20ª MOSTRA DE TIRADENTES (20 e 28 de janeiro) – Júri da Crítica
Neste curta-metragem há a contemplação, repleta de frescor, de uma juventude em pleno gozo da independência, na qual a indocilidade dos corpos se faz arma de resistência aos meios de coerção. Vando, o protagonista ausente por conta de uma ação policial, esta encenada pelos amigos que permanecem lutando para sobreviver aos olhares preconceituosos e castradores, gostava de assistir à Dragon Ball enquanto almoçava, segundo relata a mãe. Os remanescentes pintam o cabelo de amarelo em alusão a uma peculiaridade de determinados personagens do anime, mais poderosos quando loiros. Aliás, os sayajins, essas figuras que vêm de outro planeta, ficam mais fortes ao escaparem de um estado crítico. A meninada de Fortaleza vai à praia e fica elucubrando sobre o nada, divagando acerca dos buracos negros imaginários do mar enquanto o flerte acontece abertamente, sem barreiras. A diversidade sexual é, além de um estandarte dessa geração que enfrenta toda sorte de infortúnios para ter garantida a sua liberdade, uma bem-vinda contraposição ao conservadorismo vigente, à onda retrógrada que ameaça tornar o Brasil um país de hipocrisia institucionalizada. Os diretores Andréa Pires e Leonardo Mouramateus fazem da câmera uma ferramenta ativa de registro dessa aspiração humana e, portanto, genuína ao livre-arbítrio, ao direito inalienável de seguir o desejo, acima de qualquer suspeita, fundada ou infundada, de uma sociedade que regride a olhos vistos.
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