A história deste trabalho interessantíssimo de Yorgos Lanthimos é tão absurda quanto brilhante. Em um futuro distópico, no qual ficar solteiro é um verdadeiro crime, o arquiteto David (Colin Farrell) se vê separado de sua esposa, com quem ficou por 11 anos e um mês. Ao lado de seu irmão Bob, um cachorro (literalmente), David se hospeda num hotel diferente, no qual os solteiros têm 45 dias para arranjar parceiros. Caso não consigam a tempo, são transformados num animal pré-escolhido. No caso de David, uma lagosta – por conta da longevidade e por ele amar o oceano. O tempo passa, o protagonista conhece outras figuras na mesma situação em que ele: o rapaz manco (Ben Whishaw) e o homem sibilante (John C. Reilly). Existe apenas uma mulher que interessa a David, uma notória desalmada (Angeliki Papoulia) que costuma caçar solteiros na floresta. Mas não como você pode estar pensando. Existe uma caçada diária por outras pessoas sem companheiros, que se dá na mata próxima ao hotel, com rifles tranquilizantes. Para cada solteiro capturado, o “caçador” recebe mais um dia para encontrar seu parceiro ideal. Nessa floresta vivem pessoas fora dos padrões, que não se interessam por relacionamentos, como é o caso da líder (Léa Seydoux) e de uma mulher míope (Rachel Weisz). Essa pequena sinopse faz um apanhado geral, mas não dá a real dimensão da loucura que Lanthimos propõe. O filme começa como uma inteligente alegoria sobre a ditadura dos relacionamentos, mas não para por aí. No meio da trama, existe um twist que nos faz ver a situação do outro lado – e não é muito melhor. Os roteiristas demonstram aversão a figuras de liderança, nos mostrando o que acontece quando uma sociedade passa a aceitar, sem contestar, os planos dos seus “superiores”. Com personagens excêntricos e trama fascinante, é um dos longas mais criativos que surgiram nas telas em 2016.
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