27° CINE CEARÁ (5 a 11 de agosto)
O cineasta Carlos Adriano parte aqui do texto Festejo Muito Pessoal, escrito pelo crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes, publicado postumamente. Adriano propõe uma releitura poética, feita da justaposição de fragmentos fílmicos, sonoros e de registros pessoais, para estruturar uma narrativa alegórica que rima com os pensamentos de um dos maiores profissionais da crítica cinematográfica brasileira, aquele a quem o cineasta François Truffaut considerava o autor mais feliz de uma biografia do colega Jean Vigo. Adriano utiliza trechos de obras citadas por Paulo Emílio no ensaio homônimo de seu filme, bem como de outras que a elas associa por proximidades estilísticas e/ou temáticas. O próprio Vigo é acessado como matriz em diversas passagens. Vencedor do prêmio de Melhor Curta-metragem do 27º Cine Ceará, ele havia antes sido exibido no É Tudo Verdade, o maior festival de documentários da América Latina, um dos maiores do mundo. Como lhe é peculiar, Adriano prefere o caminho do experimentalismo à construção de um percurso didático ou de linearidade facilmente reconhecível. Algo digno de nota, infelizmente porque exceção em nosso circuito comercial, foi a exibição de Festejo Muito Pessoal antes de algumas sessões de Como Nossos Pais (2017), longa-metragem de Laís Bodanzky, um verdadeiro corpo estranho que certamente pegou muita gente de surpresa, especialmente por seu ímpeto de poetizar utilizando imagens e sons.