Chega aos cinemas esta semana Malévola (2014), releitura de A Bela Adormecida (1959) sobre a origem de uma das maiores vilãs dos contos de fada e das animações da Disney. Estúdio, aliás, que sempre entrega vilões ora cômicos, ora extremamente maléficos ou com ambas características reunidas como já visto em tipos do naipe de Yzma, de A Nova Onda do Imperador (2000), o Príncipe João, de Robin Hood (1963), ou Frollo, de O Corcunda de Notre Dame (1996). Com um rol tão extenso de maquinações e afins, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger os dez melhores vilões da história da Disney. Aqui, elencados em ordem cronológica para que ninguém possa reclamar que seu favorito esteja preterido. Confira!
Rainha Má, de Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937)
Rainha Grimhilde ou, simplesmente, Rainha Má, a vilã de Branca de Neve e os Sete Anões (1937), é uma das grandes referências de todos os tempos a esse papel e traz consigo o simbolismo da entrega da maçã e, consequentemente, de forma quase bíblica, do pecado, para a mocinha, Branca. Repleta de ícones marcantes, como o espelho mágico, a personagem se constrói em cima da inveja pela beleza de uma alva garota. Com seu ego abalado, ela decide acabar com a tal. Dentre tantas adaptações desta história dos Irmãos Grimm para as telas, é importante destacar uma excepcional e que nem foi entregue pelos estúdios Disney: Branca de Neve e o Caçador (2012) traz, através da interpretação de Charlize Theron, uma rainha de mais profundidade. – por Renato Cabral
Lady Tremaine (ou A Madrasta), de Cinderela (Cinderella, 1950)
Mais difícil do que lidar com a ausência de amor, é sobreviver à presença do ódio. E no caso de Cinderela, o ódio tem nome e rosto: Lady Tremaine. Mais conhecida como A Madrasta, de expressões duras e postura rígida, Tremaine comanda os dissabores da pobre garota, que ainda sofre com a falsidade e a concorrência de Anastasia e Drizella, suas irmãs adotivas. Movida pelo ciúme da beleza de Cinderela e em busca de um poder irrestrito, a Madrasta persegue a jovem impiedosamente, submetendo-a aos trabalhos mais duros e aos tratamentos mais desumanos. Apesar da Disney contar com um histórico impressionante de bons vilões, Lady Tremaine tem um diferencial: é o mal que não vem de fora. A sua posição a permite comandar as ações de dentro da família, aquele que poderia ser o último refúgio da protagonista. Desamparada, Cinderela se vê cercada por Lucifer, o gato de Tremaine. Mas que bem poderia ser o apelido do seu coração. O que será reservado à personagem na pele de Cate Blanchett no longa programado para 2015? – por Willian Silveira
Rainha de Copas, de Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 1951)
Ela, talvez, não seja uma das vilãs mais conhecidas do universo cinematográfico da Disney. Porém, com certeza é uma das que guarda o maior grau de complexidade simbólica e funcional. A Rainha de Copas é a algoz de Alice no País das Maravilhas. Dentro do mundo subterrâneo em que a criança se perde, é a imperatriz do reino onírico que Lewis Carroll nos apresenta e o estúdio impecavelmente adapta. Assim como nos escritos do autor, o universo que Alice entra tipifica paradoxalmente as circunstâncias tanto infantis quanto adultas da sociedade inglesa durante a Era Vitoriana. Então, a Rainha de Copas, consequentemente, traduz a percepção do autor para dois pontos. Primeiro: sobre a própria Rainha Vitória, ao mostrar a impulsividade e a dúbia rigidez moral da monarquia nos exageros e inconsequências da personagem. “Cortem a cabeça”, brado repetido tantas vezes, revela esse conceito. Segundo: é a particular ótica que o autor mostra sobre a feminilidade adulta. Apesar de não haver confirmação, todos os indícios históricos apontam que Carroll possuía uma personalidade pedófila. A única mulher adulta da trama expõe aqueles detestáveis traços, se distanciando por completo da inocente beleza de Alice. Saber disso justifica a presença da Rainha de Copas nessa lista. – por Eduardo Dorneles
Capitão Gancho, de Peter Pan (Peter Pan, 1953)
