Pergunte à maioria das pessoas sobre seus fetiches sexuais e, certamente, a maioria delas há de listar pelo menos este como um dos mais comuns. Striptease mexe com a libido, o imaginário, a sexualidade, mas não implica necessariamente no ato de transar. No cinema, diversas produções já contaram com excelentes personagens que ganham a vida deste trabalho. Com o retorno dos rapazes de sungas e tangas em Magic Mike XXL, que estreia esta semana, a equipe do Papo de Cinema listou dez dos títulos mais lembrados com o tema como foco. E aí, qual o seu favorito? Confira!
Em Busca de um Sonho (Gypsy, 1962)
Natalie Wood foi uma das mais belas atrizes de Hollywood e alçou ainda mais este posto quando viveu Gypsy Louise Hovick, tímida dançarina burlesca em busca do estrelato por conta de sua mãe, que quer a todo custo o sucesso das filhas. O embate de gerações propagado por uma mulher frustrada conduz a história em meio a momentos musicais clássicos. Obviamente, não dá para comparar esta produção com as mais atuais listadas a seguir, onde fetiches são expostos de um extremo a outro. Afinal, estamos falando de um longa dos anos 1960. Porém, não deixa de ser sexy as meninas em suas roupas típicas de cabaré, ainda mais quando Wood entra em cena para se despir totalmente cantando Let Me Entertain You – mesmo que por baixo de plumas e paetês. O filme de Mervyn LeRoy recebeu três indicações ao Oscar (Fotografia, Figurino e Trilha Sonora), mas foi no Globo de Ouro que se consagrou, sendo lembrado em várias categorias da ala Comédia ou Musical: Direção, Filme, Ator (Karl Malden) e com dupla indicação a Atriz, disputadas por Natalie Wood e Rosalind Russell, que vivia sua mãe e que acabou por ganhar o prêmio. – por Matheus Bonez
Showgirls (1995)
Nomi Malone (Elizabeth Berkley) é uma garota que, como tantas outras, sai do interior em busca de sucesso. Semelhante a um autômato de movimentos obsessivamente alinhados à coreografia pré-estabelecida, ela se insere no circuito de shows que misturam dança e volúpia. Não demora e Nomi se destaca, seu corpo escultural torna-se facilmente objeto de desejo. Presentes, a sensualidade, as caras e bocas que ela faz para chamar atenção, o corpo seminu que transpira ambição pelos poros, o despudor nos camarins, a luta por espaço nos bastidores, a rivalidade com outras meninas tão descartáveis quanto ela aos olhos dos empresários que só querem lucrar. Para estes caras, não importa se o corpo, vilipendiado pelo olho que deseja, é uma carcaça que protege as fragilidades de uma menina desesperada para transcender a mediocridade. O que importa é o show, o dinheiro que entra nos cofres. Nomi aceita ser engrenagem desse mecanismo, desde que vislumbre a possível recompensa no horizonte. Injustiçada, assim como o próprio filme, a atriz Elizabeth Berkley usa a beleza de seu corpo para construir uma personagem que exala sexo, uma aspirante ao estrelato cuja trajetória denuncia a esterilidade e o vazio do predatório showbiz. – por Marcelo Müller
Striptease (1996)
Striptease figura na lista não somente pelo seu título ou conteúdo ligado à arte de se despir sensualmente. Lançado em 1996, a produção se tornou um verdadeiro guilty pleasure com o passar dos anos. Na época de seu lançamento nos Estados Unidos, dizer que o filme passou despercebido é cometer uma gafe das grandes, pois acabou vencedor de 6 Framboesas de Ouro. Porém, além da terra do Tio Sam, houve os que deram atenção para a história de uma mãe solteira e stripper que é arrastada para uma situação perigosa após um congressista assediá-la. Sucesso no mercado internacional, a produção complicada que resultou em testes com a plateia sendo realizados, teve algumas cenas regravadas conforme os espectadores reagiam de maneira estranha a algumas sequências. Ao invés de se compadecerem, eles riam. No final, Striptease não se tornou um clássico, mas deu um tanto de empurrãozinho para tornar Demi Moore, já uma das maiores estrelas da época, ainda mais consagrada e um símbolo sexual de sua geração. – por Renato Cabral
Ou Tudo Ou Nada (The Full Monty, 1997)
