Vampiros e cinema tem uma relação muito estreita e também bem complicada. Para cada Nosferatu (1922) ou Drácula de Bram Stoker (1992) há longas do naipe da Saga Crepúsculo. Mas tudo bem. O que importa é que, feios ou bonitos, assustadores ou não, os representantes de dentes caninos sempre chamam a atenção do público para as lendas dos apaixonados por sangue. Esta semana chega às telas Drácula: A História Nunca Contada, novo filme de drama e ação que, apesar da recepção fria, tenta voltar suas atenções às origens do personagem com Luke Evans no papel principal. Por conta disso, a equipe do Papo de Cinema resolveu elencar os dez melhores – ou divertidos – filmes sobre vampiros que já passaram pelas telas. Será que o seu está aqui? Confira!
Nosferatu (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, 1922)
Deixe de lado os vampiros bonitinhos da Saga Crepúsculo. Neste que é um dos marcos do expressionismo alemão, o Conde Orlok (ou Drácula, se preferirem) não é uma figura bela de se olhar. Na clássica versão de F. W. Murnau, o personagem é a legítima representação de um monstro: orelhas e dentes pontiagudos, esguio, narigudo, calvo. Ele realmente é uma criatura da noite. Sua chegada é anunciada recheada de simbolismos através de uma embarcação. O quadro é um triangulo em que Nosferatu e o barco parecem se fundir. E é através deste barco que anuncia-se a chegada da morte. Tentou-se os direitos autorais da obra de Bram Stoker para esta adaptação, mas a tentativa não deu certo. Por isto o filme é baseado de forma livre na história do autor, com nomes de personagens alterados, porém sua essência continua a mesma. E a força da narrativa aliada a suas imagens tenebrosas nem quase um século depois conseguiu se esvair. Obra-prima sobre vampiros de valor inestimável. A dedicação do ator Max Schreck foi tanta que inspirou o ótimo A Sombra do Vampiro, que questionava se o intérprete não era um Nosferatu de verdade. Pelo papel, Willem Dafoe foi indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante. – por Matheus Bonez
Drácula (1931)
A primeira adaptação do romance de Bram Stoker foi levada às telas ainda nos primórdios do Cinema, em 1921, na Áustria. Tratava-se, no entanto, de um projeto apenas inspirado na criação do autor, e Drakula Halála não é mais do que uma mera curiosidade hoje em dia. No ano seguinte, no entanto, F. W. Murnau realizaria Nosferatu (1922), uma das versões mais marcantes da história, tendo em vista as devidas liberdades do cineasta em relação ao texto original. Porém, seria apenas na década seguinte que a história do vampiro galanteador, um conde misterioso em busca de um amor perdido no passado e, ao mesmo tempo, sedento por sangue, seria concretizada nas telas da forma mais fiel até então. Tod Browning seria o responsável por dar à Bela Lugosi o papel que o tornaria imortal, criando um personagem com todos os trejeitos e posturas que ficariam associados para sempre à essa criatura. Os profundos olhos negros, os cabelos lisos, a capa sorumbática, o fraque impecável, o jeito sedutor e os caninos vorazes se repetiriam inúmeras vezes com o passar dos anos e nos mais diversos tipos de projetos, porém nunca tão intenso e marcante como neste verdadeiro clássico silencioso. – por Robledo Milani
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers, 1967)
Roman Polanski não é conhecido por comédias, mas tem em A Dança dos Vampiros um inspirado filme do gênero, que utiliza dos clichês das produções de terror para fazer rir. Na trama, o professor Abronsius e seu fiel ajudante Alfred estão à procura de perigosos vampiros na Transilvânia. Chegando a uma inóspita estalagem, logo desconfiam da presença das criaturas da noite. Enquanto Abronsius só pensa em capturar vampiros, Alfred não tira seus olhos da bela Sarah, filha única do dono da hospedagem. Quando o terrível Conde von Krolock rapta a moça, os dois caçadores de vampiros terão de ir ao encalço do vilão. Polanski também atua no filme e interpreta com acertado nervosismo seu personagem, um rapaz que segue os passos de seu mestre, mas tem outras preocupações em mente – leiam-se, mulheres. Jack MacGowran, por sua vez, se mostra confortável ao interpretar uma caricatura, um homem mais velho e completamente obcecado por dois assuntos apenas: vampiros e sua própria pessoa. O desenho de produção do longa-metragem é um grande acerto. Desde a estalagem, construída de forma rústica, com madeiras e móveis baratos, até a mansão dos vampiros, com o requinte esperado de uma rica propriedade, chama a atenção pelo capricho. Os figurinos, principalmente os do baile, são de encher os olhos. E a fotografia, utilizando muito bem o branco da neve em contraste com as escuras noites da Transilvânia, fazem de A Dança dos Vampiros um programa bonito de se ver. – por Rodrigo de Oliveira
