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Na última semana o Netflix estreou em sua grade e também em algumas (poucas) salas de cinema o seu primeiro longa-metragem de ficção, Beasts of No Nation. Retrato realista das guerras civis africanas com utilização de jovens como armas, o filme tem ganhado elogios por onde passa e já está sendo apontado como um dos possíveis candidatos ao Oscar do próximo ano. Com esta estreia, quebra-se mais uma barreira no audiovisual, que são de produções consideradas televisivas que se aproximam ainda mais do cinema em sua concepção. O que até leva a questão: será que este longa é realmente um telefilme? Como definir este produto com seu lançamento inédito em diferentes plataformas? Questões à parte, o importante é que Beasts of No Nation fez a equipe do Papo de Cinema lembrar de vários e belos longas que já foram realizados para outros meios. No caso, o televisivo. Então é hora de conferir quais são os dez melhores desde quesito na nossa modesta opinião.

 

 

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Encurralado (Duel, 1971)
No início de sua carreira, Steven Spielberg realizou alguns trabalhos para a televisão, entre eles este telefilme, que acabou fazendo um grande sucesso, sendo lançado posteriormente nos cinemas de diversos países. A história não poderia ser mais simples: David Mann (Dennis Weaver), um homem de negócios, viaja pelo deserto da Califórnia para se encontrar com um cliente. Quando ultrapassa um caminhão-tanque, David começa a ser perseguido pelo implacável motorista do veículo. Apesar de ser possível encontrar alegorias na simplicidade da trama, o filme é essencialmente um exercício de gênero, em que Spielberg demonstra um domínio de linguagem e narrativo exemplar para construir um suspense tenso do início ao fim. Mesmo trabalhando com recursos limitados, tempo e orçamento, o cineasta consegue transformar o roteiro econômico de Richard Matheson, que não se perde em explicações desnecessárias, em uma empolgante corrida pela sobrevivência. Sem revelar a figura do motorista psicopata, Spielberg trabalha o medo do desconhecido, dando indícios do que seria capaz de realizar em Tubarão (1975), e faz com que o próprio caminhão se torne um personagem aterrorizante. Um belo cartão de visitas, que virou referência para filmes de perseguição e prova a habilidade de Spielberg em criar obras comerciais de qualidade. – por Leonardo Ribeiro

 

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Medo do Medo (Angst vor der Angst, 1975)
R. Werner Fassbinder era um diretor de criatividade tão intensa que seus trabalhos iniciados no teatro invadiram os cinemas e logo em seguida também a televisão. De sua filmografia de 44 títulos, mais de 20 filmes e minisséries foram realizados para a televisão. Se valendo da característica principal de seu cinema, o melodrama, Fassbinder tinha certa facilidade com a televisão pelo tom novelesco de algumas de suas produções. A mais emblemática certamente é Berlin Alexanderplatz (1980) em 14 episódios. Entre os filmes, é destacável a produção de O Medo do Medo, estrelada pela atriz-fetiche do diretor, Margit Carstensen. Ela interpreta Margot, uma dona-de-casa que vive confortavelmente em um apartamento de classe média com sua família. Porém, ela começa a perder a sanidade depois de ter seu segundo filho. O marido, sempre ocupado com o trabalho e estudando, não entende e nem procura entender a situação da mulher, ao passo que todos ao redor de Margot começam a se tornar hostis com o seu comportamento instável. É quando ela imerge em medicamentos e bebida. Trabalho que poderia muito bem ter sido levado às telonas e arrancado suspiros em festivais, Fassbinder explora na tela da televisão a arte de seu cinema, subvertendo a telinha a uma trama psicológica impecável. – por

 

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Gia: Fama e Destruição (Gia, 1997)
Angelina Jolie migrou oficialmente do status de atriz promissora para o time A de Hollywood em poucos filmes, e Gia: Fama e Destruição foi definitivamente aquele que a proporcionou tal transição. Produção da HBO com direção do ator e cineasta Michael Cristofer – que voltaria a trabalhar com ela em Pecado Original (2001) – a cinebiografia da controversa supermodelo Gia Marie Carangi ainda vale sua sessão e vai muito além dos estigmas negativos que marcavam os telefilmes nos anos 1990. Jolie extrapola as nuances e magnetismo da modelo bissexual e viciada em drogas num papel que flertava com sua própria vida tumultuada como celebridade em início de carreira, num desempenho elogiável que lhe rendeu o Globo de Ouro e o SAG Awards. Gia: Fama e Destruição ainda ganhou considerável sobrevida quando lançado em DVD, fosse pelas muitas qualidades do filme ou pelas copiosas cenas de nudez e lesbianismo entre Jolie e Elizabeth Mitchell. Interpretada por Mila Kunis em sua infância, Gia Carangi foi uma das primeiras supermodelos nos Estados Unidos e seu retrato é um filme que peca em alguns aspectos, mas é salvo por um soberbo elenco, centrado naquela que permanece como uma das maiores performances de Angelina Jolie. – por Conrado Heoli