No Oscar de 1998, todos estavam voltados ao maior filme de todos os tempos: Titanic (1997). Ainda que parecesse imbatível, seus principais concorrentes eram de peso: Melhor é Impossível (1997), premiado com as estatuetas de Ator e Atriz, Gênio Indomável (1997), reconhecido com os troféus de Ator Coadjuvante e Roteiro Original, e Los Angeles: Cidade Proibida (1997), vitorioso nas disputas de Atriz Coadjuvante e Roteiro Adaptado. O quinto concorrente na categoria de Melhor Filme do ano, no entanto, em nada se parecia com os demais. Afinal, tratava-se de uma pequena comédia inglesa sobre seis amigos desempregados que, na tentativa de se livrarem de seus problemas financeiros, decidem rebolar e revelar seus dotes físicos como strippers em um clube de mulheres. Foi assim, com um orçamento de meros US$ 3,5 milhões, que este longa acabou faturando nas bilheterias de todo o mundo mais de 70 vezes o valor investido, além de emplacar quatro indicações ao prêmio máximo do cinema mundial – ganhando como Melhor Trilha Sonora – e revelando nomes como Robert Carlyle, Mark Addy e Tom Wilkinson. E tudo isso falando de questões sérias, como crise econômica, família e amizade, com muito bom humor e criatividade. Um feito para ficar na história! – por Robledo Milani
Closer: Perto Demais (Closer, 2004)
Adaptação da peça de Patrick Marber e penúltimo filme de Mike Nichols, Closer acompanha os relacionamentos do quarteto formado por Dan (Jude Law), Alice (Natalie Portman), Larry (Clive Owen) e Anna (Julia Roberts), que passam por verdadeiros dramas amorosos. Dan começa um namoro com Alice, mas mais tarde se interessa por Anna a ponto de querer que ela seja sua amante, sendo que ele mesmo acaba colocando-a no caminho de Larry, e os sentimentos que os quatro personagens desenvolvem uns pelos outros acarretam em feridas dolorosas para todos pelas decisões que tomam ao longo da narrativa. Mas o assunto deste Top é striptease, então falemos um pouco sobre Alice. Brilhantemente interpretada por Natalie Portman em uma atuação que rendeu a primeira indicação da atriz ao Oscar, a jovem stripper é responsável pelos momentos mais sensuais do longa e ,mesmo nestas cenas, o peso dramático da narrativa não cai, já que Larry não só admira a beleza da garota como também compartilha com ela seus problemas e até mesmo tenta conquistá-la. Tudo isso em um grande filme de um diretor que partiu recentemente e deixou saudades. – por Thomás Boeira
Sin City: A Cidade do Pecado (Sin City, 2005)
Bruce Willis, Mickey Rourke, Rutger Hauer, Elijah Wood, Michael Clarke Duncan, Carla Gugino, Michael Madsen, Clive Owen, Benicio Del Toro. Espero que você não esteja cansado de ler nomes famosos, pois temos mais: Brittany Murphy, Rosario Dawson, Josh Hartnett e Jessica Alba. Só por uma produção conseguir reunir um time desses no mesmo filme, já valeria uma olhada de perto. Sabendo que todos estariam juntos em uma adaptação de uma história escrita por Frank Miller deixa tudo mais tentador ainda. A história sendo Sin City, então, fica imperdível. Ainda mais quando sabemos que a bela Jessica Alba vive a sensual, mas frágil Nancy Callahan, uma stripper que encanta o velho policial durão John Hartigan (Willis) na história The Yellow Bastard. Depois de ter salvo ela ainda criança, o tira reencontra a moça adulta e recusa as investidas românticas da dançarina, que está sendo perseguida por um sujeito com estranha coloração amarela. Os diretores Robert Rodriguez e Frank Miller transpõem com precisão as páginas da graphic novel para o cinema, utilizando de uma fotografia noir estilizada belíssima, que deixa ainda mais formosa e sensual (e, de certa forma, triste) a dança de Jessica Alba nos palcos da noite. – por Rodrigo de Oliveira
Planeta Terror (Planet Terror, 2007)
Um dos dois filmes que compõe o projeto Grindhouse, uma parceria entre Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, que também gerou o excelente À Prova de Morte (2007), Planeta Terror referencia as produções de terror B. Famosos por seu baixo custo de produção, cenas noturnas e o uso de efeitos práticos toscos, esses exemplares do estilo trash divertiam por sua bizarrice e descompromisso. Aqui, para mergulhar bem no clima, Rodriguez escala como personagem principal uma stripper, que não cansa de listar as coisas inúteis que o trabalho de dançarina lhe ensinou a fazer. Coisas que, por sinal, depois se tornam muito utilizáveis, quando no lugar de uma perna amputada, ela ganha uma metralhadora e a cidadezinha onde vive se converte em um inferno zumbi. Litros de sangue falso e quilos de próteses depois, Planeta Terror é um longa-metragem que remete com facilidade ao estilo que procura emular, com direito a cenas faltando devido a danificações na suposta película e tudo mais. Na pele Rose McGowan, a nossa stripper atira e dança sensualmente em meio a um banho de sangue que ainda traz Bruce Willis e o próprio Quentin Tarantino em seu elenco. – por Yuri Correa
