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20150807 arte top 10 festival de gramado papo de cinema home

Começa hoje a 43ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na serra gaúcha. Em mais de 40 anos e vencedores, diversas obras primordiais do cinema latino americano foram exibidas e premiadas com kikitos, marcando a filmografia nacional, especialmente. Hoje a mostra pode não ter o glamour ou a organização de antes, em que todos os holofotes nesta época do ano ficavam em cima das celebridades e artistas que desciam ao sul brasileiro com casacos de lã para aguentar o gelo serrano, mas Gramado ainda é referência para muitos quando se trata de festivais brasileiros. Por isso, a equipe do Papo de Cinema resolveu dividir o Top 10 desta semana e da próxima escolhendo, separadamente, os melhores filmes latinos e brasileiros. É destes últimos que falaremos agora. Será que o seu favorito está por aqui? Confira!

 

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Toda Nudez Será Castigada (1973)
Fruto da parceria entre Nelson Rodrigues e Arnaldo Jabor, Toda Nudez Será Castigada remonta a peça rodriguiana, apelando para todos os lugares comuns da mitologia do Anjo Pornográfico em um modo que compreende muito mais conteúdo inteligente do que o movimento da Pornochanchada da época. Darlene Glória faz a mulher de programa Geni, que consegue capturar a atenção e tesão de Herculano, feito por Paulo Porto, que por sua vez, é um viúvo desconsolado. Os temas de depressão e depravação se misturam, em um roteiro sincero, que não trata o público de modo imbecilizado, ao contrário, pois rasga a cartilha de conservadorismo moralista presente no ideário do brasileiro. A pecha de reacionário, entregue a Rodrigues por ele mesmo, se prova uma doce contradição, que faz perguntar se seria uma ironia, especialmente pelo drama bastante sangrento visto na teatral abordagem, premiada em Gramado por sua condição bela de retratar a realidade sem filtros. A coragem em por como protagonista um homem apaixonado por uma prostituta é de uma audácia que certamente merece louvor, ainda mais em tempos de discussão de status quo como era em 1973. – por Filipe Pereira

 

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Pra Frente, Brasil (1982)
Realizado em meio ao fim da Ditadura Militar, Pra Frente, Brasil evoca a identidade do cidadão brasileiro, apelando para uma romântica faceta intervencionista, vista poucas vezes na rotina do cidadão médio tupiniquim. De uma só vez o diretor Roberto Farias consegue referenciar dois lados distintos da clássica luta começada nos anos sessenta no Brasil, aludindo ao lema dos militares, que evoca a soberania de uma nação que não permite contestações, além do acidental envolvimento dos irmãos vividos por Reginaldo Faria e Antônio Fagundes, que simbolizaria a rebeldia. Apesar de premiado em Gramado, a exibição do filme foi rapidamente interrompida, “graças” à proibição dos censores. Há detalhes bastante agressivos sobre os métodos utilizados pelos poderosos, incluindo a tortura aos ditos opositores do regime. O longa não tem medo de exibir sangue, suor e os desmandos autoritários dos militares, justificados sob a égide de uma justiça torta, além de, claro, mostrar o drama dos inconformes, que buscavam uma outra alternativa de país. – por Filipe Pereira

 

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Sargento Getúlio (1983)
Vencedor do Kikito de Melhor Filme em 1983 e baseado na obra de João Ubaldo Ribeiro, esta produção é um verdadeiro tour de force de Lima Duarte interpretando o papel-título. Acompanhamos a trajetória do personagem, seus pensamentos, suas angústias e agruras durante uma missão aparentemente fácil, se transformando em um verdadeiro faroeste nordestino. Com direção de Hermano Penna, o filme conta a história de Getúlio, sujeito que recebe a incumbência de levar um prisioneiro, desafeto político de seu chefe, do pequeno povoado de Paulo Afonso, na Bahia, para a capital do Sergipe, Aracaju. Ele embarca na viagem ao lado de seu amigo Amaro (Orlando Vieira), mas no meio do caminho, descobre que as ordens mudaram e que o destino daquele refém não poderá ser o mesmo. Não acreditando nesta contraordem, o protagonista resolve levar a cabo sua missão, nem que para isso morra tentando. Carregando nas costas o filme, Lima Duarte convence como um sujeito perigoso, que não leva desaforo para casa. Acompanhamos a espiral de desespero do personagem e todas as suas dúvidas. Pela performance, o ator recebeu diversos prêmios, dentre eles o kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Anjos do Arrabalde (1987)
A relação entre o Festival de Gramado e o saudoso Carlão Reichenbach não surgiu de uma hora para outra. A primeira passagem do cineasta gaúcho radicado em São Paulo pelo evento serrano foi com Extremos do Prazer (1984), que ganhou o Prêmio Especial do Júri. Voltaria depois com Filme Demência (1986), premiado como Melhor Direção, Ator Coadjuvante (Emilio Di Biasi), Atriz Coadjuvante (Imara Reis), Montagem e Júri da Crítica. Mas a maior conquista veio no ano seguinte, com este belo trabalho estrelado por uma de suas parceiras mais constantes: Betty Faria. Como uma professora do subúrbio de São Paulo, ela conduz uma história feminina e bastante sensível, mas sem nunca deixar de lado a cara e a coragem ao abordar temas até hoje pertinentes, como a vida amorosa, familiar e profissional. Assim, deu face a tantas mulheres espalhadas pelo país inteiro e que quase nunca eram – ou ainda são – ouvidas, em um conto de esperança e sobrevivência. Merecidamente reconhecido com o kikito de Melhor Filme da décima quinta edição, ganhou ainda as estátuas de Melhor Atriz – prêmio que Betty dividiu com Marília Pêra, por Anjos da Noite – e Atriz Coadjuvante, para Vanessa Alves. – por