 

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Bernard e Doris (Bernard and Doris, 2006)
A reunião entre dois grandes talentos sempre merece aplausos de alguma forma. No caso deste telefilme, ver Susan Sarandon e Ralph Fiennes numa estranha e gostosa relação de amizade patroa/empregado foi um dos grandes acertos do audiovisual da telinha. Aqui acompanhamos a história de Doris Duke (Sarandon), filha única de um grande nome da indústria do tabaco e considerada, por muito tempo, a mulher mais rica do mundo devido aos negócios da família. No início do filme do diretor Bob Balaban o público já é avisado: “parte do que se segue é baseada em fatos reais, parte não é.” A explicação se deve muito mais à imaginação dos roteiristas sobre o relacionamento de sete entre Doris e Bernard (Fiennes) e sua intimidade. Não há paixão envolvida, até pela sexualidade do mordomo, homossexual assumido. O que temos é uma obra sensível que relata a solidão de milionários que não sabem em quem confiar e, justamente, sua felicidade ao encontrar um amigo de verdade, ainda que seja alguém pago para lhe servir. O filme teve 26 indicações para prêmios, inclusive três para o Globo de Ouro, de Melhor Filme ou Minissérie para a TV, Melhor Atriz para Susan Sarandon e Melhor Ator para Ralph Fiennes. – por

 

Kevin Spacey, Dennis Leary

Recontagem (Recount, 2008)
Ainda que não seja um dos profissionais mais reconhecidos do mercado, Jay Roach é um nome ligado muito mais à comédia do que qualquer outro gênero. Você pode não lembrar dele, mas possivelmente já deu algumas risadas assistindo a Austin Powers: 000 Um Agente nada Discreto (1997) ou Entrando Numa Fria (2000), duas das produções mais conhecidas assinadas pelo cineasta. Por essas e outras, quando a HBO anunciou a produção do telefilme Recontagem, tratando da polêmica nas urnas que levou George W. Bush à Casa Branca, o anúncio de Roach como diretor parecia pouco inspirada. Ledo engano. O cineasta consegue dar muito ritmo e um senso de humor bem colocado nesta história bizarra que colocou toda uma nação em suspense ao esperar pela recontagem dos votos que, no fim das contas, dariam à família Bush mais uma chance de governar aquele país. Com elenco escolhido a dedo, com destaques para Kevin Spacey, Laura Dern, Denis Leary e Tom Wilkinson, o filme faz uma crônica sagaz a respeito daquele período e não deixa de criticar o sistema arcaico de eleições americano. Jay Roach acabou ganhando um Emmy pela sua direção e mostrou ter talento para histórias mais sérias, saindo da zona de conforto. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Você Não Conhece Jack (You Don’t Know Jack, 2o10)
O controverso Dr. Jack Kevorkian defendia a eutanásia, ou seja, o direito à liberdade de morrer. Este telefilme do diretor Barry Levinson proporciona perspectivas esclarecedoras e repletas de nuances a seu respeito. Na trama, o médico interpretado por Al Pacino enfrenta mundos e fundos contra as crenças e as desgastadas leis que limitam o humano, que fazem dele apenas massa de manobra, numa sociedade cada vez mais uniforme. Ser contra ou a favor da eutanásia é mais que uma questão religiosa, mais que acreditar-se pecador ou não. A visão que o filme nos oferece sobre Jack Kevorkian é a de um homem de personalidade complexa que acredita na importância de sua singular prática médica. Ele desafia a igreja e seus dogmas, as leis e suas brechas, não por se achar acima de qualquer Deus ou da sociedade, mas por crer que ninguém tem o direito de sufocar a individualidade e perpetrar o sofrimento, em nome do que seja. Mesmo, inevitavelmente, tomando partido da causa de Kevorkian, o filme coloca o dedo na ferida. A discussão acerca da morte assistida nele contida é desafiadora, dificilmente passando despercebida ou possibilitando neutralidade. – por Marcelo Müller

 