Go Go Tales (Go Go Tales, 2007)
A noite não está sendo fácil para Ray (Willem Dafoe) proprietário do Ray Ruby’s Paradise, um cabaré sofisticado de Manhattan. Suas dançarinas ameaçam fazer greve por falta de pagamento, a dona do imóvel pretende expulsá-los e Johnny (Matthew Modine), irmão de Ray, não quer mais investir no negócio. A única saída para evitar a ruína de seu “paraíso” é um bilhete de loteria premiado que Ray não consegue encontrar. É com esta trama repleta de personagens e situações pitorescas que Abel Ferrara realiza sua particular e inebriada screwball comedy, de diálogos rápidos e gags ácidas que soam fragmentadas no início, mas que aos poucos constroem uma linha narrativa bem delineada. Mesmo filmando basicamente em apenas um cenário, o cabaré, Ferrara não torna seu trabalho claustrofóbico, utilizando uma câmera que passeia com liberdade em longos travellings para captar as ações e improvisações de seu ótimo elenco (Bob Hoskins, Sylvia Miles, Burt Young, Stefania Rocca), culminando em um desfecho que resume o misto de sarcasmo e melancolia proposto pelo cineasta. Para costurar a trama, temos os números de striptease das garotas de Ray, com destaque para a apresentação selvagem da musa italiana Asia Argento, acompanhada por um rottweiler. – por Leonardo Ribeiro
O Lutador (The Wrestler, 2008)
A stripper do filme é o par romântico do protagonista (Mickey Rourke), interpretada por Marisa Tomei. Sua função dramática é conceder ternura para Randy – assim como a outra personagem feminina relevante na história, a filha afastada vivida por Evan Rachel Wood. No entanto, há uma semelhança temática entre O Lutador e a franquia Magic Mike (2012-2015) que não está relacionada ao mundo do striptease. No filme de Steven Soderbergh estava latente o fato de que o personagem-título (Channing Tatum) é mais feliz no palco do que na vida real e tal constatação fica mais evidente em Magic Mike XXL (2015). Ambos desempenham funções que à primeira vista são consideradas degradantes, ao se despir para estranhos ou se ferir em lutas combinadas; mas é nestes ambientes hostis que residem a felicidade e o talento dos protagonistas. É nesse ponto que O Lutador brilha e emociona, ao criar um retrato impressionante de um personagem nada óbvio. – por Edu Fernandes
Magic Mike (2012)
O cineasta norte-americano Steven Soderbergh alertava sua aposentadoria quando deixou como legado Magic Mike, comédia descompromissada e intencionalmente erótica sobre strippers masculinos. Livremente baseado nas vivências juvenis do ator Channing Tatum, o filme tem um fiapo de roteiro que ganha razão de existir quase que exclusivamente nas elaboradas sequências de dança no clube de striptease onde a história ganha corpos – no plural, musculares e muito másculos. Tatum é Mike, principal atração de um time que conta com tipos distintos como um latino sedutor, um motociclista peludo e até mesmo a versão essencialmente texana e stripper de Matthew McConaughey interpretada por ele mesmo. E é justamente nos números musicais, divertidos e despidos de muitos pudores, que o filme valida suas pretensões e entretém seu público-alvo. Em um desses momentos, os rapazes em trenchcoats fazem malabares com guarda-chuvas e subvertem toda a graça até então eternizada por Gene Kelly em Cantando na Chuva (1952). Enquanto desenvolve no plano de fundo mais uma trama oportunista do tipo garoto-conhece-garota, Magic Mike tem seu valor ao explorar as relações entre este atípico grupamento masculino e seu cotidiano que envolve depilações, cuecas minúsculas e drogas retratadas na atmosfera tipicamente realista daquele Soderbergh em começo de carreira. – por Conrado Heoli