Fome de Viver (The Hunger, 1983)
Pós-punk, gótico, sangrento. Fome de Viver é isso e muito mais. Dirigido pelo cineasta Tony Scott, este longa-metragem é praticamente uma antítese do que o diretor faria no futuro. Scott ficaria famoso por longas-metragens de ação com montagem acelerada e Fome de Viver é tudo, menos acelerado. A trama, cheia de atmosfera, dá tempo ao espectador para entender as personalidades daquela dupla macabra formada pelos ótimos David Bowie e Catherine Deneuve. Na história, assinada por Ivan Davis, vampiros tem data de validade. Não vivem eternamente jovens e belos como diversos livros pregam. A personagem de Deneuve, Mirian, suga sua juventude de seus amantes e John (Bowie) é o próximo da lista. Tentando evitar o envelhecimento rápido, o vampiro procura a doutora vivida por Susan Sarandon, que acaba presa na teia da bela Mirian. Com uma inesquecível abertura com a banda gótica Bauhaus, tocando a soturna Bela Lugosi’s Dead, Fome de Viver tem na trama e na edição bem bolada grandes predicados. Além, claro, da boa trinca de atores que defendem seus papéis com unhas e (principalmente) dentes. – por Rodrigo de Oliveira
Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker’s Dracula, 1992)
Francis Ford Coppola vinha da problemática realização de O Poderoso Chefão 3 (1990) quando decidiu voltar às origens realizando um antigo sonho: a versão mais fiel possível do maior vampiro de todos, seguindo exatamente os passos idealizados por seu autor, Bram Stoker. O criador do personagem foi parar no título da obra, mas o que se percebe na tela é o último suspiro de genialidade de um dos grandes cineastas do século XX. Da escolha do elenco – Gary Oldman é o protagonista perfeito, Winona Ryder e Anthony Hopkins entregam exatamente o que se esperava deles, e Keanu Reeves foi uma aposta arriscada, porém certeira – à recriação técnica do universo imaginado pelo escritor – com Figurinos, Maquiagens e Efeitos Visuais vencedores do Oscar, além da belíssima Direção de Arte, também nominada – tem-se um conjunto absolutamente irretocável, que nestes mais de vinte anos após o seu lançamento permanece em um lugar de honra dentro todas as adaptações do gênero. O resultado foi tão positivo que Coppola decidiu seguir investindo na temática, e em seguida lançou – porém apenas como produtor – outra revisão de um clássico: Frankenstein de Mary Shelley (1994). Mas os tempos já eram outros, e a magia já não pode ser recriada com tamanha exatidão. Infelizmente. – por Robledo Milani
Entrevista com o Vampiro (Interwiew with a Vampire, 1994)
Baseado no livro homônimo de Anne Rice, Entrevista com o Vampiro acompanha a trajetória de sofrimento vivida (ou morto-vivida) por Louis (Brad Pitt), transformado em vampiro ainda no século XVIII, que luta contra a própria natureza predatória, além de sentir de maneira dolorosa a passagem do tempo. Assim, segue na contramão de seu algoz, Lestat (Tom Cruise), que se regozija da superioridade dos vampiros, seres que podem e, segundo ele, devem mover-se apenas para suprir os próprios desejos, sem preocupações filosófico-existencialistas que os reaproximem da condição humana. Louis busca significados, num conflito interno que ultrapassa o comum “penso logo existo”, já que a vida para ele deixou ainda mais de ser óbvia enquanto conceito e experiência. Entrevista com o Vampiro é, talvez, o filme que melhor expressa um dos possíveis tormentos vampirescos, caso vampiros existissem de fato, é claro, afinal como superar a aflição diária da imortalidade, ou seja, sendo ao mesmo tempo alheio e inexoravelmente afetado pelo ciclo de vida e morte? – por Marcelo Müller
Drácula: Morto, mas Feliz (Dracula: Dead and Loving It, 1995)