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Virada no Jogo (Game Change, 2012)
Não tem título mais irônico nos atuais filmes políticos do que este que retrata a corrida presidencial dos EUA em 2008. Se Obama já surgia como favorito, talvez não fosse difícil apontar a derrota do adversário, John McCain. Porém, o problema não estava nele, e sim em sua vice, a totalmente despreparada Sarah Palin. No longa baseado no livro homônimo dos jornalistas John Heilemann e Mark Halperin, acompanhamos os sessenta dias de campanha do candidato oposto ao atual presidente, da sua escolha de vice até a derrocada nas urnas. Se a veracidade do longa já chama a atenção com imagens documentais de entrevistas e debates, é a figura da então governadora do Alasca que faz o espectador entender que nem sempre um fenômeno midiático (Palin ganhou fama no Youtube com seus discursos) pode garantir bons resultados. Na pele da candidata, Julianne Moore entra de cabeça em sua personificação, seus trejeitos, simpatia ingênua e, especialmente, em sua ignorância de não ter conhecimentos básicos de história e sequer política. Longe de um retrato caricato, a obra de Jay Roach (ele novamente) tenta humanizar ao máximo a figura de sua protagonista, ainda que a personalidade da própria não ajude muito. Trabalho que rendeu à Moore diversos prêmios. – por

 

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Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra, 2013)
Caso parecido com o que houve com o excelente – e também listado aqui – The Normal Heart, Minha vida com Liberace foi um projeto inicialmente planejado por seu realizador para ir para os cinemas. Porém, Hollywood e suas produtoras que ainda pensam viver na década 1940, consideraram o projeto muito “gay” para o grande público. Um tipo de problema enfrentado por lançamentos em larga escala e de altos custos que apenas denunciam a importância e a urgência da feitura que projetos como esse aqui mesmo. Logo, foi a HBO e seu padrão praticamente cinematográfico, que aceitou bancar Steven Soderbergh e o elenco que trazia consigo nessa empreitada para reconstituir o relacionamento do famoso e extravagante pianista do título (vivido por Michael Douglas), com Scott Thorson (Matt Damon), seu amante muito mais jovem. Sucesso inconteste, o longa alcançou indicações e prêmios em diversas e reconhecidas cerimônias, como o Globo de Ouro, o Festival de Cannes, o Emmy, Sindicato dos Produtores e dos Atores também, provando que se houvesse sido bancado por qualquer uma das covardes produtoras que lhes negaram apoio no começo, teria trazido ao menos, algumas indicações ao Oscar também, isso se não descolasse um ou dois carecas dourados. – por Yuri Correa

 

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The Normal Heart (2014)
Importante produção televisiva dos últimos anos, o filme retrata o início da expansão da doença nos anos 1980 nos EUA, quando ela ainda era considerada “o câncer gay”. O foco é a luta de Ned Weeks (Mark Ruffalo), alterego de Larry Kramer, autor da peça de teatro original e que também assina o roteiro do filme. Ele é um dos criadores da organização Gay Men’s Health Crisis (GMHC), que busca combater a doença, mas encontra no preconceito da sociedade e no descaso do governo seus principais obstáculos. O mais interessante da narrativa não é a denúncia pela denúncia, mas sim trazer de forma mais inédita para o público em geral (especialmente o heterossexual) como o HIV conseguiu que a luta pelos direitos LGBT regredissem na década de 1980 após a libertação sexual da década anterior. A conclusão de The Normal Heart não indica finais felizes e nem é sua proposta. Afinal, mesmo com os tratamentos avançados que surgiram desde então para seu controle, o HIV ainda é uma doença que mata e causa temor. A produção ganhou o Emmy Awards de Melhor Telefilme, o que chama mais a atenção para um trabalho tão importante e que retrata um dos períodos mais obscuros da história LGBT no mundo. – por

 

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Beasts of No Nation (2015)
Primeiro filme oficialmente lançado pelo e no Netflix, o longa escrito e dirigido por Cary Joji Fukunaga retrata guerra civil na costa oeste africana longe dos clichês do gênero. Apesar da miséria estar presente a todo instante, não é ela o foco da história, especialmente de seu protagonista, Agu (Abraham Attah). Da infância feliz, ainda que com suas limitações, até o momento em que é separado da família e recrutado como soldado do exército de resistência do Comandante (Idris Elba). Ao não identificar o país e dar poucas informações sobre o conflito externo, o longa acerta seu alvo, que é justamente a guerra psicológica entre o Comandante e as crianças, especialmente Agu, e como o treinamento diário transforma inocentes em máquinas de combate quase sem sentimentos. A trajetória do protagonista é triste e realista. Uma denúncia urgente sobre os horrores aos quais os pequenos estão submetidos em meio a qualquer guerra, resultando na perda da inocência e no crescimento do ódio como discurso. Um dos melhores trabalhos do ano até agora e que bate muito filme que estreou apenas nas grandes salas. – por

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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