador de eventos (um hilário Martin Short). Uma combinação que fez enorme sucesso, propiciando uma sequência – O Pai da Noiva 2 (1995) – pela qual Martin foi indicado ao Globo de Ouro. – por Leonardo Ribeiro

 


Jack, de Entrando Numa Fria (Meet The Parents, 2000)
Greg Focker (Ben Stiller) está prestes a conhecer os pais da namorada Pam (Teri Polo) numa viagem até a casa deles. Os jovens formam um casal fofo, que se dá super bem. Estão completamente apaixonados. Mas já na porta da residência dos Byrnes ele se dá conta: o pai dela, Jack (Robert De Niro), não vai nem um pouco com a cara dele. Se a primeira impressão não parece boa, a insegurança de Greg faz ele cometer uma gafe atrás da outra, o que só vai piorando a situação. Num jogo de vôlei, quebra o nariz da cunhada; depois põe fogo no altar; mais tarde implica com o gato do sogro, etc. Tudo vai se tornando cada vez mais insustentável até que Greg descobre que Jack é um ex-agente com um detector de mentiras em casa. E nem nesse teste as coisas engrenam. O que mais esperar? De Niro dá um show de ranzinzice e tiradas sarcásticas, num conjunto que moldou sua persona ao longo dos anos seguintes em diferentes comédias. Porém, todas são variantes desse mesmo papel que se tornou um grande sucesso e rendeu mais de uma continuação. Stiller até pode ser engraçado, mas é o sangue italiano que realmente comanda o show. Pior para seu personagem, mas melhor para o público, que ri sem parar e deseja nunca encontrar um sogro destes. – por Matheus Bonez

 


Erica, de Alguém Tem Que Ceder (Something’s Gotta Give, 2003)
Nesta comédia com ares de anos 1990, Diane Keaton é Erica, mulher que precisa lidar constantemente com as aventuras amorosas da filha interpretada por Amanda Peet. Numa dessas ocasiões, ela é apresentada ao novo genro Harry (Jack Nicholson), muito mais velho que a menina. Em paralelo, é alvo das investidas de um jovem médico (Keanu Reeves). Ao longo da trama, estereótipos que envolvem diferença de idade vão sendo desmascarados e esclarecidos. Isso, além de outras temáticas pouco abordadas no que tange à terceira idade, como a sexualidade. A sogra, é bom que se diga, se enreda mais adiante pelo charme do genro com idade próxima da sua. O homem precisa de Viagra, a mulher nem pensa mais em sexo. Destaque para a atuação de Keaton, que costura bem a dinâmica dos relacionamentos, transformando a comédia de tom quase bobo num enredo reflexivo sobre o envelhecimento. Com o passar dos anos, as atitudes do casal precisam mudar para evitar completamente a monotonia? Ela prova que não. Como resultado, a atriz foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical. – por Victor Hugo Furtado

 

 
Lisa, de Terapia do Amor (Prime, 2005)
O melhor desta comédia romântica ambientada em Nova York é o elenco: Meryl Streep e Uma Thurman são, respectivamente, terapeuta e paciente que dividem uma dinâmica amistosa até que a primeira, Lisa, descobre que a segunda, Rafi, produtora fotográfica de 37 anos, está iniciando um relacionamento com David (Bryan Greenberg), um pintor 15 anos mais jovem que ela. Profissão ou diferença de idade não são problema; o que tortura a psicóloga é o fato do rapaz ser seu único filho. Por algum motivo ela demora a revelar a verdade para sua incauta nora, o que causa algumas situações tragicômicas entre elas. Um exemplo hilário ocorre quando Rafi conta (com detalhes) para Lisa as maravilhas sexuais que têm experimentado e o quanto é apaixonada pelo belo e circuncidado órgão genital do novo namorado. Complexo de Édipo, protecionismo e ciúmes são temperos na química entre as personagens, que parecem entreter tanto espectadores quanto divertiu suas atrizes nas filmagens. Há mais sobre a relação de Lisa e Rafi do que no envolvimento romântico entre Rafi e David, o que torna as exposições sobre o relacionamento do casal tão rasas quanto desinteressantes. O que anima mesmo aqui são os momentos no divã, nos quais Streep e Thurman estão excepcionais! – por Conrado Heoli

 


Lady Spencer, de A Duquesa (The Duchess, 2008)
Não se sabe ao certo de quando data a ideia de que sogros são o terror da vida de genros e noras, mas uma coisa é certa: Georgiana, a duquesa de Devonshire, interpretada por Keira Knightley, deu ao marido, vivido por Ralph Fiennes, uma sogra à altura de sua índole. As constantes traições e o tratamento arrogante que recebia do companheiro não impediam que Lady Spencer (Charlotte Rampling) defendesse o genro sem pestanejar. Apesar de o filme valorizar a amizade da duquesa com a mãe, em nenhum momento ela parece entender ou apoiar as ideias ousadas para o seu tempo, que a filha quer colocar em prática. Abrandando como pode as posições políticas e os anseios amorosos de Georgiana a todo custo, Lady Spencer ganha o posto de principal responsável pelo drama que se tornou a vida da aristocrata admirada pelo povo, mas vista com desconfiança pelos membros da realeza. Sua filha pagou um preço conhecido de muitas mulheres que precisam conviver em um ambiente onde as aparências são mais importantes que a sororidade. – por Bianca Zasso

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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