 

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A Dama do Cine Shanghai (1987)
Vencedor de sete prêmios no Festival de Gramado de 1988, incluindo o de Melhor Filme, esta produção de Guilherme de Almeida Prado talvez seja um dos poucos casos brasileiros onde uma produção premiada e reconhecida pela crítica em festivais tenha sido um sucesso de bilheteria. A trama já é de apelo público. Ao embarcar no suspense com ares hitchockianos (o homem errado perseguido, a femme fatale misteriosa, o McGuffin), o cineasta não só faz uma homenagem ao cinema noir e ao mestre do suspense como entrega um produto de inegável valor estético na cinematografia nacional, com composições de luzes e sombras aliadas à uma decupagem quase perfeita. Na história, Antônio Fagundes é Lucas, um homem que vai a uma noite qualquer ao cinema e encontra a intrigante Suzana (Maitê Proença, belíssima como nunca e numa interpretação intensa). Eles flertam, ela vai embora. Consequentemente, voltam a se encontrar diversas vezes, enrolando o protagonista numa trama de mortes e jogos sensuais até ele se dar conta que a mulher tem muitas semelhanças com a personagem do filme ao qual eles assistiram. De Um Corpo que Cai (1958) a Psicose (1960), o que não falta é Alfred Hitchcock emulado nas telas. Um trabalho de alta qualidade que foi devidamente reconhecido. – por

 

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Festa  (1989)
A realização do diretor Ugo Giorgetti fez a limpa no Festival de Gramado de 1989, levando para casa os Kikitos de Melhor Ator (Antonio Abujamra empatado com Adriano Stuart), Figurino, Edição de Som, Roteiro e Melhor Filme. Ainda por cima, ganhou o prêmio da crítica. Injustamente pouco lembrado nos dias de hoje, boa parte em virtude da turbulência atravessada pelo cinema brasileiro na época de seu lançamento, este filme se passa num único cenário, os bastidores de uma festa endinheirada que será animada por um tocador de gaita, um jogador de sinuca e seu velho assistente. Embora Giorgetti afirme não se prestar a metáforas, difícil evitar analogias entre as dinâmicas dos personagens e as tensões de classe. Mesmo sem um discurso inflamado ou ideologias hasteadas como bandeiras, na antessala da celebração se vê todo um movimento, sobretudo de empregados, que deflagra as diferenças mais claras entre quem tem e quem não tem grana, entre quem espera ser chamado e quem chama na hora que bem entender. Um filme no qual a comédia está a serviço da observação, da constatação, mas também do entretenimento. Além de reflexivo, é divertido e engraçado. – por Marcelo Müller

 