O Capitão James Gancho (originalmente James Hook) é um dos vilões mais marcantes do universo Disney, ainda que não seja de fato criação da casa de Mickey, mas, sim, oriundo de uma peça teatral escrita por James Matthew Barrie. O comandante do navio Jolly Roger, embarcação ancorada numa parte da Terra do Nunca, tem como inimigo o menino que não quer crescer, Peter Pan, bem como os chamados “garotos perdidos”, por quem tem verdadeira obsessão. Se o Capitão demonstra fúria incontrolável contra seus oponentes e falta de piedade até mesmo com sua tripulação, volta e meia ele se vê refém de certo remorso ou algo que o valha, contradições que abrandam seu comportamento irascível, sobretudo quando próximo da menina Wendy. Lançado em 1953, Peter Pan é o décimo quarto longa-metragem de animação dos estúdios e traz o vilão na encarnação que muitos tomam como sendo a “verdadeira”, prova dos méritos do filme e de sua resistência ao passar dos anos. Portanto, pode-se dizer que, para a maioria dos espectadores, o verdadeiro Capitão Gancho é mesmo o da Disney. E quem há de censurá-los? – por Marcelo Müller
Malévola, de A Bela Adormecida (Sleeping Beauty, 1959)
Algumas das vilãs clássicas de contos de fada são motivadas por vaidade. Outras por poder. Mas Malévola é a única a condenar uma criança à morte apenas porque não foi convidada para a festa mais badalada do reino. Essa maldade “pura” é justamente o que a bruxa de A Bela Adormecida tem de mais aterrorizante e fascinante. Afinal, o que é a Malévola? Suas formas estão longe de serem humanas e seus poderes ultrapassam aqueles das fadas, que a temem. Sua história é tão obscura quanto as sombras em que habita. Só sabemos que se trata de uma criatura poderosa e perigosa, a antagonista mais temida de todos os clássicos Disney. É para explicar essas questões que Malévola, o tão aguardado filme, chega aos cinemas. Mas, independentemente do que a vilã vivida por Angelina Jolie trouxer de explicação para a Malévola que conhecemos, aquela do desenho, sem justificativa nem escrúpulos, segue sendo o suprassumo da maldade em qualquer reino encantado. Sem contar que ela sabe como fazer uma entrada triunfal como nenhuma outra… – por Dimas Tadeu
Cruella Cruel, de 101 Dálmatas (101 Dalmatians, 1961)
Ela fuma, dirige imprudentemente e maltrata animaizinhos. Cruella Cruel (ou De Vil, no original) é uma inimiga da moralidade e sua concepção visual não poderia ser mais apropriada: vestindo quase sempre um casaco de peles grosso e volumoso que a torna grande e imponente em tela, a vilã na verdade esconde sob a roupagem um corpo magro e frágil que denota o estado de sua personalidade. Obcecada por transformar uma patota de filhotes de dálmatas em um novo casaco, não é difícil entender porque a antagonista se tornou uma das mais populares do estúdio ao desfilar como uma crítica à vaidade excessiva. Em uma análise mais profunda, Cruella é a típica bruxa dos contos de fadas que precisa da alma de crianças para tornar a ela mesma mais jovem, ainda que apenas por fora. De feições cavernosas e com um humor instável, Cruella também justifica o pavor que exerce nas crianças – público alvo do longa-metragem – e no imaginário dos hoje adultos que um dia já se viram a mercê de suas maldades. Algo que Glenn Close reproduziu com exatidão – e bom humor – nas duas versões live action (1996 e 2000) da história. – por Yuri Correa
Úrsula, de A Pequena Sereia (The Little Mermaid, 1989)
Ela é obesa, feia, cheia de tentáculos, malvada e com uma eterna cara de nojo por trás do sorriso mais falso que de socialite decadente. Úrsula é uma mistura de tipos vítimas de bullying que acabaram por crescer e partir para “o lado negro da força”. Ora, por que, justamente, a única pessoa que não se encaixa no padrão de beleza do reino de Ariel e companhia está reclusa? Só por conta de sua vilania? Talvez. Chega a ser maléfica a mensagem subliminar contra os gordinhos nesta fábula da Disney. Ao se apropriar da bela voz da pequena sereia do título para se casar com o príncipe Eric, Úrsula revela uma complexidade muito maior como a busca por um companheiro e, principalmente, por aceitação – não só dos outros, mas de si. O que pode ser compreensível, mas nem por isso deixamos de torcer contra quando suas maquinações atingem Ariel. Afinal, ninguém mandou Úrsula trilhar “o caminho errado”. Vilão que quer ser vilão tem que arcar com as consequências. Algo que ela sente na pele. Ou escamas… – por Matheus Bonez
