A Gis, de Thiago Carvalhaes

Publicado por
Marcelo Müller

45° FESTIVAL DE GRAMADO (17 a 26 de agosto)
O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. A sentença encerra este curta-metragem emocionante dirigido por Thiago Carvalhaes, feito em homenagem a Gisberta Salce, mulher transexual morta barbaramente em Portugal. Aliás, o filme começa com uma leitura dos pertences encontrados com seu corpo já falecido no fundo de um poço, após dias de tortura. Os episódios são devidamente relatados pela narração que, assim, corta o silêncio com uma verdade aterradora. O encadeamento de imagens e fatos torna a trajetória de Gis um exemplo da situação alarmante que aponta ao preconceito e à intolerância com a liberdade alheia. Thiago ouve amigos que comentam como era a vida de Gis antes dela cair na desgraça da rua. Ele dá voz, também, a parte da família. E como é triste ver o irmão, resignado, dizendo que amava Gis sem amar, de fato, o “que” ela era. A selvageria aplicada ao corpo da transexual brasileira ajudou a melhorar as leis concernentes às questões de gênero na terra dos nossos patrícios. Infelizmente, foi preciso que a violência ganhasse a manchete dos jornais para que alguns atentassem ao fato de que Gis era gente. O filme é um quebra-cabeça simples, porém engenhoso, que aparentemente privilegia o caráter informativo, mas que, na verdade, se dedica a sensibilizar o espectador.  O faz muito bem, sendo um convite às lágrimas, pelo menos aos mais sensíveis ao sofrimento alheio.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.