Depois de realizar a sua hilária versão do monstro mais famoso da história da literatura em O Jovem Frankenstein (1974), Mel Brooks traz o vampiro mais clássico da mesma nesta que não é uma comédia tão memorável, mas que, como a maior parte de sua obra, é igualmente divertida. E como não? O próprio Brooks entra em cena aqui como o Dr. Van Helsing, e fora isso temos ninguém mais do que Leslie Nielsen como o Conde Drácula. De piadas envolvendo a sombra do vampiro, quedas e desastres, até os trocadilhos e tiradas rapidas, todo o roteiro traz o cineasta para terreno conhecido; são as gags visuais como a quantidade absurda de sangue quando o herói tem de matar alguém, e também são as brincadeiras nonsense como a da camponesa que treme a voz para falar fantasmagoricamente. Saudades de Nielsen e seu peculiar timing cômico, como Drácula ou Frank Drebin. – por Yuri Correa
Deixe Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, 2008)
Quando os vampiros estavam mostrando certo desgaste no cinema, o sueco Deixe Ela Entrar chegou para deixar claro que essas criaturas ainda eram capazes de render obras admiráveis. E que filmaço! Adaptação do livro de John Ajvide Lindqvist (que veio a escrever o roteiro), Deixe Ela Entrar nos apresenta a Oskar (Kåre Hedebrant), jovem tímido e que sofre bullying na escola. Mas sua vida muda quando ele conhece Eli (Lina Leandersson), sua nova e misteriosa vizinha, com quem inicia uma amizade incomum, já ela vem a ser uma vampira. Tratando a história e seus personagens de maneira bastante adulta, o diretor Tomas Alfredson cria uma narrativa sutil e de atmosfera constantemente tensa e angustiante, algo que encontra reflexo no próprio clima congelante que domina as locações. Enquanto isso, a amizade entre os dois protagonistas (brilhantemente interpretados por Hedebrant e Leandersson) é construída com uma surpreendente sensibilidade, sendo responsável por boa parte da eficiência do filme. Aclamado em seu lançamento, Deixe Ela Entrar quase que imediatamente ganhou um remake em Hollywood, Deixe-Me Entrar (2010), estrelado por Chloë Grace Moretz e Kodi Smit-McPhee, que é uma versão respeitável, apesar de não tão boa quanto a original. – por Thomás Boeira
Sede de Sangue (Bakjwi, 2009)
O sul-coreano Sede de Sangue tem um enredo insólito. Nele, o padre Sang-hyeon (Song Kang-ho) se torna voluntário de uma bateria de testes com vacinas experimentais para o combate de um novo vírus letal. Algo sai errado e ele morre, para logo depois voltar à vida (ou não) em virtude de uma transfusão de sangue cuja procedência é desconhecida. A fome voraz e quase insaciável por sangue humano não deixa dúvidas: Sang-hyeon virou mesmo um vampiro. Sua necessidade de matar para alimentar-se, para subsistir, está, a partir daí, em constante choque com sua fé, com os preceitos sobre os quais fundamentou a própria vida até então. Mas não é só isso, pois outro gesto seu, a priori também altruísta, acarreta a criação de um grande problema: a vampira que não encontra na religião, ou mesmo em ditames morais/éticos, qualquer freio à sua compulsão por matar. Park Chan-wook, cineasta mais conhecido por sua Trilogia da Vingança (Mr. Vingança, 2002, Old Boy, 2003, e Lady Vingança, 2005), faz em Sede de Sangue uma alegoria completamente alinhada ao seu cinema: visualmente forte e sem medo de ir fundo no grotesco do comportamento humano. – por Marcelo Müller
Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013)
Na fantástica ficcional, a reinvenção da simbólica vampiresca é tão constante quanto sua recorrência cinematográfica. Porém, mesmo tendo sua essência preservada na maioria dos longas, muitos vampiros remodelados viram pó sem deixar rastro de sua existência fílmica insignificante. Não é o caso de Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), dois sobrenaturais eruditos criados pelo peculiar Jim Jarmusch. Parceiros seculares (em ambos os sentidos), o duo testemunha o longo caos evolutivo humano constantemente marcado por erros e absurdos, apenas eventualmente iluminado por pontos de luz emitidos por um seleto grupo de gênios – aos quais os amantes idolatram como deuses. Situada entre a decadência fantasmagórica de Detroit e a efervescência exótica do Tanger, a pregnante história de Adam e Eve não é de horror, mas de amor. Um amor de um pelo outro, sim, mas principalmente pela arte e pela ciência, as duas principais esferas de conhecimento que separam os grandes homens e os momentos definitivos da cultura de uma massa humana virótica incontrolável, mais empenhada no declínio da civilização do que na sua perpetuação. Em uma obra em que não se ouve a palavra vampiro em momento algum, talvez os humanos sejam o tema principal. – por Danilo Fantinel
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