Gaston, de A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991)
A Bela e a Fera é um conto que basicamente mostra que não devemos julgar as pessoas por sua aparência, e sim pelo que elas são. Em meio a isso, a garota chamada Bela se torna prisioneira do amaldiçoado Fera, um príncipe que condenado a uma forma bestial e que não consegue controlar seu temperamento, mas aos poucos mostra ser dono de um bom coração. Ao mesmo tempo em que ela é cobiçada por Gaston, que acaba sendo o vilão ideal para a história. Diferente da Fera, Gaston é considerado o homem mais bonito da cidade, a ponto de as mulheres a sua volta suspirarem e caírem aos seus pés. No entanto, ele também é incrivelmente estúpido, egoísta e misógino, reprimindo o fato da protagonista ser uma jovem forte, inteligente e segura de si mesma. Ele deseja casar com ela porque se trata de uma garota lindíssima e que, portanto, merece ficar com alguém como ele. Ou seja, Gaston é formado por várias ideias que as pessoas condenam (ou ao menos deveriam condenar). Não é à toa que, em determinado momento do filme, Bela fale que ele é o verdadeiro monstro. – por Thomás Boeira
Jafar, de Aladdin (1992)
Jafar tem objetivos claros: poder e mais poder. Nada de novo, já que boa parte dos antagonistas busca dominar o mundo – no caso de Jafar, o seu universo particular: Agrabah, cidade governada pelo Sultão. O que difere o real vizir dos demais é sua adaptação às circunstâncias. Quando o plano de mandar o ladrãozinho de bom coração Aladdin em busca da lâmpada falha, logo Jafar bola outra artimanha para ascender. Um casamento com a filha do Sultão seria uma alternativa nada desagradável. Quando consegue colocar as mãos na lâmpada, governar Agrabah ou se tornar o feiticeiro mais poderoso do mundo não bastam. Ele resolve se adaptar novamente, alcançando a maior dádiva de todas: ser Gênio. Megalomania que acaba o prejudicando, como é possível acompanhar em Aladdin (1992). Sempre mancomunado com o ardiloso papagaio Iago, Jafar é o típico nêmesis que enriquece a jornada do protagonista, o desafiando na medida. Prova de sua importância é o regresso do vilão em Retorno de Jafar (1993), continuação que carrega o nome do antagonista, e o fato de as aventuras de Aladdin terem perdido muito em força com o esquecimento do arquiinimigo – tanto no seriado de tevê quanto no fechamento da trilogia, Aladdin e os 40 Ladrões (1996). – por Rodrigo de Oliveira
Scar, de O Rei Leão (The Lion King, 1994)
Pobre Scar… irmão mais novo do rei, vê suas chances de um dia subir ao trono virarem poeira com o nascimento do sobrinho, novo e legítimo herdeiro da coroa. Fraco e sem forças para um combate físico, durante toda sua vida fez do cérebro seu músculo mais valioso, e ao exercitá-lo descobre a engenharia necessária para, enfim, atingir seus objetivos. Porém esqueceu de algo básico: nesta vida, tudo que vai, um dia retorna. Baseado no clássico Hamlet, de Shakespeare, e em antigas lendas egípcias, O Rei Leão foi o filme de maior sucesso em todo o mundo no ano em que foi lançado, e por exatamente uma década manteve o posto de animação de maior bilheteria de todos os tempos. Além disso, ganhou dois Oscars, três Globos de Ouro – inclusive como Melhor Filme – e é até hoje lembrado com carinho por fãs e admiradores de todas as idades. Mas o que seria da jornada do pequeno Simba ao seu lugar de direito se não fosse o maquiavélico Scar? Eis o tio que lhe tirou tudo, entregando-o à morte, e que com muito charme, soberba e orgulho colocou tudo a perder. Uma obra destinada a se tornar clássica, com protagonista – e antagonista – à altura do seu reconhecimento. – por Robledo Milani