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Durval Discos (2002)
Em seu longa de estreia, a paulistana Anna Muylaert já mostrava porque se tornaria um grande nome do cinema nacional. O filme, vencedor de sete Kikitos, se situa em 1995, ano derradeiro da produção de discos de vinil no Brasil, e acompanha a rotina de Durval (Ary França) dono de uma loja de LP’s que se recusa a aceitar a invasão dos CD’s. Durval mora com a mãe idosa (Etty Fraser) e um dia resolve contratar uma empregada para ajudá-la com a casa. Logo de cara, a moça (Letícia Sabatella) desaparece, deixando uma garota que diz ser sua filha aos cuidados de Durval e sua mãe. Com um olhar nostálgico, Muylaert realiza um filme tecnicamente impecável (o plano-sequência inicial que apresenta os créditos é um belo exemplo) que capta a pluralidade da cidade de São Paulo em seus detalhes. É bem verdade que a virada do roteiro, que transforma a comédia inicial em uma espiral kafkiana com toques de suspense, não surge tão natural quanto poderia e exige certo nível de suspensão de descrença. Mesmo assim, qualidades como o ótimo elenco e a sublime trilha sonora ajudam a amenizar os defeitos de uma obra que possui um fascínio inegável. – por Leonardo Ribeiro

 

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Bróder (2010)
À primeira vista, esta produção pode ser classificada como “mais um filme de favela”, como muitos detratores do cinema nacional adoram falar. A primeira cena até lenbra Cidade de Deus (2002), com três jovens fugindo. Será que da polícia ou de traficantes? No fim, nem um, nem outro. Seguimos a história de Macu (Caio Blat), morador do Capão Redondo, bairro da periferia de São Paulo. Prestes a se envolver no sequestro de uma criança, ele é surpreendido com a festa de aniversário organizada pela mãe (Cássia Kiss). Entre os convidados, os dois melhores amigos de infância, Jaiminho (Jonathan Haagensen), agora jogador de futebol, e Pibe (Silvio Guindane), que tem um filho e trabalha o dia inteiro. Filme de estreia de Jeferson De, um dos poucos cineastas negros com reconhecimento nacional, Bróderobviamente, não foge das questões raciais e sociais no contexto brasileiro, mas vai muito além. Ao colocar o protagonista branco que se comporta como “o mano”, algo que, de forma geral, sempre é atribuído a negros no cinema, o cineasta inverte papeis para discutir temas tão relevantes. Acima de tudo, relata uma amizade forte e de química inabalável, especialmente quando se mostra o esforço dos dois amigos mais “bem sucedidos”, assim digamos, que querem retirar o renegado do tráfico. Realista e emocionante na mesma medida. – por

 

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Uma Longa Viagem (2011)
Em um momento em que a sociedade coloca em pauta a busca por diversidade e por cada vez mais espaço para as mulheres atrás das câmera, é feliz notar que uma das mais proeminentes diretoras do nosso cinema, Lúcia Murat, tem seus trabalhos reconhecidos por mostras e festivais como Gramado. Murat tem como marca abordar com propriedade a ditadura militar, pois vivenciou esses anos na pele. Um filme emotivo e pessoal, a diretora traz em Uma Longa Viagem três jornadas, a sua própria e de seus dois irmãos. Enquanto a diretora se manteve presa durante a ditadura, seu irmão Heitor viajou pelo mundo experimentando de tudo um pouco e é nele o foco maior do filme. Se valendo de projeções, monólogos e cartas interpretadas por Caio Blat e ainda, entrevistas de Lúcia com Heitor, ela sai em busca das lembranças, memórias e das lacunas que acabou perdendo da convivência com seus familiares durante esse período. Belo e emocionante, a colagem de suportes, fontes e viagens fazem de Uma Longa Viagem um dos melhores trabalhos da filmografia da diretora e entre os premiados do 39º Festival de Gramado. – por

 

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Tatuagem (2013)
Vencedor dos prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator (Irandhir Santos) e Melhor Trilha Sonora (DJ Dolores) no Festival de Gramado, Tatuagem logo caiu nas graças da crítica e também do júri do Festival do Rio, que o laureou com outras quatro importantes distinções. O drama produzido em Recife marca a estreia na direção do incensado roteirista Hilton Lacerda, mais conhecido pelos filmes Amarelo Manga (2002), Baixio das Bestas (2006) e A Festa da Menina Morta (2008). Estas e outras honrarias não poderiam ser mais justificadas, considerando o sopro de originalidade e ousadia que Tatuagem ofereceu ao cinema brasileiro contemporâneo. Ambientado na Recife do fim dos anos 1970, o filme segue Clécio Wanderley e sua trupe teatral Chão de Estrelas, que se vale do deboche, da nudez e de números musicais inesquecíveis para criticar a repressão militar em plena ditadura brasileira. Com a interpretação pungente de Irandhir Santos e as impressionantes revelações de Rodrigo Garcia e Jesuíta BarbosaTatuagem é um dos maiores filmes nacionais em muito tempo, que dificilmente será esquecido ou terá sua irreverência superada por outra obra que arrebate merecidamente tantos Kikitos. – por Conrado Heoli

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